RETORNO AO TRONO

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Oceano

A vampira tentou achar explicações no fundo da sua mente para entregar de mão beijada para bruxa, explicando o acontecimento daquela noite, mas não tinha o que explicar, era nítida a verdade.

Estava encostada na parede, se lamentando, esperando pela bruxa, seu rosto, um sinal de vida.

Era verdade que não sabia se expressar como gostaria e poderia ter ido várias vezes ao quarto e simplesmente batido à porta para verificar o bem-estar da sua visitante, mas não teve essa coragem.

Adelaide era muitas coisas, mas nunca, em hipótese alguma, deixava de se preocupar com sua tripulação, se estava em seu navio, era sua obrigação protegê-los e cuidar mesmo que custasse sua vida.

Não que a bruxa precisasse de algum tipo desse cuidado, ela sabia se cuidar sozinha, era claro como a água do oceano que os cercava, mas era bom se conferisse uma vez ou outra se estava tudo bem.

Mas não o fez e isso se tornou uma ferida aberta, exposta para qualquer um ver.

— Você anda perdida em seus próprios pensamentos, mais que o normal, gostaria de compartilhar? — Adelaide se virou para Ângelo, os lábios antes brancos, tingidos de vermelho-vivo.

— Lyse — foi a única resposta da vampira, antes de terminar de beber todo o líquido da taça.

—É verdade que a senhorita Lyse não sai mais de seus aposentos, a não ser que seja necessário, por que se preocupa? — Adelaide quase revirou seus olhos, no tom violeta naquele momento.

— Você sabe o porquê, Ângelo — a vampira respondeu entre dentes, desejando não ter acabado sua taça de sangue, sentindo sua garganta voltar a arder.

— Você deveria resolver esse problema, Adelaide — o homem voltou a sua forma de corvo e saiu para fora do navio.

Sem esperar pela resposta, deixando a vampira se engasgando com seus próprios pesadelos e frustrações.

•••

Floresta

Lyse queria desistir.

Não seria problema nenhum viver em um navio enfeitiçado pelo resto da sua existência.

Se as coisas fossem fáceis, claro. Mas não eram.

Daqui poucos anos perderia a memória e tinha Adelaide, era doloroso demais ser evitada pela vampira e nem entendia o porquê. Talvez fosse porque sempre se dava bem com todos ou pelo menos tentava.

Porém Adelaide insistia em manter certa distância.

A Lyse não era burra, sabia do efeito que o sangue de bruxas causava em vampiros, mas podia ajudar, era só a vampira querer, mas ela não queria.

Sempre se esgueirando pelos corredores, evitando olhar em seus olhos nos momentos raros que se esbarravam.

Desde aquela noite ficou confusa.

Mas, se seu feitiço nunca desse certo, tinha que estar preparada para tudo e por isso, aos poucos, voltou a se enturmar.

Conversar com a tripulação, ajudar no que precisava, jantar com Ângelo e até as suas saídas à noite enquanto bebia seu chá de ervas morno.

Foi assim, após poucas semanas da sua volta, que encontrou com Adelaide, olhando as estrelas e os olhos brilhando com lágrimas que não podia derramar. 

Lua de Sangue - AdelaideOnde histórias criam vida. Descubra agora