Ano do Senhor de 1251, 6 meses depois
Tomás então deixou a Colônia (Alemanha) e foi para o Condado de Aquino. Chegando lá, se deparou com Dona Ottavia chorando.
— Dona Ottavia! Pelo amor de Cristo, o que houve? — ele perguntou. Dona Ottavia arregalou os olhos.
— Tomás? És tu? Milagre de Deus! — ela respondeu. Olhou para os lados.
— Signora Constanza está moribunda. Há meses ela passa por extrema agonia, vive cuspindo sangue e suando frio. Tememos que ela não sobreviva. — a pobre mulher continuou. Tomás correu até o quarto. Abrindo a porta, viu sua mãe, Teodora, ajoelhada ao lado do leito de Constanza. A pobre menina, de apenas 17 anos, parecia delirar. Estava pálida, os lábios roxos, os olhos perdidos. Tomás se aproximou.
— Constanza. — ele disse, a voz trêmula pelas lágrimas. Constanza se levantou e sorriu, fraca.
— Tomás! Oh, meu Tomás — ela chorava. O abraçou com todas as suas forças. Era uma das poucas coisas que ela queria antes de morrer : ver seu amado irmão.
— Minha pequena, queres matar teu irmão de preocupação? Não deveria ser assim. És forte, mais forte do que imaginamos. — ele suspirava.
— Então Deus foi tão bondoso comigo que atendeu minhas preces! Eu pude te ver antes de partir desta vida.. Como estás? Estás mais gordo, mais corado, mais alegre! Realizou seu sonho! Pelo menos, não se esqueceu de mim, não é verdade? E nem vai! Oh, e nem vai, não é? Não estou sempre na tua memória, no teu coração? Não lembrarás o quanto te amei, o quanto te fui devota, o quanto apoiei tua missão? — ela perguntou, às vezes sendo interrompida por soluços. Tomás não pôde evitar ao ouvir aquilo. Desabou em lágrimas.
— Constanza, minha principessa, por que me tortura com essas palavras? Como posso te esquecer? Quando eu estava sozinho nesse mundo, esquecido em dor e sofrimento, você nasceu! Você cuidou de mim, você me trouxe alegria! Deus sempre falou comigo por meio de você, minha irmã! E mesmo depois de eu ter sido cruel, ter te deixado, você nunca deixou de me amar e de rezar por mim. Se sou o que sou, é por sua causa! Nunca vou te esquecer.. Como posso? Se lembrarem de mim na história, lembrarão de ti também. E se você morrer, quero ir contigo, nem que leve anos! Quero ir contigo, somente contigo. Deus foi bondoso e me permitiu te ver uma última vez. Deus é bondade. — ele respondeu. Constanza se apoiou nos braços de Tomás. Ela encostou a testa gelada nas mãos dele. Respirava fraco.
— Amo-te, Tomás. Reze por mim. — ela pediu, em lágrimas.
— Amo-te, Constanza, irmãzinha. Sempre, sempre rezarei. — ele murmurou. Então, Constanza olhou para o céu e esboçou um sorriso.
— Tomás, oh Tomás! Os anjos.. Os anjos cantam para mim! Eles cantam.. Para nós. — ela gritou, em êxtase. Constanza arregalou os olhos e soluçou. Então, ela fechou os olhos. Estava gelada. Estava morta.
— Constanza? Constanza! — gritou a pobre mãe deles. Tomás estava assustado. Sua irmãzinha havia morrido em seus braços. Ele fez o que fazia com ela quando era criança ; pressionou o nariz e os lábios naquela bochecha pálida e gelada.
— Constanza.. Misericordioso Deus, por que tirou ela de mim? — ele perguntou. Então, ele deitou a cabeça no peito gelado dela e começou a chorar feito criança. Sua única companhia havia deixado este mundo.
— Seja lá quem você viu.. Ele te levou em paz. — ele acrescentou. Ele segurou as mãos geladas e as beijou de maneira sôfrega. Teodora abraçou seu filho.
— Oh, Tomás.. Sofro tanto em perder minha filhinha! — ela chorava. Tomás a encarou, com certa indignação. Lindulfo estava nos aposentos, junto de Piero.
— Ela reclamava! Ela reclamava de dor, de sofrimento, de sangramento no coração! E vocês a negligenciaram! Se Constanza está morta agora, a culpa é de vocês! Se no mosteiro aceitassem mulheres, eu teria levado ela comigo — Tomás gritou, a voz cheia de cólera. Lindulfo agarrou o pescoço do filho mais novo.
— Não seja tolo, pirralho! Você nos culpa pela morte de sua irmã! Onde você estava quando ela ficou doente? — ele respondeu.
— E vocês? Onde estavam quando Constanza mandava cartas para mim, dizendo que sofria de dor e sangramento, dizendo que ia morrer? Onde estavam quando ela reclamava de solidão? Onde estavam? Ou vocês estavam mais preocupados com a reputação de vocês? Com o status? Com a salvação? — retrucou Tomás. Todos ficaram em silêncio. Sentiam culpa, remorso. Sabiam que estavam errados. Lindulfo largou Tomás.
Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa.
Logo, chegou o dia do enterro. Cantavam os hinos fúnebres, incluindo um “Miserere mei Deus”. Tomás olhou uma última vez para Constanza, já sem vida. Ela vestia um vestido preto com detalhes dourados, um rosário dourado nas mãos pálidas e imóveis. Os olhos fechados, os lábios sorridentes. Logo, Constanza foi enterrada. Tomás deixou lírios no túmulo de Constanza ; eram suas flores favoritas. Ela havia partido em paz. Tomás não sentia medo, estava confiante de que sua irmã estava na Glória Eterna.
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Panis Angelicus : a história de Tomás de Aquino
Historical FictionToda figura histórica tem a sua origem. De certo, isso não seria diferente com um dos maiores filósofos da humanidade, que é considerado por muitos um santo, que provou a existência de Deus usando a filosofia e a razão : Tomás de Aquino. Este livro...