Yuri Novel capitulo 3

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Queria se levantar; sair correndo daquela sorveteria e esquecer que tudo isso acontecera. A bolada, a prova que não pode fazer e principalmente essa, esse, isso... Luiza se continha, pois apesar de ser impetuosa ela sempre pensava nos outros, não queria ofendê-la deixando-a na mesa, e muito menos criar qualquer laço com ela. Vamos à realidade: Brasil+Cristianismo= homofobia, essa era a matemática da realidade e mesmo que achasse kawaii histórias de mangás e animes yuris, a realidade brasileira era muito diferente!

            A cinco segundos de tentar enfim dispensar Dani eis que surge como que por mágica. Adivinha quem? Seu papai. Muitas vezes Luiza desconfiava se seu pai era mesmo um empresário bem sucedido, por dois motivos:

1. Ele era totalmente sem noção. (Denominação dada a qualquer um que usa ternos caros, chamativos e bregas. Sua aparência se assemelhava a um gigôlo de filme e seu perfume era tão másculo que se tornava selvagem)

2. Ele não podia ser tão inteligente. (Como alguém como ele não pode perceber quando não é bem-vindo? E principalmente como não nota quando a está fazendo passar vergonha?!)

- Ainda bem que te achei. — Ele vinha vindo!! Ele vinha vindo!!

-Pai. —Disse ela em tom de "O-que-você-está-fazendo-aqui?" disfarçado de "que bom te ver".

-Você não deve fugir do motorista sabia mocinha? É pra eu te dei aquele celular último tipo? Concerteza não foi pra deixar ele desligado sabia? — Mesmo parecendo frases coerentes com a realidade, a cena ficava cômica, porque Michel simplesmente parecia jovem demais para ser pai.

-Desculpe senhor, foi minha culpa...

-Culpa? —Virou ele para Dani, confuso e ao mesmo tempo interessado, como um mafioso que escuta seu subordinado se confessar antes de uma misericordiosa bala.

-Essa é a Dani papai, ela precisava de uma ajuda em biologia pra ontem, desculpe foi uma emergência. — Falou atropelando a garota antes que houvesse um banho de sangue, seu pai ficaria louco de ver sua filha confraternizando com seu algoz. Como se não houvesse a diferença entre tomar tiro ou levar uma bolada.

O rosto sério e másculo de Michel se transformou num rosto alegre e feliz por sua menininha ser tão bondosa. Uma boa característica que vocês deveriam saber quando cruzar com Michel pelo caminho é que, é muito fácil deixá-lo feliz, mas também tão fácil é fazê-lo enraivecer, principalmente se o assunto for sua filhinha. Sabendo disso habilmente a jovem salvou Dani de grandes problemas, mesmo não sabendo bem porque de seu ato, assim o fez. Talvez fosse sua bondade de devoção ao próximo, pensou ela com a alma leve de quem acabou de fazer uma boa ação.

            Enfim os sorvetes de uva e de creme chegaram, e como se Michel tivesse pedido foi logo atacando o de uva com cobertura de chocolate.

-Uhhhhh!!! Que delícia!!!-Gritou ele feito criança.

 Dani e principalmente Luiza ficou olhando para Michel espantadas com a falta de elegância e bom senso. Porque raios ele havia pegado o sorvete que era de Dani?!

-Pai?!! —Tentou chamá-lo a realidade. Quando ele a fitou, Luzia fez sinais de "Esse-é dela-pai".

E retornando a si depois de surrupiar o sorvete alheio Michel pediu desculpas, havia se esquecido da garota. E para se desculpar, como sempre ele fazia, (só com garotas) convidou Dani para jantar em sua casa. Daniela ficou sem graça, esfregou as mãos nas coxas ao mesmo tempo fitando a cara feliz de Michel e o rosto cadavérico de Luiza, mas sem ter muito o que fazer aceitou. Oito e meia, Condomínio sul, casa rosa com duendes no jardim, bem especifico não?

Parecendo fugir de uma tempestade Daniela foi embora, se despedindo educadamente.

Na sorveteria e já passando da hora de Luiza Luz ir para o cursinho de inglês, ela indaga o pai irritada:

-Pai por que você a convidou para ir lá em casa?- Ela fez uma cara de indignada e completou- Não me diga que você...

Dito nas entrelinhas Michel entendeu e abanado a mão como que querendo amenizar esse pensamento ridículo, e por fim falou calmo:

-Não é nada disso, eu só acho que deveria estreitar amizades com suas colegas de classe. Sem falar que ela me parece uma boa menina.

Quem não conhecesse Michel como sua filha o conhecia diria "Nossa que bom pai", mas sua ação não era nada fraterna, ele apenas queria afastar os amigos de Luiza o máximo possível, principalmente Rúlio (definitivamente esse nome não existe) que era o amigo mais chegado, tão chegado que passava mais tempo com sua filha que com os próprios pais.

-Sei. —Disse Luiza Luz com aquele tom de "eu-te-conheço-quer-enganar-quem?".

Assim sendo a conversa não se estendeu muito, porque seu pai atendeu o celular que sempre tocava em momentos oportunos, sempre.

-Alô? Como? Onde? Deixa comigo vou resolver isso agora. —Michel olhou para filha só a tempo de dizer um tenho-que-ir-querida, Luiza assentiu conformada e aliviada, porque por mais que amasse seu pai ele era como uma mulata de carnaval no meio da avenida todo mundo olhava. E o anonimato pelas ruas daquela cidade sempre a animava depois de um dia do cão que ainda nem havia terminado.


Yuri NovelOnde histórias criam vida. Descubra agora