Capítulo IV

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A caminho de Roma

Naquela tarde chuvosa, Tomás andava, quase morto de cansaço. Resolveu parar um pouco. Sentou-se na grama e observava as damas da região lavando as roupas no rio.  Viu então um passarinho com a asa ferida.

— Pobre criaturinha. Alguma pessoa má deve ter feito isso. — disse Tomás, segurando o passarinho. Envolveu a asa ferida com uma faixa.

— Deves estar sozinho, não? Eu não gosto da ideia de ficar sozinho. Mas às vezes a solidão nos ajuda. — ele completou. Ele viu alguns passarinhos voando na direção oposta. 

— Vá! Seja livre! — ele disse, soltando o passarinho. Vendo o passarinho ir embora, Tomás resolveu se refrescar um pouco. Começou a molhar o rosto com a água do rio, quando percebeu que estava sendo observado. 

— Quem está aí? — ele perguntou.  Mal teve tempo de olhar para trás e foi agarrado pelos braços. Reconheceu : eram soldados de seu irmão, Piero.  Resolveu ceder à cilada.

Chegando em casa, Tomás viu sua mãe, inconsolável, e o pai, furioso. A pequena Constanza estava sentada na escada, tristonha.

— Tomás! Meu filhinho! — chorava Teodora, o abraçando. Lindulfo estava furioso.

— Que pouca vergonha foi esta, Tomás? Simplesmente foge de casa. E com a ajuda de Constanza! Você foi irresponsável! Um moleque irresponsável! Colocou sua irmãzinha em risco, colocou a si mesmo em risco, a nossa reputação em risco! E tudo por um sonho louco? Tomás, se nós fazemos isso, é pelo seu bem. Queremos um futuro promissor para você e seus irmãos! Não jogue isso no lixo. Vá para seu quarto. — ele disse. 

— Paenitet me pater, erravi. — respondeu Tomás, num tom cabisbaixo. Foi para seu quarto e ficou em penitência.   Se recusava a sair do quarto e raramente via gente. Então, ouviu uma batida na porta. 

— Sou eu. Tua irmã, Constanza. — disse a voz. Tomás abriu a porta e se deparou com uma pobre Constanza descabelada, chorosa e com a perna roxa. 

— Tomás! Perdão, Tomás! Eu juro que tentei evitar.. Tentei fazer com que eles não te achassem! Mas Piero me agrediu! Não pude evitar. Se eu negasse novamente, era capaz dele fazer uma loucura. — ela se ajoelhou. Tomás ficou assustado : nunca vira Constanza daquela forma. Ajudou-a a levantar. 

— Se eu soubesse que Piero faria essa.. Essa estupidez, eu teria te levado junto! Me perdoe, de verdade. Eu que fui o tolo, eu que fui o irresponsável. Eu sou seu irmão mais velho, eu tenho a missão de zelar por você. Você não tem nada a ver com a minha decisão. E ele foi um tremendo idiota em ter te batido! Que ele fosse homem, que batesse em mim! — ele disse, indignado.  Então, abraçou a irmã mais nova. 

— Me perdoe. — ele disse, em lágrimas. 

Panis Angelicus : a história de Tomás de AquinoOnde histórias criam vida. Descubra agora