Capítulo VI

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Meses depois

Depois daquela tentativa fracassada, Teodora tomou uma decisão : deixaria seu filho partir. Era doloroso, muito doloroso. Tomás era o filho amado, uma pessoa tão bondosa.. Mas ele tinha que seguir seu sonho. Então, ela chamou ele de madrugada. 

— Sim, mamãe? — ele perguntou.  Teodora acariciou o rosto do filho.

— Meu filho. Queres mesmo ser frade dominicano? — ela perguntou.  

— Sim, é o que desejo. — respondeu Tomás. Teodora olhou para os lados. 

— Pois então vá, Tomás. Seja livre. Eu percebi que você é como um passarinho. Eu não posso te prender para sempre numa gaiola.. Eu darei um jeito de conter seu pai e seus irmãos. — ela respondeu. Tomás ficou com lágrimas nos olhos.

— Mamãe.. Oh, mamãe.. — ele soluçava. Ela o abraçou. 

—  Você deve partir pela janela. Darei um jeito. — ela continuou. Tomás enxugou as lágrimas. 

— Deixe-me ver Constanza antes de partir. — ele pediu.  Teodora o conduziu até a porta de um quarto. Era uma porta de madeira e tinha uma pequena janela aberta no centro. Tomás encostou o rosto ali. Viu, no meio do escuro, Donna Ottavia deitada no chão, ao lado da cama onde Constanza dormia. Constanza.. Ela parecia tão quieta, sonhando com algo tão belo.  Ele olhou para a mãe.

— Posso entrar no quarto? — ele perguntou. Teodora arregalou os olhos.

— Mas.. Você é homem. — ela respondeu.

—  Deus fará distinção de homem e mulher no dia do julgamento? Quero apenas me despedir de minha irmã, não farei nada demais. E creio que uma despedida não será algo desonroso. — retrucou Tomás. Teodora discretamente abriu a porta do quarto.  Tomás entrou e se deparou com Constanza, deitada na cama, sonhando. O rosto parecia dourado, como de uma imagem sagrada, iluminada pela luz da lua. Os olhos pequenos estavam fechados e as mãos juntas ao peito, perto do laço da camisola.  Tomás se ajoelhou. 

— Não demore, Tomás. — disse Teodora.  O jovem garoto suspirou.

—  Adeus, principessa. — ele disse, depois de um tempo. Logo, se levantou e foi até a porta. Observou Constanza pela última vez. Mas reparou que ela acordava. Ela estava com os olhos abertos, o encarando docemente.  Tomás ficou com as bochechas coradas de vergonha e medo por ter quebrado uma regra, então, rapidamente saiu do quarto e fechou a porta. 

— Tomás? — ela perguntou.  Tomás respirou fundo. 

— Ela acordou. — ele disse para sua mãe.

— Farei ela dormir. Vá pela janela. — ela respondeu. Tomás pegou sua bolsa e pulou pela janela. Estava indo para sua nova vida.

Panis Angelicus : a história de Tomás de AquinoOnde histórias criam vida. Descubra agora