Capítulo 1 - Presságios

15 3 10
                                    

16 de Março de 2004

RACHEL KELLER

Mais um dia comum no trabalho. Nada de emocionante ou impactante acontece aqui em Astoria. Diferente de Seattle, que basicamente todo dia tinha algo diferente para documentar, algum caso para investigar ou pelo menos uma mínima notícia interessante, aqui tudo é bem mais parado, mas pacato. A notícia da semana seria o aniversário da senhorinha que mora aqui há 80 anos, que se mudou para cá quanto tinha 10. Por mais que goste disso, é uma coisa que as vezes me incomoda. Estou acostumada com grandes investigações, com aventuras na busca da verdade. Me lembro de invadir prédios abandonados usados por gangues, para tirar fotos dos membros, de entrar de penetra em festas de famosos para provar o envolvimento de políticos com corrupção, ou de apenas interrogar pessoas que se envolveram em escândalos. Agora eu fico o dia todo vendo sobre o clima e esperando algo acontecer. Definitivamente é mais calmo, mas sinto falta da emoção.

Em meu horário de almoço, aproveito para buscar Aidan na escola. Ele sempre foi quieto, mas atualmente ele está particularmente distante. Óbvio, os aniversários de morte da prima e do pai estão chegando e a mudança pra cidade nova não ajudam, mas sinto que tem algo a mais, só não sei dizer o que. Matuto em minha mente outras coisas que poderiam estar influenciando seu emocional enquanto passeio pela cidade. Astoria é uma cidade calma e pacata. A maioria das estruturas são antigas e, mesmo as novas mantém o design retro, como uma questão cultural. É quase como uma daquelas cidades da Holanda que são pontos turísticos. As pessoas passeiam pela cidade, vivendo suas vidas com calma e sem pressa, já que a cidade tem uma grande população de idosos. O clima naturalmente gelado das florestas de pinheiro do Oregon ajuda a manter essa vibe "medieval", ou pelo menos antiga, da cidade.
Aproveito para parar rapidamente no café famoso que há perto da escola, o "Coffe's Corner". O café está quase vazio, exceto por duas garotas comendo torta e conversando. Peço o meu café preto de sempre e, aproveito o ambiente elegante enquanto espero. As plantas suspensas, a música clássica e os tons de bege e marrom da decoração realmente tornam esse lugar aconchegante. As garotas no canto parecem felizes e riem alto. É ótimo ver a juventude. Depois de pegar meu café, volto a meu carro e dirijo até a escola.

Estaciono o fusca bege e vejo meu filho sentado na escadaria a frente da escola, perdido em pensamentos. O chamo algumas vezes, mas ele não escuta e permanece vidrado, olhando para a piscina de natação, que está completamente vazia. Vendo que não vou conseguir tirá-lo de seu transe, saio do carro e caminho até ele, também olhando para a piscina, para tentar encontrar a razão de sua distração, mas não há literalmente nada lá.

Me abaixo para ficar na mesma altura que ele. - Aidan? Tá tudo bem?

- Ah, Rachel! Sim, só estava distraído... - Diz o garotinho, sem olhar para mim enquanto levanta.

- Sabe que não vai doer me chamar de mãe de vez enquanto, né? - Brinco com ele, mesmo que também seja verdade.

- Eu sei Rachel, vamos? - Ele caminha em direção ao carro, indo na minha frente.

Suspiro e o sigo.

Durante o caminho, tento puxar alguns assuntos para a conversar, mas ele apenas responde brevemente e aprecia o horizonte. Isso é o normal dele, me deixa feliz ver que ele esta pelo menos apreciando a cidade. Já em casa, peço para Aiden tomar banho enquanto preparo o almoço, queria fazer algo diferente para hoje, então preparei uma torta de atum com ervilhas.

Nossa casa é bem comum, meio antiga, mas confortável. Possui uma base de pedra como sustentação, paredes e piso de madeira com algumas camadas de drywall com isolamento térmico e papéis de parede amarelos em tom pastel com estampas de florzinhas. Bem casa de vó mesmo, já que a antiga dona era de fato uma idosa. Possui dois andares, um quarto para mim, um para Aidan e um terceiro vago, que no momento guarda as caixas da mudança que estão por serem descarregadas, mas que planejo transformar em um escritório. Felizmente, a casa já veio mobiliada, então tudo combina com o estilo dos anos 50.

Storm WithinOnde histórias criam vida. Descubra agora