UMA ESTRELA DE SALVAÇÃO

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Solidão

Era estressante.

Tudo era estressante, não havia um dia, desde que Lyse chegou, que Adelaide tinha paz, já fazia semanas que a bruxa estava no Redenção.

Seu feitiço falhou, uma vez, duas vezes... quinze vezes.

Quinze vezes em único dia.

O karma era real e Adelaide queria cuspir mariposas se livrando de um encantamento.

Até Ângelo caiu nos encantos da bruxa, ela se enturmou muito fácil. Claro que iria, os outros também eram humanos, bobos e alegres.

Diferente da vampira, fria, amarga e morta.

Era mais fácil para Lyse, ela podia sair ao sol e eram nesses momentos que corria pelo convés cantando alguma música idiota e conquistando o coração dos homens jovens e bobos que sonhavam com uma chance.

Adelaide revirava seus olhos vermelhos todas as vezes que via um sorriso na direção de Lyse. Ela tinha algo a mais, ela era algo a mais.

— Se remoendo mais uma manhã? — Adelaide não olhou em sua direção.

— Como você anda atrevido —Ângelo riu, sem levar o comentário a sério, porque se existia alguém nesse mundo que podia tratar Adelaide como amiga, algo mais próximo, esse alguém era o Corvo.

Ângelo foi um presente a Adelaide um dia após sua transformação, nunca mais se separaram. Não existia um sem o outro.

— Preciso de sangue — não era normal Adelaide responder isso, muito menos pela terceira vez na semana.

A vampira evitava o máximo que podia a sua sede, ao mau que a corrompia.

— É ela, não é? — Adelaide olhou em direção ao corvo, seus olhos no tom mais escuro possível de vermelho que podiam chegar.

— Não quero pensar nisso — Ângelo se sentou, mantendo alguns metros de distância.

—Ela te enfraquece, Adelaide e você é o coração do Redenção, todas essas pessoas morrerão se saírem daqui — a vampira acenou com a cabeça, concordando.

— Eu sei — mas isso não a impedia.

•••

Comunidade

O navio não conseguia cultivar flores, mas isso não impedia Lyse de criar alguns ramos e buquês.

A bruxa distribuía flores para mulheres e homens, dos mais novos aos mais velhos. Sempre com um sorriso no rosto e um aperto de mãos.

Era fácil demais para Lyse se enturmar, era natural como o nascer e o pôr do sol, da mesma maneira, alguns gostavam mais que outros.

Não era difícil notar que a vampira mantinha certa distância, o máximo que podia, até ia jantar em horário diferente.

Mas, Ângelo, às vezes lhe fazia companhia, era falante igual, sua risada era tão boba quanto a sua e, por alguns segundos, se pegava imaginando como seria a risada da mulher que só usava vestidos com preto e vermelho.

Na sua segunda semana no navio tomou vinho. Era ruim, seco e amargo, desceu queimando por sua garganta.

Preferia bebidas adocicadas como chá com mel. Começou a tomar a bebida todas as noites enquanto vagava pelos corredores frios e vazios.

O lado do navio que frequentava não era o mesmo em que os humanos ficavam, demorou alguns dias para notar isso.

Naquela madrugada, na hora de tomar seu chá, esbarrou com a vampira. Não nos corredores, mas no convés, olhando para a lua, uma taça em mão - era sangue - e o vento agitando seus cabelos mais brancos que a neve.

— Não devia estar dormindo? — a vampira não precisou se virar para notar que havia alguém atrás de si.

— Não tenho essa necessidade, durmo por capricho — Lyse se apoiou na borda do navio e olhou para o mar.

Tão azul... tão espesso.

—Quem dera eu pudesse fazer coisas por capricho — a frase foi soprada com o vento.

A vampira bebeu um pouco do líquido vermelho-vivo da taça. O cheiro também se espalhando pelo ar, junto com a frase de segundos atrás.

— Posso perguntar uma coisa? — que não seja algo sobre o sangue. Adelaide pensou.

— Vá em frente — bebeu mais um gole do sangue, sua garganta queimando a cada segundo.

Essa aproximação era tão perigosa.

— Qual é seu nome? — a vampira sentiu como se tivesse voltado a ser humana e seu coração tivesse falhado a batida no exato segundo que a pergunta foi feita.

— Adelaide — um sussurro, rouco e dolorido.

— É um nome bonito — Lyse estava sorrindo, olhando para o horizonte dessa vez, não mais para o mar, para imensidão.

— Eu sei — não era a resposta que queria dar. Não era, não era, não era. Mas então, por quê?

Mas Lyse riu, uma risada fofa.  

Lua de Sangue - AdelaideOnde histórias criam vida. Descubra agora