Capítulo 2 - O inicio de tudo

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21 de março de 2004

AIDAN KELLER

Tive outro pesadelo. Mais uma vez aquela garota estranha com cabelo preto e longo. Mais um lugar que não conheço, com pessoas que nunca vi. Porém, por mais que eu odeie os pesadelos, a insônia que tenho tido recentemente é bem pior. Cada dia eu demoro mais para dormir e durmo por menos tempo.

Por falta de opção, levanto mais cedo. Visto o uniforme, preparo a roupa de ginástica, já que hoje tem educação física na escola e desço para a sala de estar. Rachel ainda dorme, então vou pegar alguma coisa pra comer e ver televisão. Por alguma razão sinto uma necessidade de ver filmes.

Nos últimos dias a casa tem tido alguns problemas de eletricidade. Em momentos aleatórios as luzes começam a piscar loucamente. A tv também parece estar com interferência, quase sempre tem ruídos, o que me incomoda profundamente, mas não me lembro o porquê.

Eventualmente, Rachel acorda. Ela desce as escadas ainda vestindo seus pijamas de gatinho e com seu cabelo loiro todo bagunçado.

- Ah, já acordou filho? Que cedo. - Ela exclama enquanto se aproxima e me dá um abraço.

- Bom dia Rachel. Sim, por isso já aproveitei e me troquei e comi uma fruta, para o café da manhã. - Eu digo ainda olhando para o filme de romance de verão na tv. Gosto de não ter que dar mais trabalho para Rachel.

- Que bom! Vou preparar uma torrada para você, pode ficar aí vendo o filme, ainda falta algumas horas para dar o horário de ir à escola. - Faz um carinho em minha cabeça e caminha para a cozinha.

Não sei quanto tempo fiquei mesmerizado na televisão, mas o som abrupto da torradeira me desperta. Olho confuso ao meu redor e vejo que a televisão está transmitindo apenas estática.

- Ah, droga! Comprei geleia de morango ao invés de amora... - Rachel grita.

- Mas eu odeio morango...

- Eu sei! Desculpa, filho.

- Tudo bem, Rachel. Eu como com margarina.

- Comprarei a outra mais tarde, então.

--- === O === ---

Chegando à escola, desço do carro e me despeço de Rachel. Um sentimento desconfortável me abraça em pensar que terei que passar horas aqui. Essa escola é estranha. Talvez seja normal, mas eu realmente desgosto de ambientes sociais com tantas pessoas. Nos últimos dias esse sentimento parece ter piorado, no entanto. Só não sei dizer o porquê.

A escola é antiga, mas claramente sofreu diversas reformas. A tinta velha e descascada em algumas paredes e a tinta nova e vibrante em outras prova isso. Ela tem apenas um andar e é extensa para os lados. A grande bandeira dos Estados Unidos hasteada no mastro colocado no centro do pátio trêmula com o vento de primavera e diversos alunos caminham apressados para dentro, carregando caixas de som com musica pop e conversando sobre assuntos diversos.

Passo pelo espírito do jovem afogado na piscina vazia, aceno para ele, coitado. Outros alunos que caminham ao lado me encaram e alguns riem baixo. Olho para eles sem entender o motivo do riso e sigo para a sala.
Os corredores longos e mal iluminados, sempre parcialmente sujos mostram o quanto essa escola precisa de mais cuidado. Os armários antigos e reagentes fazem o lugar sempre ter algum barulho, além do das pessoas.

Me sento próximo à janela, gosto da vista da mata que fica ao lado da escola, da montanha ao fundo e a leve nevoa que sai dela em algumas manhãs, como essa. Vejo os demais alunos se ajeitando, se cumprimentando, alguns com sono de mais pra andar corretamente, outros correndo como loucos pela sala, trocando tapas e arremessando materiais uns nos outros. O professor chega e todos se sentam.

Storm WithinOnde histórias criam vida. Descubra agora