O domingo não fora melhor. Rúlio não telefonara, nem atendera ao telefone. Luiza deixara inúmeros recados com todos os empregados e nada. Acabou se sentindo pior ainda, não queria e não podia perder seu único amigo. O que ela podia fazer para evitar?
Na manhã de segunda, como sempre, se arrumou, mas dessa fez mais simplória e foi para o colégio. Cabisbaixa rezando para que nenhum conhecido tenha visto na boate ou pior; a visto sair com Pietro ou ainda pior; que sabia que ela já perdera virgindade.
A vida é engraçada,quando temos algo a esconder parece que cada olhar, cada palavra, está nos acusando e nos revelando. A escola não parecia mais a mesma, os alunos pareciam que sabiam, e a olhava com repúdio. Será que era apenas impressão?
Para sua surpresa quando chegou à sala parecia tudo normal, os mesmos rostos felizes a cumprimentaram como sempre, as mesmas colegas contaram sobre seu fim de semana. Só uma coisa, não duas, não estavam bem; Rúlio e Dani ambos a olhavam de lado fingido não notar a sua presença quando se cruzavam. Daniel e Daniela estavam mais próximos, talvez até podiam terem iniciado o namoro.
Rúlio com seu jeito alegre conversava com todos, como se nada de anormal tivesse ocorrido. Luz se sentiu isolada como um bandido sentenciado a morte, na sala durante as aulas enfadonhas, por duas vezes teve vontade de chorar e por uma vez não resistiu pedindo licença a professora de português.
Fora da sala ela foi para o lugar mais arejado, com o vento mais fresco que conhecia, o térreo. Onde ficava um lindo orquidário e onde daria para se matar sem ser interrompida quem sabe. Quando com suas mãos finas tocou a mureta de proteção do térreo foi a única solução que lhe ocorrera, não queria ter magoado ninguém, mas acontecera. Imaginou que a vida poderia ser mais fácil e que morrer era a única coisa que podia fazer por todos, assim tudo morreria com ela; o amor, a tristeza e a verdade.
A mureta era um pouco alta de fato, mas bastava uma cadeira... A ali uma cadeira velha junto a mangueira. Luz fora até lá em passos agonizantes de infelicidade e pegou a velha cadeira de madeira, antigamente usada nas sala de artesanato. Com a cadeira em mãos levou silenciosamente junto à mureta, e quando lá se pôs, uma voz soou alegre atrás da estudante.
-Espero que esteja usando a cadeira para ver melhor a vista!!
Era Kátia com sua alegria vibrante e despreocupada, usava um jaleco que escondia suas curvas de mulata e saltos altos para valorizar ainda mais seus 1,70. Kátia para Luz era mais que uma amiga, quase uma irmã mais velha que sempre tem a resposta para tudo, consegue fazer das coisas mais tristes algo engraçado.
E foi o que fez, quando Luiza em sua tristeza contou o que ocorrera, sobre ter perdido a virgindade. Kátia apenas riu ignorando a dor da jovem, que se sentiu ofendida e ia se retirando até que Kátia a segurou pelo braço.
-Calma morena. – É assim que a chamava quando a jovem ficava brava- Desculpe não foi delicado da minha parte, eu sei, só que você me lembra eu quando tinha sua idade. Nossa isso me faz parecer tão velha, não é?
Luiza não respondeu. Kátia sentindo o clima tenso, ficou mais séria com aquele ar saudoso de quando se fala do passado, com aquele sorriso amarelo ao lembrar das coisas ruins, que no final não era tão ruins assim.
- Sabe Lu quando eu tinha dezesseis anos em perdi minha virgindade, e fiquei mal. Não foi como eu imaginei, nem com quem imaginei, apenas fiz por pressão. Queria deixar de ser o monstrinho da minha turma.
-Por que você fez isso? Isso é idiotice fazer só porque meia dúzia fez. – Vociferou Luz mal humorada.
-Bem não é pior do que fazer isso por birra é? – A enfermeira pegou no calo da jovem que cruzou os braços defensivamente, engolindo com amargor seu comentário anterior.
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Yuri Novel
RomanceLuiza Luz é uma jovem como todas, ansiosa para encontrar seu príncipe encantado. Mas o que aconteceria se "ele" não for como ela imaginava?