Capítulo XIV

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A caminho de Roma, Ano do Senhor de 1274

Tomás havia sido convocado para ir à Roma, por ordem do papa. Ele teria de mostrar uma obra no Concílio. Sentia em seu coração que não voltaria vivo. Com ele, estava o fiel Reginaldo e outros irmãos dominicanos.  Tomás rezava consigo mesmo :

“Dai-me uma boa hora”.  Reginaldo olhou para Tomás.

— Irmão Tomás? Está tudo bem? — ele perguntou. Tomás sorriu.

— Sim. Apenas estou deixando de impedir o vento de soprar ou o fogo de queimar. — o teólogo respondeu. 

Então, sentiu sua vista turva. A pele ficou pálida e ele começou a suar frio. Suas mãos tentavam segurar as rédeas do burro no qual estava montado, mas tremiam. Ele parecia que teria uma convulsão.  Começou a ter uma crise de pânico ali mesmo.

— Santa Maria Mãe de Deus, Santa Maria Mãe de Deus… — ele murmurava consigo mesmo, quase num delírio.  Não se sabe o que aconteceu. Era como se estivesse fora de si. Quando voltou à realidade, reparou que estava passando em frente à uma árvore. O animal estava descontrolado. 

— Santa Maria, Santa Maria.. — Tomás disse, assustado.  Então, quando percebeu.. 

Ele havia sentido uma pancada forte na cabeça. Havia batido a cabeça numa árvore. Ele sentiu como se algum osso de sua cabeça tivesse quebrado, ou um sangramento interno. Sentiu como se os ossos de sua cabeça fossem rompidos e a pancada tivesse sido forte.  Ele arregalou os olhos. Soltou as rédeas. 

— Santa Maria, Santa.. Santa.. Maria. — ele repetiu pela última vez.

 Então sua mente começou a entrar numa espécie de colapso. Começou a se lembrar de coisas da infância, quando era um menino frágil, ingênuo e indefeso, que vivia no colo de sua mãe. Depois se lembrou dos estudos, da fé, Deus, a Virgem Maria, os santos, os anjos, suas obras, Constanza.. 

Tudo aquilo colidiu na sua mente.  Tomás não aguentou tudo aquilo. Caiu de cima do burro. 

—Irmão Tomás! Irmão Tomás! — gritou Reginaldo, o carregando.  Tomás tinha suor frio e chorava como criança. 

— Não.. Não, Não.. Eu não estou pronto.. Não posso ir, não posso.. — Tomás repetia. Um dos frades desceu do burro. 

— O que ele tem? — perguntou o jovem.

— Ele está delirando. A cabeça dele está inchada. Procure um médico. — respondeu Reginaldo. Então, olhou piedosamente para Tomás. 

— Seja forte, Tomás. Não nos deixe ainda, amigo. — ele disse.   A ajuda veio. Tomás foi levado para um mosteiro. Lá, tentaram socorrê-lo.  Mas talvez não houvesse mais jeito. 

Panis Angelicus : a história de Tomás de AquinoOnde histórias criam vida. Descubra agora