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Faz muito tempo que parti numa viagem que devia ser sem regresso.

Problemas familiares levaram-me um dia e pegar numa pequena mochila, deixar tudo para trás e partir para a Austrália.

Eu queria estar longe.  O mais longe possível.  Comprei uma passagem só de ida e depois de dias lá cheguei não sabia bem onde.

Não tinha ninguém à minha espera.  Os familiares tinham ficado todos no Brasil revoltados porque eu não aceitava a vida que eles me destinavam.

A namorada também se tinha afastado não pelo mesmo motivo,  mas porque não estava no seu momento de avançar com a relação.  Jurava amar-me, mas viver junto ainda era cedo para ela.

Eu tinha 27 anos e queria um emprego das 9 às 5, uma família, uma casa e um cachorro.  Quem sabe um filho também.
Se era pedir muito, eu não achava.

Os meus pais queriam que eu investisse nos negócios  da família.   Meu pai era mecânico de automóveis, meu cunhado marido da minha irmã Lisa era pintor.  Queriam expandir o negócio e precisavam que eu investisse algum dinheiro.

Eu entendia que não o devia fazer  e ainda menos num ramo que não me dizia nada.

Apesar de crescer com o cheiro de óleo, gasolina e petróleo,  eu odiava aquilo.

- Jamais. - disse eu a meu pai quando ele pediu que eu investisse parte da herança da minha avó.

- Eu tinha um plano em mente.  O meu curso de gestão preparou-me nessa àrea e eu sonhava montar um gabinete de assessoria.

- É um negócio de família, Rodolffo.

- Sei, mas porque a Lisa não investe a herança dela?  Ela recebeu o mesmo que eu.

- A Lisa teve algumas despesas.  O que sobrou não é suficiente.

- Sei, despesas.  Viagens de férias para a Tailândia,  Miami, BMW, barco de recreio.  Essas foram as despesas.  Não adianta, eu não vou investir no vosso negócio.

Nessa noite a casa virou do avesso.  Era meu pai, minha irmã e meu cunhado acusando-me de tudo e mais alguma coisa.  Minha mãe permaneceu muda.  Em momento algum interferiu na discussão.

- Já que é assim, vai à tua vida e deixa esta casa imediatamente. 

Arrumei algumas roupas numa mochila e procurei um hotel para passar a noite.  No dia seguinte comecei a planear a viagem.

Passou uma semana depois destes acontecimentos e eis-me aqui em Melbourne à procura de um hotel para pernoitar.

A viagem foi demorada e cansativa.  Cheguei ao hotel e só queria tomar um banho e dormir.

Arrumei um emprego bem rápido.  O salário era muito bom e o facto de falar inglês ajudou-me bastante a sobreviver num país distante.

Foram onze anos.  Onze longos anos sózinho neste País, mas de repente senti uma necessidade de regressar.  Algo me pedia para voltar.

Analisei os prós e contras.  Eu estava bem financeiramente e a minha vida pessoal também estava estabilizada.

Há três anos que eu e Beth (Elizabeth) mantemos um relacionamento.
Ela é tradutora, fala 5 línguas e quando lhe expliquei a necessidade de regressar ao Brasil, ela apoiou-me.

- Vamos.  Sempre quis conhecer.

- Não temos um casamento, mas estamos bem.  Eu fico na casa dela e ela na minha.  Estamos bem assim.

Beth tem um filho de 10 anos que vive com os pais dela, mas tem um óptimo relacionamento connosco.

- Levamos o Mark?

- Nem pensar!!! Quero passear, conhecer coisas.  Uma criança só vai empatar.

- Não gostei, mas o filho é dela. 
Aqui apesar de não viver connosco podemos estar com ele todos os dias.  Não entendi a frieza dela.  Eu gosto do Mark e ele gosta de mim.

Preparámos tudo e hoje estamos de regresso.  Durante estes anos apenas mantive contacto telefónico com minha mãe.
Ninguém sabe do meu regresso nem de Beth.

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