Capítulo 11 - Corvos

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03 de junho de 2006

VITÓRIA VAN DORA

Sempre quis ir para Salém, sentia como se fosse um ímã invisível, um farol, me chamando. Dês da morte de Charles, tudo o que aconteceu com Lara, as coisas que passamos no dia-a-dia, sempre tive essa necessidade de saber mais. De me incluir. De replicar. Talvez essa cidade tenha as respostas. Quando Rachel sugeriu a viagem, mal tive tempo de hesitar. Salém sempre foi um ponto de exclamação para mim, sei que tem informações lá, que não vamos achar em local algum. Mas Rachel parece distante. A situação dela com Samara é complicada. Os sentimentos conflituosos, a amargura silenciada. Ela realmente gosta dela, mas odeia o que ela fez. Já conversamos sobre isso, mas ela prefere não pensar no assunto. Eu entendo.

O vento fresco corta nossa pele, uma leve camada de neblina paira sobre o aeroporto. O sentimento de antecipação me preenche e adentramos a aeronave. Mas por alguma razão, me sinto ser observada. É aquela pequena pontinha de incômodo, lá no fundo. Olho ao redor, procuro nas sombras e atrás de árvores ou pilares, mas nada. Adentramos a aeronave, nos sentamos e insisto que Rachel durma, pois as olheiras dela eram aparentes, mesmo com toda a maquiagem. Ela me disse sobre os pesadelos, então talvez aqui, longe de Samara, ela possa dormir em paz. Espero que possa. Aproveito o tempo ocioso da viagem para revisar minhas anotações e pesquisas.

Sabemos, graças a Samara, que as habilidades paranormais vem da alma. Com isso, pudemos concretizar a teoria que os fantasmas são pessoas com poderes, na grande maioria. Apenas almas fortes podem permanecer na Terra após a morte. Pessoas com poderes tem almas fortes, muito fortes. Infelizmente, alguns indivíduos permanecem involuntariamente no plano material. Isso causa problemas.

Na teoria, pessoas com habilidades equivalem a 15% da população. Parece muito, mas a grande parte das pessoas se quer sabe que possui tais habilidades, por isso não as desenvolvem. Possuem resquícios de dons afogados por amargura, dúvidas e grilhões psicológicos. Aqueles que verdadeiramente despertam, afloram ou descobrem suas habilidades, de encaixam em dois tipos de pessoas. Pessoas que foram ensinadas a isso, por linhagens que transmitem o conhecimento sobrenatural por gerações. E por pessoas mais intuitivas e que os ativaram por reflexo, ou por necessidade em momentos extremos.

Além disso, habilidades podem ser aprimoradas através de uso continuo e treinamento. Com isso podemos pressupor que, dadas as circunstâncias corretas, é possível estudar e, imagino, replicar esses fenômenos. Por qual razão as pessoas possuem poderes diferentes? Por que é algo hereditário? Uma pessoa comum pode desenvolver habilidades? Quais outras coisas que imaginávamos serem fictícias, são secretamente realidade? Quero essas respostas. Preciso delas. Não vão rir de mim quando receber o Nobel, não é?

Infelizmente, precisarei avançar com diligência e discrição. Sei que posso chamar atenção indesejada caso aja de forma extravagante ou insensata novamente. Preciso me manter na encolha. Não posso correr mais riscos. Mas também não posso me manter estagnada. Pelo lado positivo, tenho algo grande em minhas mãos. Um exemplar raro e único, mas selvagem. Posso registrar uma infinidade de conteúdo com ela. Bem mais do que tenho em casa, pelo menos. E de forma "segura", invisível.

Mas Salém... Tá aí um lugar que vale a pena o desvio. Nem que seja apenas para turistar, caso não encontremos nada útil. Mas também sei que Rachel também está atrás de algo expecifico. Algo que não me conta. Não posso forçá-la, no entanto. Compreendo perfeitamente seus demônios.

Após horas de devaneios, finalmente adormeço. Acordamos quase meia-noite, com o avião aterrissando.

Desembarcamos em Boston. A cidade é grande e viva, mesmo na madrugada. O frio e vento forte trazem o cheiro de fumaça e lixo da cidade para nossas narinas. Uma leve neblina deixa o ambiente úmido, como uma chuva sutil que nos envolve como um manto. Rachel vai atrás de um carro para alugar, enquanto eu fico responsável por comprar cafés e lanchinhos, já que ambas estamos famintas. O aeroporto é enorme e bem iluminado,  tudo branco e modernizado, com algumas pessoas dormindo, esperando por seus vôos, enquanto alguns funcionários limpam o ambiente e descançam.

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