Desencontro

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[...]
Isn't it strange?
You look at me
I look at you
With nothing to say
Isn't it strange?
How people can change?
From strangers to friends
Friends into lovers
And strangers again?

Strange | Celeste

────── 𖤐 ──────

Se tem uma coisa que Ekko odiava era Zaun ser mal vista. Sempre sendo uma cidade taxada de suja e malcuidada, onde os habitantes eram tão porcos e sujos quanto seus trabalhos precários e, praticamente, escassos. Mas Ekko odiava ainda mais as pessoas que concordavam com este estereótipo. Principalmente os zaunitas; os próprios habitantes da cidade. E grande parte dessa fama vinha das gangues quimiopunks; dos Barões e Baronesas da Química e de muitos outros tipos de desastres — que Piltover dizia serem "naturais", mas todos sabiam a verdade. E, principalmente os Inx.

Ekko detestava cada um deles; desde o mais inofensivo — no caso, nenhum — até a dona do conceito de toda esta ideia idiota. Jinx.
Suportar era a palavra ideal; todas aquelas explosões, os tiros barulhentos, os gritos espalhafatosos. Ekko não sabia como, um dia, lhe aturara.

Ele odiava cada ideia retida à ela ainda em sua mente; odiava as lembranças de uma época uma vez boa. O pior de tudo? Ele não sabia como tinham ido parar ali.
Teria sido culpa dela? Teria sido culpa de Silco? Vi? Ekko não sabia, embora almejasse ter indícios de respostas, que ele tinha certeza que nunca conseguiria.

Talvez, em sua mente, se ele pudesse retroceder um pouquinho, poderia enxergar com clareza o que tinha acontecido para que eles terminassem como terminaram. Doía, doía bastante. Mas doía ainda mais ver onde todos os seus amigos tinham ido parar graças à ela. Jinx não era nenhuma santa, e nunca seria. Nada neste mundo faria Ekko perdoa-la por ter ido embora. Por tê-lo abandonado igual ela uma vez estava. Sozinho.

Se ele pudesse, se vingaria. Não sabia se teria coragem o suficiente, mas tentaria.
Na verdade, ele tentou.

— Vamos, garoto salvador. — gemeu Jinx ironicamente, deitada no chão sujo, o nariz escorrendo litros e litros de sangue.

Ekko segurava seu espetaco bem em frente ao rosto dela, ele também sangrava; seu braço tinha um arranhão e seu busto ardia. Mas ele não ligava. Estava com os olhos pregados nos de Jinx, que sorria maléfica.

— O que está esperando? — resmungou ela. — Vamos... acabe com isso.

Ele não conseguia. Sempre, em todas as chances que tinha de detê-la, ele congelava. Aqueles olho rosas, uma vez acinzentados sempre lhe voltavam aos pensamentos. As brincadeiras; aquela estúpida risada... ele não conseguia. Não conseguia deixá-la partir.

Com uma respirada funda e sofrida, Ekko andou para longe, irritado.

— Não. — exclamou. Ele não iria deixar as lágrimas escorrerem. Não era tão fraco assim. — Não farei isso.

Jinx sorriu. E então, aos poucos, o sorriso se transformou em uma risada. Uma risada alta e estridente.

— Você... você é um covarde. — disse ela, pondo intonação em cada sílaba que falava. Sentou-se e limpou o nariz sangrento. — Um fraco...

— Cala boca...

— ...Um garoto...

— Cala boca!

— ...que não consegue nem ao menos finalizar um trabalho simples...!

— Cala boca! — explodiu Ekko, sentindo cada nervo de seu corpo pulsar. — Cala a boca! Eu não sou um covarde!

— É, é sim! — disse Jinx à ele, pondo-se de pé. — Um garotinho assustado!

— E você é uma maluca! Uma pobre coitada que perdeu tudo e todos, e que não consegue lidar com os próprios problemas!

Ambos se calaram. Ekko não se arrependeu de nada do que disse. Pagaria milhões para ficar vendo aquela expressão no rosto de Jinx; afinal de contas, era ela a garotinha assustada.

— Eu não vou dar o que você quer. — continuou ele, cerrando os punhos. — Não vou matar você.

Jinx não respondeu. Sua boca estava curvada e sua testa franzida. Apesar de não falaram, era óbvio: nenhum deles queria se afastar. Estavam receosos e com medo um do outro. Nunca admitiriam, mas, quem sabe, também estavam dispostos a olharem mais um pouco um para o outro. E Ekko não poderia aguentar mais um segundo com ela ali. Ele não confiava em Jinx, e nem em si mesmo. Estava em dúvida se corria na direção dela para lhe abraçar, ou para lhe bater.

— Vá. — foi o que ele disse, ainda trocando olhares com ela. — Saia daqui.

Jinx pareceu processar a informação, confusa.

— Saia! — ele repetiu, apontando para longe. — Vá, antes que eu mesmo arraste você daqui!

Sem esboçar uma reação sequer, Jinx sorriu e assentiu. Dando alguns passos para trás, alcançou sua metralhadora — a qual Ekko teve o infortúnio de saber que se chamava Pow-Pow. Estupidamente ridículo. Porém adorável.
E então, antes que se desse conta, Jinx tinha sumido. Tudo o que restara ali era um Ekko confuso e desgastado. E com ninguém mais ali, vendo-o tão vulneral, ele pôde finalmente chorar. Nunca pensou que sentiria tanta falta do passado.
Se ele ao menos pudesse voltar...

Written down for u - oneshots Onde histórias criam vida. Descubra agora