Capítulo II

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Ano do senhor de 1244

Constanza estava na sala de aula, enquanto Tomás a ensinava algumas coisas sobre filosofia. De repente, Donna Ottavia abriu a porta da sala.

- Signore Tomás. O Signore Federico Valebello te espera no andar de baixo. - disse Ottavia. Tomás estava pensativo. Pensava seriamente em desobedecer seus pais e se tornar dominicano. Precisava conversar com alguém sobre isso.

- Diga para ele esperar. Terminarei de conversar com Constanza. - ele respondeu. Vendo-se sozinho (ao menos em partes), percebeu que a irmã o encarava com curiosidade.

- Os porcos não se escondem quando sujos de lama. - começou Constanza. Bom e velho provérbio popular saindo da boca de uma criança. Basicamente quer dizer : "não importa quanta sujeira você faça, não pode a esconder". Boa tática.

- Então sou um porco. - disse Tomás, rindo.

- Depende se sua sujeira é grande. - respondeu a garota. Tomás suspirou.

- Quero me tornar um frade dominicano. - ele começou a falar. Constanza o olhou confusa.

- O que é isso? Um tipo de padre? - ela perguntou.

- Sim. Como os frades franciscanos, sabe? Eu quero me dedicar ao serviço da fé. Quero ser alguém.. Quero servir a Deus de alguma forma. - ele respondeu.

- E quem te impede? - perguntou Constanza. Tomás a encarou com o rosto entediado.

- Preciso mesmo citar quem me impede? - ele perguntou. Constanza suspirou.

- Você sabe que papai e mamãe não vão mudar. Piero e Matteo muito menos. Você tem 19 anos, não é mais uma criança. Você já deve decidir por si. - ela começou. Segurou as mãos de Tomás e apertou com força.

- Tomás. Deus tem um propósito para ti. Se meu conselho for valer algo, por favor, não jogue esse propósito na lama. Deus não dá essas missões para qualquer um. - ela continuou. Tomás se sentiu comovido ao ouvir isso.

Deus não dá essas missões para qualquer um.

Uma força maior provavelmente estava usando a pequena Constanza de Aquino, uma ingênua menina de 10 anos, para tentar tocar o coração do irmão mais velho. Ele respirou fundo e abraçou Constanza.

- Que Ele te abençoe sempre, amada irmã. Porque, no meio de tantos adultos sem fé e sem entendimento, Nosso Deus deu à você, uma criança que ainda está desenvolvendo a mentalidade, o dom da sabedoria e da fé. - ele murmurou. Afastou o abraço e ajeitou o véu de Constanza. Então, a encarou docemente.

- Prometa para mim, Constanza, que nunca vai perder a fé e nunca vai deixar de estar com seu irmão. Prometa para mim que, quando crescer, você vai continuar sendo sábia e ajudando tantas pessoas, com a graça de Deus. - ele pediu. Constanza sorriu.

- Eu, Constanza de Aquino, te juro solenemente. - ela respondeu. Tomás riu e beijou o topo da cabeça da irmã mais nova.

- Amo você, minha pequena. Agora, tenho que ir. Federico já deve estar querendo minha cabeça numa bandeja. - ele disse, se levantando. Constanza acenou com a mão. Ele foi até Federico e, juntos, foram até o centro dos dominicanos. Tomás assinou um documento, no qual se dedicaria à vida religiosa. Agora bastava enfrentar sua família.

Panis Angelicus : a história de Tomás de AquinoOnde histórias criam vida. Descubra agora