POÇÃO DA IMORTALIDADE

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Morcego

Adelaide odiava essa palavra.

Maldição.

Carregou o significado dessa palavra a vida toda e até após, um castigo dos céus.

Abençoada — Adelaide rangeu os dentes.

— Chame como preferir, mas eu sinto. Em todo lugar, por toda a parte —Lyse quase sussurrou.

A vampira cerrou os punhos.

Afinal de contas, era sua escolha. Todos estavam lá, porque ela deu uma segunda chance para eles, o que nunca recebeu em toda sua existência.

— Vocês, bruxas, tem passagem para todo e qualquer lugar do mundo, mas não aqui. Você entende isso, certo? Agora, me diga, por que você veio? — Lyse não se encolheu no lugar, mas seu cérebro deu um nó. Ela não sabia, simplesmente não entendia.

— Já disse que eu não sei, se sabe quando estou mentindo, já devia ter notado que eu estou sendo sincera — a bruxa bebeu mais um gole de água, dessa vez sua garganta ardia.

— Você consegue ir embora? — Lyse ainda não havia tentado.

— Preciso tentar — a vampira concordou com a cabeça.

— Lhe darei tudo o que for necessário — a bruxa concordou com a cabeça, porque sabia que era um erro estar ali.

Erro de cálculo. Erro de feitiço. Erro do universo. Qualquer erro, era uma falha.

Ângelo estava presente, mesmo que em silêncio, seu olhar ainda era como um abismo, o do tipo que você gostaria de pular.

O corvo e a vampira trocaram um olhar. Era obscuro e cruel.

•••

Abelha

Lyse pensou se aguentaria viver toda sua vida ali.

E odiou esse pensamento.

Era frio demais, deprimente demais e amava o campo, suas flores. Ali era vazio, uma imensidão de azul, sem fim.

— Obrigada, irei partir o mais breve possível. Já que foi um grande erro pousar aqui- grande erro.

A frase ecoou pelo ar, a vampira apertou a taça entre seus dedos e se obrigou a tomar o resto da bebida, ficando de pé poucos segundos depois.

Ela era rápida, rápida demais.

Os vampiros tinham comportamentos instáveis. Lyse havia se esquecido por alguns minutos, porque a vampira a sua frente que usava vestido vermelho e tinha olhos lilás, estava serena demais.

— Ângelo, ajude-a — o corvo voou, saindo do ombro da sua capitã, deu uma volta pelo teto do salão e ao aterrissar já era um homem.

— Claro, senhorita Barmherzig — Lyse não tinha um nome, mas pelo menos descobriu um sobrenome.

Um chamamento, caso precisasse.

— Estarei em minha sala resolvendo assuntos pendentes, quando voltar para o jantar quero que a visita não esteja mais presente — suas palavras foram sucintas, breve e em milésimos não estava mais no salão.

— Me acompanhe, senhorita Lyse — a bruxa abriu um grande sorriso, gostava mais do corvo.

Que ironia, gostar mais do mensageiro da morte ao lado do assassino.

— Só Lyse, não precisa me chamar de senhorita —o corvo. Homem, sorriu, era um sorriso muito bonito.

— Só aceito pedidos da senhorita Barmherzig — Lyse quase deixou uma risadinha escapar.

— Tudo bem, como preferir. Aonde vamos? — curiosas iguais, Ângelo observou.

— Uma sala, para você realizar o feitiço com mais privacidade — a bruxa concordou com a cabeça.

— Acho muito desrespeitoso da sua capitã nem se despedir — o homem-corvo reprimiu um sorriso.

— Devia agradecer por ela não ter arrancado sua cabeça — Lyse deu uma gargalhada, ecoando por todo o interior do navio.

— Se não arrancou, é porque deve servir para alguma coisa — Ângelo encolheu seus ombros, sem querer responder.

Sem se atrever a se meter em assuntos que não eram seus.

— Chegamos — o homem abriu a porta, era uma sala normal.

Lyse entrou primeiro, Ângelo logo atrás.

— Do que precisa? — Lyse encolheu os ombros, não sabia.

Mas abriu seu chapéu de tecido e enfiou a mão dentro, tão fundo que Ângelo estreitou os olhos, ligeiramente.

Um frasco, único.

O recipiente tinha a cor transparente, mas o líquido era amarelo.

Lyse pingou uma gota na língua e, sem se despedir, fechou os olhos e começou a recitar um feitiço. Ângelo não entendeu a língua sussurrada, mas notou outra coisa.

A luz verde, havia um brilho ao redor de Lyse, como uma aura e disso ele entendia um pouco.

Mas, de repente, a luz sumiu, Lyse abriu os olhos e nos seus olhos havia terror.

— O feitiço falhou. 

Lua de Sangue - AdelaideOnde histórias criam vida. Descubra agora