Capítulo 6.

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— Pete — Meu tronco é sacudido. — Ei, Pete.

— Diga — Sonolento, suspiro com o semblante enfiado nas fronhas macias.

— Acorda aí. Estamos atrasados.

Sem um pingo de disposição, abro meus olhos e me deparo com Arm agachado ao lado na cama. O terno violeta adequa-se perfeitamente à armação dos óculos prateados.

— Atrasados para quê?

— Jantar — Sem enrolar, ele remove os cobertores de cima do meu corpo, me fazendo tremer com o frio percorrendo as persianas. — Você dormiu a tarde inteira, brô. Até achei que tinha ido dessa para melhor! Como consegue ter tanto sono?

— Experimente passar pelo que passei e terá a sua resposta.

— É, pensando bem, é compreensivo — Ri. — Mas bora, já são sete horas e não estou a fim de ouvir um monte de chatice da London só porque não te acordei.

— Você não pode trazer um prato para mim?

— Tenho cara de empregada, filhota? — Arm se levanta. — Além do mais, é contra as regras comer no quarto. Mania do Vegas.

Regras e um milhão de regras.

— Que saco!

— Pare de reclamar e se troca — Exige girando os calcanhares.

Grunho. Não interessa onde ou quem seja, eu detesto que me desperte. Especialmente quando nos meus acovardados sonhos, estou plenamente sã e salvo da realidade.

Ergo-me e as minhas articulações estalam; um sinal de que não estou tão anestesiado das minhas delimitações. Após o banho e as gordas lágrimas, estou me sentindo como um humano. Em virtude de que, acordar em um colchão e não em uma jaula, causa uma discrepância dentro do meu âmago.

Não é tanta. O acessório sexual sobre o paletó preto é um lembrete de que estou sendo tratado igual a um animal e supervisionado por um esquadrão de transtornados.

Inferno. Quando essa tortura irá zerar?

Sim, estou ciente de que sou apto de colocar um basta nessa palhaçada. As minhas mãos estão soltas e Arm está distraído com o pôster do Pantera Negra. Há uma tática ensinada durante o treinamento de boxe que o apagaria. Em contrapartida, o questionamento do Vegas emerge no meu raciocínio obscuro: Você é burro ou corajoso?

Nem um, nem outro.

Eu não sou suicida.

Por esse viés, me elevo dos lençóis e piso no carpete. De espreitadela, verifico se não estou sendo espionado e tiro o pijama, o tacando na cabeceira. Visto o traje social. A calça de seda está por cima da camiseta branca. Elas estão vagamente apertadas pela nossa dissemelhança de estatura e massa muscular. O que não me aborrece. Calço os tênis e amarro os cadarços. Por último, eu arrumo a franja em qualquer posição.

— Pronto.

Ao virar, ele me enaltece: — Tá estiloso.

— Obrigado — O agradeço por costume. Se estou bonito ou feio não é algo para me exaltar. Nunca liguei para a imagem e não será neste contexto que irei. A única coisa que eu gostaria é uma escova de dentes. — Hm, cadê a minha mochila?

— Não faço a menor ideia — Pega o paletó e me entrega. — Venha, vou te apresentar para o restante da galera — Destarte, antes de partimos, o ponho e Arm me prende novamente nas algemas.

Então, andando pelo corredor iluminado pela lua cheia, sigo-o até as escadarias.

A Wolfpack é uma residência de quatro andares, capaz de encobrir o céu noturno. Os paredões são feitos de pedra robusta. Os vitrais nas janelas lançam padrões de sombras pelo chão de mármore polido. No hall principal, o espaço é enfeitado por um lustre que propaga uma luz fraca nas réplicas de quadros célebres. Móveis antigos e poltronas aveludadas providenciam um toque decadente no ambiente. Cada sala exterioriza uma nova faceta de enigmas. E, na mesma proporção que exploro as passagens, seguranças armados com calibres de longa distância me vigiam.

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