— Espionando, porquinho? — É a sua voz que me transfere novamente a tribulação da cena.
O enjoo rói o meu estômago. Não sou capaz de avaliar o cutelo com o resto de epiderme arrancada do indivíduo seminu. Sentado na cadeira, ele está enfurnado nas correntes, as vigas sufocam os membros e distorcem o pus nojento dos hematomas.
— V–Vegas.
— Bem-vindo a minha festinha particular — Ele abre os braços e roda a lâmina prateada. O ar é cortado em um zumm frenético. — Gostou da fantasia? Serve para não me sujar. Aceita uma?
Sem embargo, giro os meus tornozelos e corro de volta à saída. Entretanto, Big agarra os meus ombros e me carrega para o centro da sala gélida. No teto mofado, a lâmpada pisca, pisca, pisca, no compasso da palpitação no meu pomo de adão.
— Para que a ignorância? Seja educado e venha dar um olá ao nosso convidado. Ontem, esse pulguento, estava louquinho para entrar na sua casa, mas o Kinn o deteve.
Finco o meu juízo em Vegas. Existe uma risada arrogante na cavidade manchada de células-tronco. Ainda assim, ele está com o semblante inescrutável e as pupilas escuras revelam um conhecimento que me trava em apreensão.
— Hãn?
— Ali na mesa — Mira o cutelo para o móvel posicionado no canto remoto do recinto. — Veja por si mesmo.
Não me desloco, não há razão, a máscara de cachorro é o único acessório servente para decodificar o que está sucedendo.
— E-ele é um Retalhador da Primeira Família? — Gaguejo. — Esse é um dos caras que está me perseguindo?
— O nome dele é Tawan — Revela. — E meus parabéns, você acaba de ganhar o prêmio de obviedade do ano.
Cravo as minhas unhas na palma da mão, não em virtude do sarcasmo do meu sequestrador. Nem ligo, combina com o seu estilo. Nessa circunstância, o meu fogo está canalizado ao homem que tentou exterminar os meus parentes; e quando menos percebo, estou ajoelhado na frente do sujeito. Pouco me interessa a expressão firme de Vegas, ou a postura estupefata de Big. A cegueira, deferindo trilhões de delírios, dizima o meu psicológico.
O examino. A face está esfacelada, todavia, ele está sorrindo semelhante a um condenado vagando pelo corredor da morte. Não há apavoro patenteado nos seus gemidos, está mais para um afronto por saber que está no comando.
— Pete Saengtham.
— Hey! — Vegas exclama ao pressionar a ponta afiada no maxilar do detento. — Já avisei para ficar quieto.
— Você está vivo.
— Não vou repetir!
— Por acaso você confia nessa gente? Na Primeira e na Segunda Família?
A pergunta me tange. Não expectava que a primeira declaração a evadir dos seus dourados dentes fraturados seria essa. Soou como: qual é o seu time?
Estou inábil em responder com sinceridade.
Eles não me ofereceram nada para ser um deles.
Existe exclusivamente um meio-termo.
— Não, não confio, mas uma metade quase me aniquilou e a outra parte está me protegendo.
Tawan inclina a cabeça e a longa franja castanha não tampa o efeito efêmero desenhado nos seus olhos. Jamais havia experienciado uma mordacidade dessas. Eles não brilham, nem cintilam, não são mundanos.
— Protegendo do que exatamente? Por favor, eles não são seus guardiões, cedo ou tarde, você se queimará no Inferno. Não há escapatória, fedelho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Amnesty
FanfictionQuando a vida de Pete é virada de cabeça para baixo por um terrível incidente, ele se vê em uma corrida desesperada pela sobrevivência. Perseguido por uma ameaça misteriosa, ele busca refúgio em um mundo onde a lei é ditada pelos mais poderosos. No...