Capítulo 8 - Prelúdios e novos começos

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Mundo dos Sonhos

AIDAN KELLER

Caminho por um vasto vale vermelho. A grama parece feita de um material plástico, então é um pouco difícil de caminhar, além de doer um pouco. O céu roxo, com nuvens pretas e os fortes ventos gelados, fazem esse lugar ser mais aterrorizante que a montanha de cinzas perto da escola. Pelo menos aqui não há ninguém. Sem criaturas ou seres estranhos. Apenas eu.

Depois de caminhar por horas a fio, encontro uma cabana feita de ossos e com teto de couro. Me pergunto como foi construída. Me aproximo com cautela e escuto sons de passos e movimento dentro dela, além de sentir um cheiro podre horrendo vindo de dentro dela. Por precaução, começo a me afastar, porém, de alguma forma minha presença foi percebida e a porta da cabana é arremessada metros de distância pelo ser terrível que havia em seu interior.

De dentro da casa, se esgueira uma criatura amálgama de vários corpos remendados. Um ser que possuí duas pernas humanas e duas patas de cavalo como "pernas", seu "tronco" é composto de mais de dez braços, oito cabeças e diversos órgãos internos de diferentes criaturas que foram colados uns nos outros. Um de seus "braços" é uma perna humana com uma cabeça de porco na ponta, enquanto o outro "braço" são três braços humanos costurados entre si e enrolados por um intestino. Esse ser horrível e asqueroso, que pulsava e derramava sangue, avançou em uma investida fulminante em minha direção, gritando com dezenas de vozes diferentes e um rosnado aterrorizante. Um som tão horrendo, que me deu dor de cabeça e que me estremeceu até os ossos.

Corri como jamais na vida, sem se quer imaginar olhar para trás. Eventualmente, despistei o monstro. Agora sei a razão para não existirem outras criaturas naquele vale.

Decidi que o melhor a fazer seria voltar para os locais que conheço e sei serem seguros. Então retornei até a escola e decidi bisbilhotar um pouco mais das memórias de Samara. Fiz todo o caminho de volta até a estradinha de tijolos e adentrei o quarto amarelo. Por precaução, decidi verificar o que ela estava fazendo no momento. Samara está na aula de educação física e pediu para ir ao banheiro. Certo, nada de interessante. Separo uma das fitas que já havia recolhido e insiro na televisão, que após alguns momentos me puxa para dentro de si e me vejo na memória.

--- === O === ---

Uma casa grande e antiga, feita de madeira. Tapetes verdes e cortinas azuis bem grandes espalhados pela casa e todos os móveis parecem ter sido feitos à mão por um carpinteiro muito experiente. A lareira acesa aquece o ambiente enquanto a neve cai impiedosamente lá fora. A família reunida a mesa de jantar, reza em silêncio e logo em seguida partem para o banquete, sopa de galinha e pão. O pai, inquieto e com olheiras grandes no rosto, come com raiva, balançando a perna. A mãe, o encara com um olhar mortífero, mas permanece estática, como um manequim, que mexe apenas o braço e a boca para comer. A filha, que possui um corte na boca e alguns hematomas pelo corpo, come de cabeça baixa.

Esse silêncio constrangedor e tenso dura por cerca de dez minutos. Durante todos esse período, lentamente o ambiente escurece e esfria, mas não devido à neve do lado de fora, mas por conta do pai. Sua ansiedade e irritação extravasam para o ambiente, deformando as sombras. Uma aura, como uma chama escura e fria, se cria ao redor dele, enquanto o ar fica pesado e a respiração das duas sentadas à mesa fica mais forte. Gradualmente, as cores do ambiente começam a desaparecer, até que tudo fica em preto e branco, como num filme antigo. Samara se encolhe na cadeira e evita qualquer contato visual com o homem ao seu lado, que agora parecia mais um ser demoníaco envolto em sombras e ira. Sem aviso, ele esmurra a mesa de jantar, fazendo Samara derramar sopa em si, depois se levanta subitamente, derrubando a cadeira. Com os olhos brilhando em vermelho carmesim, a única cor distinguível do ambiente, o homem corpulento se aproxima ferozmente de sua filha e a pega pelos ombros.

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