Caio Castellani:
1 mês atrás (início de janeiro)
-Filho, vamos ao escritório, por favor. -Ela pede.
-Ok. -A respondi.
Ela abriu a porta e comecei a arrepiar, tinha ódio desse lugar.
Engoli seco, fui tão maltratado aqui.
Na mesa tinha um envelope de hospital por cima de tudo. É azul, grande, com o letreiro em branco, com os dados do paciente no canto superior.
Quem está doente?
-Caio. -Me chamou com a voz mais alta.
-Oi. -Disse fazendo movimentos com a cabeça para espantar meus pensamentos.
-Você escutou o que eu falei?
-Não, mãe. Consegue repetir, por favor?
-Seu pai, filho. Não está nada bem, ele estava trabalhando muito nos últimos meses. -Deu um longo suspiro e como viu que eu estava prestando atenção, continuou...
-Na verdade, desde que foi morar longe, eu mal o via. Acho que ele estava com medo de você não voltar... Ele se tornou mais distante, chegava tarde saia com o Vicenzo para alguns clubes e fumava o dobro.
- Filho, eu não sei o que aconteceu com ele, não o reconhecia...
-Nem ele, nem eu esperava você ter coragem de sair do país.
-O que aconteceu com ele, mãe? -Perguntei tentando desviar do assunto, que para mim é hipócrita.
Na real, eu não sentia peso na consciência por ter ido, foi a melhor decisão que tomei na minha vida.
-Infarto fulminante, foi na empresa faz umas 5 semanas, ele foi socorrido há tempo. Mas, depois disso a respiração dele não voltou a se normalizar.
-Ele respirava com dificuldade, os médicos estranharam e pediram para fazer uma bateria de exames.
Ela deixou uma lágrima cair. O rosto ficou vermelho igual a quando eu cheguei.
A ficha caiu, não havia novos procedimentos faciais, era choro.
Minha mãe estava chorando minutos antes de eu chegar.
-Ele vai ficar bem? -Perguntei.
-Não sei, os resultados não pararam de chegar. Quando passou do terceiro dia internado ele começou a tossir muito, trataram com antiflamatorio porque a garganta dele teve um avermelhidão repentino.
-Nada adiantou, filho. -Finalizou com os olhos marejados.
-Por que não me disse? Por que não me ligou?
-Filho, vocês nunca se deram bem e essas notícias não se dão por telefone. Só eu estava pensando, tinha que ficar na empresa, cuidar do seu pai, assinar papéis, reuniões, o assunto a seu respeito eu não sabia como resolver.
Ela pegou o exame e disse:
-Esse é o penúltimo. Estou com medo de abrir. -Confessou.
-No quadro clínico dele, os médicos viram uma mancha no pulmão e pediram esse exame. -Respirou fundo e engoliu seco.
-Espirometria é o nome, ele mede o quão bem os pulmões estão trabalhando. -Passou a mão pelo cabelo, colocando uma mecha no ombro.
-Eu estou aqui, mãe. Pode abri-lo.
Foi eu falar, ela tomou coragem e abriu.
Não sei descrever o que está passando na minha cabeça agora, preciso de um tempo que eu não tenho.
Sou tão ruim?
Não consigo esboçar nenhuma reação, nenhuma lágrima, nenhum remorso.
Alberto sempre me tratou da forma mais cruel que existia e juro que até hoje eu não sei o porquê.
Sempre me culpei por tudo, cara eu era SÓ UMA CRIANÇA.
Me proibiu de comer doces, de sair, ficar muito na frente da televisão, deixar meu quarto desarrumado.
Eu só podia estudar, estudar, estudar.
Acredito que seja por isso que eu tenha faltado tanto da escola, já sabia o que eu tinha que "aprender". Quando completei 17 anos e "comprei" meu carro, ele não conseguia mais me segurar em casa.
Foi aí que eu me tornei rebelde, só queria festas, bebidas, sexo... Queria me divertir, fazer o que eu não consegui durante anos, ser feliz.
Mas abusei e repeti de ano, dali para frente vocês já sabem.
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Amor por uma perdição
RomansaOlívia Dantas, uma adolescente de 17 anos, cursando o último ano do ensino médio, nerd, amargurada, triste com a vida, querendo ter um pouco de paz e sossego, uma garota que já teve o seu coração quebrado e, por isso, jurou nunca mais se apaixonar p...