Capítulo 16.

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Não estou em Bangkok.

Com base no cenário com as árvores projetando os vértices em cima de lares sob o clima sem poluição, por conta da baixa quantidade de automóveis nas ruas, eu distingo o quão longe estou de casa.

O carro se locomove pelo percurso. Nele, o motorista ligou o rádio e uma canção nacional soa pelas caixas de sons. Por um certo modo, eu agradeço a voz angelical da cantora, pois, usurpa o silêncio constrangedor criado entre nós dois.

Vegas está perdido na miragem através da janela e brinca com o seu anel de morcego, deslocando de um dedo para o outro. E, embora esteja encostado no assento, ele está preocupado com alguma coisa.

Quero questionar o que está o atormentando. Não é que eu vá resolver, sou péssimo com conselhos, não interessa se seja profissional, pessoal ou amoroso. Contudo, sou um prestigiado ouvinte. Às vezes, até demais. O que é bom, visto que necessitamos extinguir o peso do mundo.

E ele tem muitos.

Tanto os da atualidade, quanto do pretérito. Carregar a história das duas famílias sem repetir não é fácil. Nem é que eu me compadeça completamente, mas com as camadas que possuo, apesar de não ser do exato nível, eu compreendo o seu ser lunático.

— Eu sinto muito — Escapa dos meus lábios.

— Pelo o quê? — e ele indaga sem me encarar.

— Tudo — Falo baixinho. — O fato do seu pai ter te espancando, os funerais dos seus familiares, as torturas contra a sua irmã e primo e também por essa Guerra.

— Quem abriu o bico? — Prossegue imerso no panorama lá fora.

— O Porsche — Respondo. — Mas por favor, não briga com ele. Ele disse que podia contar.

Vegas sorri. Não é frio, ou sarcástico. É de uma espécie que não sou incapaz de identificar.

— E quando foi isso?

— No jardim da casa de repouso. Depois de sair do quarto, fiquei encucado com o que você gritou para o Korn. Sobre ter ferrado com vocês, como o seu pai.

— Está se justificando muito, porquinho — Ele resmunga colocando o acessório no indicador.

— Sim, eu sei — Mordo o interior da bochecha. — É que estou tentando ligar os pontos até decifrar o porquê de eu ser uma peça tão necessária.

— Então pare de tentar — Me fita e sinto um calafrio. — Ainda que seja um de nós, os nossos problemas não são seus. Não seja gentil com a gente. Desprezamos qualquer tipo de pena.

— Não é nada disso.

— Não minta, caramba! Acha que não percebi a sua rápida mudança de atitude desde o meu escritório? Você ter realizado a porcaria da ressuscitação e nem ter fugido hoje, comprova a teoria. Eu te avisei, não queira nos conhecer. Você não vai gostar. Se ponha logo no seu lugar — Dita em um sermão.

Ele está correto. Não deveria mudar o meu comportamento, muito menos com esses sujeitos mentalmente instáveis.

Todavia…

— Ai, de novo com essa? Por quê? Por que não vou gostar?

— Porque não.

— Não é resposta, Vegas. E eu conheço o meu lugar. Mais ou menos, mas o que estou fazendo e por qual motivo, não importa. Não será você que irá me deter. Eu não sinto dó nenhuma. Na real, a minha raiva aumenta a cada dia que vejo sua cara. Porém, estou nessa merda, tanto quanto vocês e me desculpa, que ao contrário de você, eu sou a droga de um ser humano.

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