Cap. 21-Tenta Acreditar.

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Tenta Acreditar/ANAVITÓRIA
"Se alguém te perguntar
Conta aquela história boa de nós dois
Diz que as coisas acontecem sem pedir
E a gente recomeça em outro lugar
Já tentei achar um nome
Esbarrei em mil promessas
Dessas que a gente esconde
Por não conseguir cumprir"

26 de abril de 2023

(Gustavo's version)

Eu mudei. Não tanto quanto a Ana, mas mudei. Me fechei mais para outras pessoas, não consigo desabafar com meus amigos e guardo tudo pra mim.

Comecei a fazer sessões de terapia pra mudar isso. Mudar, de novo.

—Então, como foi ontem?— Alice, minha terapeuta, pergunta.

—Eu não sei. Ela estava na roda de amigos e eu cheguei. Todo mundo se calou. Ela perguntou se eu 'tava bem, eu a cumprimentei e ela saiu de lá.

—Só isso?

—A Gabriela, namorada do Murilo, saiu atrás dela um tempo depois, elas são muito amigas.— dou de ombros.

—Sei que você tem mais coisa pra contar.

Suspiro. Odeio quando isso acontece.

—Eu senti que ela mudou. Amadureceu, com certeza. Mas tem algo a mais. Como se ela estivesse fria, congelada. Como se estivesse sem a alma. 'Tava mais pálida e os cabelos mais compridos. Não vi ela depois disso e eu agradeço, porque fico me remoendo e me perguntando se foi eu que a fiz ficar assim. Entende?

—Entendo, mas sei que você pode me explicar melhor. Se sinta a vontade.

—Eu costumava falar que o que me encantou nela foi o fato dela ter "cheiro de gente". Nesse meio que vivemos, as pessoas quase sempre são frias e sem sentimentos, como se não vivessem. Como se fossem corpos passeando e cantando e fazendo vídeos para a internet, mas sem alma. A Ana Flávia era diferente. Ela tinha um jeito diferente. O seu cheiro, seu jeito meio sapeca e meigo quando ela queria, sua intensidade, sua vontade de ser e viver cada detalhe de tudo que acontecia na vida dela.— suspiro me lembrando dela.
—Mas ontem, eu não a senti desse jeito. Vi uma Ana que eu nunca vi. Ela era como um pintura em preto e branco. O semblante ruim, sem cor, sem intensidade. Sem vida. Fico pensando se fui eu que causei isso.

—Não foi você, Gustavo. Ela fez isso sozinha e talvez nem tenha percebido. Talvez ela só tenha amadurecido e esteja bem e você precise aceitar essa "nova Ana". Talvez ela tenha receio de estar com você. Medo. Isso faz com que a pessoa se feche muito. Você me disse que quando começaram a conversar, ela tinha medo.
O meu palpite é que ela deve ter pensado que tinha mudado completamente, que a menininha confusa, que ela te falou, finalmente tinha ido embora. Mas ao ver você, sentiu medo e confusão de novo. Viu que não estava pronta e que poderia estar menos preparada do que antes.
—Bom, acho que por hoje nós já conversamos muito.—diz olhando o relógio.—Você tem compromisso, certo?— assinto com a cabeça.

Nos despedimos e eu fui me trocar para viajar.

...

Estava realizando o atendimento do show, só restava essa entrevista.

—Estamos aqui com maravilhoso, Gustavo Mioto!— a repórter inicia a entrevista.
—Gustavo, essa semana teve a festa da Duda Bertelli, uma grande amiga, e os internautas perceberam pelos stories e lives que você estava distante de algumas pessoas.

—De quem? Eu não percebi.

—A pessoa mais comentada foi a Ana Castela. Vocês aparentavam ter uma boa amizade e nunca mais foram vistos juntos.

—Ah, mas é porque ciclos mudam, né? As coisas acontecem e a gente nem percebe. Mas a Aninha é uma pessoa muito gente boa, além de ser uma ótima artista. Ela é muito alegre e isso anima muito qualquer ambiente que ela esteja. Espero que ela nunca mude esse jeito.

...

Estava no camarote com o Murilo, assistindo aos shows do festival.

—O que acha de irmos embora?— ele fala vendo que a próxima apresentação ia ser da Ana Castela.

—Eu quero ficar.— observo o palco mudar as cores da luz para rosa e o locutor chamar a Boiadeira.
—Por que deixei chegar a esse ponto?

—Como assim?

—Eu prometi a ela Murilo. Prometi que ia ajudá-la a perder o medo do amor. O medo de amar. E ao invés, estou aqui sentado, vendo o amor da minha vida crescer e ser feliz de longe.

Ele fica quieto. O show começou, a energia dentro do palco era surreal. A Ana Castela continuava a mesma, cheia de piadinhas e fazendo um show incrível. Em contra partida, a Ana Flávia fez mudanças radicais na personalidade.

O medo muda as pessoas.
O medo mudou a Ana Flávia.

Eu não gosto de lembrar de promessas. Me sinto um inútil por não cumprí-las, ainda mais se eu prometi a ela. Mas ela escolheu, ela se afastou.

Talvez eu devesse correr atrás das minhas promessas. Lembro do que Giana me falava há alguns meses.

"Eu acredito no amor de vocês, e ela também acredita."

Eu tento acreditar, mas eu não tenho tanta certeza que ela tenta.

Nosso "relacionamento" era cheio de problemas e conflitos internos com nós mesmos. Tudo era a base de "e se". Mas o "e se" não existe. Então nosso amor também não existe?

Quero acreditar que foi melhor para mim. Vou fingir que está tudo certo. Talvez a solidão seja um erro, talvez seja a minha sorte.

Eu me sinto perdido. Acho que só vou seguir minha vida, tentando acreditar no meu amor por ela.

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Soltei dois hoje 🙏

Esse capítulo foi bem curtinho, mas eu adorei escrever ele, sério. Amo misturar essa história com mpb/pop.

Gostam desse estilo dos dois últimos capítulos, mostrando o lado de cada um?

Beijos, não esqueçam de votar e comentar!!! 🧡

• 𝒞𝒶𝓈𝑜 𝐼𝓃𝒹𝑒𝒻𝒾𝓃𝒾𝒹𝑜 • ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora