Capítulo 3.

585 112 270
                                    

Gradualmente, a neblina se desmancha e o teto ganha formato. A acesa lâmpada fluorescente balança criando sombras nos blocos de concreto. A princípio, é complicado qualificar os traços ilustrados, são somente borrões na vertical. Mas, ao piscar as pálpebras inchadas, eu sou capaz de identificá-las: reforçadas barras estão ao meu redor. Não há como sair, me esconder, os babacas me trancafiaram em uma jaula.

Em um impulso alarmado, sento-me e bato a testa no topo da pequena prisão. Não consigo acariciar a danosa palpitação, já que as minhas mãos estão acorrentadas. Puxo numa tentativa de soltá-las. E a melodia da corrente ecoando por todo o recinto, me fornece um único aviso: desta vez, eu estou fodido.

Não adianta gritar ou espernear, ninguém virá me salvar.

Sendo assim, inalo lentamente o O². Ao exalá-lo, faço um biquinho com a boca, para diminuir o atrito do dente e da língua, efetuando com que o fôlego seja mais harmônico.

A técnica funciona um pouquinho. O mínimo para clarear meu juízo e averiguar o espaço. Ainda estou na mesma sala de antes, o sangue do Porsche, por conta da mordida, seco no soalho; a faca caída junto das cordas, a cadeira partida e o pedaço que o Kinn usou para me atacar está sobre o documento com as minhas informações.

Eles não tiveram o trabalho de limpar o local. Reputo o porquê: irão queimar qualquer evidência com a minha carcaça. Estão só ambicionando que eu ponha as cartas na mesa e aprove a aniquilação.

Não! Nunca.

Papai me impôs a lutar por anos e não será neste subterfúgio que desistirei. É outro obstáculo, e no final, conquistarei o título de vitorioso, ou a vovó jamais irá me perdoar por obrigá-la a enterrar mais um ente querido.

À vista disso, no escopo de não prejudicar aqueles que me amam, eu procuro a saída.

Ela está atrás do meu ser.

Encolhido no cubículo, eu tombo para o lado e paro rente a portinha. Examino-a, o cadeado é do modelo de haste longa, não é tão vigoroso. Viro-me com apuros e, deitado de barriga para cima, instauro a tal contagem.

Um...chuto as grades e elas não se mexem, nem sequer um centímetro. Emprego mais força e Dois...um pingo de esperança me agrega com o ranger emitido. Três...

— Impressionante, para um zé-ninguém, seu instinto de sobrevivência é bastante aflorado. Só não decidi se isso é coragem ou burrice — A voz, aquela estonteante voz, me petrifica. — O que me leva a perguntar, qual dessas duas opções você é?

Ele...ele tinha de estar apodrecendo aos sete palmos da terra, entretanto, igual a pesadelos embaixo dos travesseiros, nenhuma lenda urbana fica para sempre adormecida.

Vegas Theerapanyakul emerge do esquecimento.

E rodeado do vapor adocicado do seu cigarro, caminha, tranquilamente, ao meu encontro.

— Vegas?

— Oras, alguém sabe o meu nome — Com presteza, ele se agacha na frente do cárcere. A sua postura declara uma aura de soberania mesclada num teor sórdido. — Neste caso, vamos dispensar as apresentações e ir direto ao assunto. Me diga, Pete. Você é corajoso ou burro?

É uma encruzilhada?

Um modo de compreender como é meu psicológico?

Duas alternativas: uma certa e a outra errada?

Se não der a resposta desejada, o que acontecerá comigo?

— Eu não sei — Murmuro um meio-termo.

The AmnestyOnde histórias criam vida. Descubra agora