Capítulo 11

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Ponto de vista de Damian Desmond:

13 de setembro de 1970

Aniversários parecem ser datas comemorativas para muitas pessoas, um dia para se alegrar, um dia para se sentir amado e querido, um dia para receber presentes e felicitações, para comemorar a sua estadia no mundo dos vivos. Contudo, para mim não passava de um dia normal, um dia como qualquer outro, onde eu apenas seria relembrado de que meu nascimento era irrelevante o suficiente para qualquer um em minha família decidir que seria o bastante me dar um presente e fingir que haviam cumprido com suas obrigações.

Eu não sou como as outras crianças. Não que eu seja melhor pela família de onde eu vim, essa idéia já havia saído da minha cabeça anos atrás quando conheci alguém forte o suficiente para que eu entendesse que eu não era nada. A questão aqui era que outras crianças poderiam ser felizes, poderiam ter uma família unida, alguém que se importe e zele por elas, comigo era apenas diferente. Deve ser culpa minha, eu não deveria ter nascido.

- Senhor Desmond. - Meu aniversário não poderia ser comemorado de maneira melhor, meu psicólogo que ao menos trouxe um cupcake e uma vela para mim começa suas considerações após me ouvir por algum tempo. - Já estamos a tempo suficiente em nossas consultas e, infelizmente, seus pais não conseguiram comparecer ás reuniões marcadas, então terei que dizer isso a você, pois não tenho permissão de contar nada sobre seu quadro para qualquer outra pessoa. - Ele me olha com cautela. - O senhor está em um estado profundo de depressão. - Olho para ele incrédulo.

- Eu não tenho tempo para depressão. - Eu devo ser o melhor ou serei descartado, eu não posso ser maluco, eu não tenho o direito.

- Infelizmente não podemos escolher coisas como essas. - Ele disse ao desacelerar mais ainda sua fala já lerda. - Te encaminharei a um psiquiatra, você deve iniciar seu tratamento medicinal com urgência.

- Não ouse falar isso ao meu pai. - Me levanto da poltrona que produz barulhos sempre que faço algum movimento. - Eu não vou tomar nada, eu não sou louco.

- Depressão é um problema comum. - Ele tenta me acalmar enquanto viro minhas costas para ele, mas estou a beira de um ataque de raiva. Por que tudo em mim se transforma em raiva? - Ainda mais em pessoas que são cobradas desde as mais tenras idades.

- Eu devo me acostumar. - Minhas palmas doem ao fincar as unhas nelas. - Um dia eu serei o melhor, um dia eu vou tomar o lugar do meu pai, um dia ele olhará para mim.

- Seu pai com toda certeza se orgulha do senhor, senhor Desmond. - Me viro para o homem em um riso curto e irônico.

- Eu nem sei como a voz do meu pai soa ao pronunciar meu nome. - Seguro meus cabelos. - Nosso encontro termina aqui.

Não espero que ele diga mais nada antes de sair daquela sala sufocante. Ele poderia a encher de plantas, colocar peixes em aquários super ornamentados, poderia até mesmo trazer um palhaço para aquele ambiente, mas ele não se tornaria muito diferente do fundo do poço que representa para mim.

No final do último ano, alguns professores solicitaram que eu frequentasse algum profissional da saúde mental, eles disseram que minhas notas eram altas, mas que eu não olhava para mim. Ouvi dizer que meu pai não gostou nada da idéia, mas que minha mãe insistiu com o homem até que um carro fosse disponibilizado para me levar ao centro médico.

Meu inferno pessoal era olhar para um peixe dourado bater sua cabeça no vidro enquanto o homem me perguntava coisas pessoais demais para serem ditas até para Emile e Ewen. "Você já se interessou por alguém?", "Você costuma se envolver com garotos ou garotas?", "Por que prefere passar o dia sozinho?", "Já tentou fazer algo além de estudar?", "Você costuma sair para se divertir? Você sabe, fazer coisas de adolescente?", "Você se masturba ou tem uma vida sexual ativa?". Perguntas estúpidas.

The Boy Is Mine - Damianya / Danya - Damian e AnyaOnde histórias criam vida. Descubra agora