O cara do apartamento ao lado

43 5 16
                                    

It was a bad idea
Calling you up
Was such a bad idea
'Cause now I'm even more lost
[...]

bad idea! | girl in red

────── 𖤐 ──────

O sol brilhava do lado de fora, refletindo um belíssimo dia em Nova York. Mas não tinha nada de lindo naquilo para Kayn.
Ele odiava manhãs. Odiava acordar cedo. E odiava compromissos. Não necessariamente nessa ordem.

Acordara com os raios de sol invadindo seu quarto pela janela, fazendo-lhe cerrar os olhos ao abri-los. Espreguiçou-se e se sentou na cama. Os lençóis brancos bagunçados e os travesseiros caídos no chão. Coçou a nuca e bocejou algumas vezes antes de olhar para seu lado. Na cama, alguém dormia de maneira despojada. Kayn imediatamente se arrependeu de ter chamado aquela mulher para seu apartamento. Revirou os olhos e levantou-se da cama.

Percebeu estar desprovido de qualquer roupa; seu cabelo caía em seu rosto e ele se sentia imundo. Pior que isso, era apenas o fato de não se lembrar de nada da noite passada. Sabia, na verdade, que tinha chamado aquela mulher porque a reconheceu do bar que fora ontem à noite. Mas não lembrava-se de seu nome, ou sua idade. Roupas jogadas no chão e um horroroso cheiro de bebida. Agora ele sabia o porquê de se sentir tão sujo.

Foi ao banheiro e enxaguou o rosto, tentando se colocar de volta no mundo. Então encarou a si mesmo no espelho. Seus olhos estavam vermelhos, ardiam; a cabeleira negra — agora molhada — lhe escorregava aos olhos. Ele havia picotado seu cabelo alguns dias antes de decidir ligar o foda-se. Catou as tesouras na cozinha e, em um surto de raiva, deixou o cabelo acima dos ombros.
Em seu peito, além das tatuagens, pequenos arranhões se encontravam próximos às suas clavículas. Todo dia, ele sempre acordava com aqueles machucado. Mas não sabia por quê.

Apesar disso, Kayn não se lembrava daquela mulher em sua cama. E nem fazia questão de se lembrar. Sabia, porém, que a expulsaria de seu apartamento no mesmo instante que ela acordasse. E não sentia culpa nenhuma de pensar assim. Respirou fundo e se convenceu a ir tomar um banho.
Ele entrou embaixo da água, deixando-a maltratar a pele marcada. Ele pensava se valeria a pena sair de seu pequeno apartamento no centro da cidade para ir até seu estúdio. Aonde ele queria chegar com isso? De que adiantava, no final de contas?

E novamente, ele apagou.

Saiu de baixo da água com mais dúvidas e perguntas do que quando entrara. Enxugou-se e deixou a toalha amarrada um pouco mais abaixo na cintura. Ele não sabia quando tempo tinha passado embaixo do chuveiro. Vez ou outra, Kayn parecia ter lapsos de memória. Às vezes, o tempo para ele passava de forma... estranha.
Rapidamente, destrancou a porta e se pegou encarando seu quarto. Vazio.

Não havia mais roupas no chão; a janela estava aberta e as cobertas e os travesseiros já estavam em cima de sua cama. E nem sinal da mulher. Aquilo deveria o ter deixado feliz, mas o irritou. Ela simplesmente saíra sem dizer uma palavra sequer? Kayn praguejou silenciosamente e foi até sua cômoda procurar algo para vestir. E ele nada achou. Virou-se em busca de suas roupas e percebeu que todas se encontravam jogadas na cadeira e na mesa.

Praguejou mais uma vez e vestiu-se, buscando, por fim, sua jaqueta de couro, que tinha se perdido no meio das roupas sujas. Kayn nunca saia sem ela; logo, raramente ela aparecia limpa. Ele ignorou este detalhe e saiu do quarto, sentindo um gostoso cheiro de café.

Ao abrir a porta, as cortinas de seu apartamento, localizado no quarto andar estavam abertas, sua cozinha estava preenchida com o cheiro de um café da manhã. Virada de costas para a sala, parada em frente ao fogão, estava aquela mulher; ela vestia uma camisa larga e um short jeans.
Ao ouvir a porta do quarto se fechando atrás de si, ela se virou.

Written down for u - oneshots Onde histórias criam vida. Descubra agora