Capítulo 12

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Parece que minha vida inteira se passa diante dos meus olhos. Todos os momentos em que me ensinaram uma técnica nova, todas as histórias que me contaram sobre a família Desmond, todo aquele dia em que fui sequestrada, as torturas que recebi, as noites em claro gastas estudando meu alvo, tudo, tudo, tudo. Minha vida era uma mentira e eu era tola o suficiente para ter piedade com aqueles que só me viam como uma maldita arma.

Eu sentia todos os sentimentos de Damian enquanto revirava seu passado, sei que ele não estava mentindo, sei que sua mente era a sua própria prisão, sei que a morte de sua mãe havia aumentado os muros de sua cela, reconheço sua dor ao olhar para o homem que sempre tentou impressionar e ver que ele o via como sua falecida mulher, sei que Damian ainda não havia descoberto como seria a sonoridade de seu nome na voz do pai, por ele agora o ver como a mulher que o gerou e o chamar pelo nome dela. De certa forma, somos bem parecidos em nossa solidão, em nossa tristeza habitual, somos ambos prisioneiros e o mundo havia nos virado as costas desde muito cedo.

- Não. - Eu respondo para ele ao me aproximar. - Você não tem o direito de me pedir isso, não depois de tudo. - Esfrego minha mão direita em meu rosto para arrancar as malditas lágrimas que insistiam em cair.

- Você merece um futuro bom, você merece ser feliz. - Eu nunca havia visto alguém expressar seus sentimentos de maneira tão explicita, sempre devia olhar seus pensamentos antes do rosto para saber o que fazer, mas talvez todo o tempo que passei ao seu lado sem conseguir ouvir nada que não era dito em voz alta me fez perceber como era fácil entender seus sentimentos apenas por seus gestos e expressões. - Eu não posso te dar uma vida longe de toda a falsidade, não posso prometer que não vou te decepcionar ou que ao meu lado só sentirá felicidade, sei que não sou o suficiente em muitas coisas e não deveria ter sido tão egoísta ao te pedir para fazer parte de todo esse mundo doente em que vivo. - Ele recua um passo. - Eu juro que tentei te afastar no início, tentei ser recluso e te fazer ver a realidade com seus próprios olhos ao te levar ao escritório de seu pai. - O moreno respira. - Yor colocou as fotos em um lugar visível para que você as achasse e percebesse que estavam observando você, eu não deveria ter me aproximado tanto depois que você as viu, eu deveria ter te deixado viver sua vida sozinha, eu não devia ter complicado tudo para você, sua vida seria melhor sem mim.

- O que te faz pensar que minha vida seria melhor sem você nela? Por Deus, Damian, você foi a única pessoa que cuidou de mim durante todos esses anos, a única pessoa que me fez rir verdadeiramente, a única pessoa que me deu a própria vida. - Dou outro passo em sua direção. - Me deixe cuidar de você.

- Você não pode cuidar de mim. - Ele fecha seus olhos. - Eu não sou inocente, eu também ocultei coisas de você.

- Eu enten... - Tento falar, mas ele me corta.

- Não, você não entendeu. - Ele eleva um pouco sua voz. - Eu matei uma pessoa, o que meu irmão disse é verdade, todos da minha família são fodidos da cabeça. - Ele tenta puxar seus cabelos, mas eu seguro seus braços.

- Eu também já matei. - Seus olhos se voltam para mim. - E eu mataria, de novo e de novo, se fosse para proteger quem é importante para mim.

- Eu te amo, Anya. - Meu coração parece acelerar o suficiente para um ataque cardíaco. - Eu realmente te amo mais do que tudo, mas ao meu lado você estaria sempre em risco, seria sempre ameaçada. - Seu suspiro é cortado por um soluço. - Eu fiz o acordo com sua mãe e confio que ela possa te proteger de muita coisa, mas sempre há uma possibilidade, sempre há um risco, e mesmo que eu confie completamente em suas habilidades, não quero que tenha que usá-las. - Ele respira, buscando acalmar-se. - Meu pai não conseguiu proteger minha mãe de tudo, eu não quero o mesmo fim para você.

The Boy Is Mine - Damianya / Danya - Damian e AnyaOnde histórias criam vida. Descubra agora