Olívia Dantas:
Acordei por volta de 11:30 da manhã assustada, minha mãe não tinha acordado ainda... Acho que vai levar mais algumas horas para ela despertar de vez.
Subi até meu quarto, fui me arrumar... Estava parecendo que eu apanhei de paulada, cabelo bagunçado, esmalte saindo, pijama rasgado, mas me sentia confortável.
Escovei os dentes, penteei o cabelo, tirei meu esmalte e agora olhei em volta, meu quarto está uma zona, sério mesmo. Parece que fui para guerra e não limpo ele há uns 2 ANOS.
Nesse momento, me joguei na cama com preguiça, até demais confesso.
Aí que saco, odeio limpar o quarto... Peguei meu celular e vi uma mensagem da Bárbara (minha melhor amiga).
"Oli, vc tá viva?"
"Não tá me respondendo pq? Puta"
Dei risada imediatamente, ela odeia vácuo e eu mal respondo mensagens, ou seja, brigamos o tempo todo, porém me divirto muito kkkkkkk.
Ok, Bárbara surtada é igual queimar o dedo, horrível.
Logo a respondi:
"Oi, tô bem e vc?"
"Aconteceu algumas coisas chatas, depois te conto... Não são interessantes."
Bom, como minha mãe não gosta das minhas amizades, por mais que seja poucas evitei falar que iria ao shopping. Se bem que nem eu sabia se iriamos mesmo, até por que se ela acordar de bom humor é milagre.
Tomei coragem e coloquei uma música, baixa para não a acordar. Olhei aquela bagunça e pensei: "Se eu não arrumar, ninguém vai. Foco que você consegue." Respirei fundo e fui.
Amanhã é a famosa "volta às aulas". Estou ansiosa, pois estou sentindo falta dos estudos, mesmo não tendo parado durante as férias... A biblioteca enorme daquela escola também me faz sentir saudade.
Comecei a fazer um cursinho básico de administração, meu pai trabalhava em uma empresa de referência daqui. Sempre achei ela muito bonita e não só eu... Essa maravilha tem funcionários selecionados, então tem um patamar bem alto de contratação.
Arrumei tudo depois de 2 horas, meu guarda roupa, minha mochila, sapateira, escrivaninha... Estava tudo um caos.
Verifiquei se não estava nada fora do lugar, eu confesso, odeio limpar o quarto, mas a sensação de limpeza depois... É muito boa, como pode?
Escutei um barulho e sai do quarto, minha mãe havia acordado... E quando olhou para mim, ela disse em um sussurro:
"Obrigada por ontem"
Olhei estranho para tentar entender se ela disse o que eu escutei mesmo ou se eu estava delirando.
Entendo tudo que ela está passando, porém isso me deixa muito mal. Saber que uma das pessoas que você ama está se afundando na merda, é difícil, complicado, exaustivo e decepcionante.
Uma coisa que notei quando ela me agradeceu foi um brilho diferente nos olhos, que eu não via há muitos anos...
Minha mãe sempre foi apaixonada no meu pai, ele era o príncipe encantado que todas as meninas sonham em encontrar, ela era tão diferente...
Sinto que ela me culpa por tudo que houve, se meu pai queria nos deixar, porque fingiu ser feliz?
Moro em um bairro bom aqui em Campinas, minha vó paterna deu essa casa para os meus pais quando se casaram, ela é incrível, cheia da grana, sinto saudades dela, infelizmente ela foi morar em outro país.
Sabe, a família materna não é tão chegada... Mal sabe que eu existo, na verdade não sabem nada. Não entramos em contato faz uns anos.
Me perdi em meus pensamentos, ela percebeu e riu... Fazia tanto tempo que ela não sorria de verdade, nem me lembro quando foi a última vez.
"Você não mudou nada" -disse.
"Estava pensando, mas de nada" -a respondi.
Fui me virando para entrar em meu quarto de novo, porém ela me puxou pelo braço delicadamente, olhou bem nos meus olhos e perguntou:
"Pensando em que, Olívia?"
"Não nos falamos há um tempão, só é um tanto quanto estranho"
"É mesmo né? Vamos ao shopping?"
"Por que? De repente? O que houve?"
"Nunca mais saímos, conversamos como mãe e filha, afastei você Olívia. Sinto muito por isso, estou disposta a mudar, ser melhor, mas preciso de ajuda" -me disse com os olhos marejados.
"Eu quero te ajudar, porém é sobre sua vida que estamos falando... Se quiser de verdade podemos mudar tudo isso" -a respondi.
Eu sentia saudade dos afetos, carinhos, risadas, choros, assistir filmes juntas...
Durante esses últimos 5 anos, sofri muito com isso e me tornei fria. Acho que foi por isso que não chorei, a olhei e disse:
"Vamos ter um dia nosso, pode ser?"
"Sim, por favor" -respondeu-me.
"Vai tomar um banho e se troca, vou fazer o mesmo, ok?"
"Hurum" -concordou com a cabeça.
Entrei no quarto e fechei a porta... Me escorrei e desci até no chão, minha cabeça estava explodindo, visto que essa mudança foi de um dia para o outro.
Estou tensa, alguma coisa não está me cheirando bem... São vocês?
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Amor por uma perdição
RomanceOlívia Dantas, uma adolescente de 17 anos, cursando o último ano do ensino médio, nerd, amargurada, triste com a vida, querendo ter um pouco de paz e sossego, uma garota que já teve o seu coração quebrado e, por isso, jurou nunca mais se apaixonar p...