Cap II

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_Senhorita? Tentou a jovem esticando sua mão na tentativa de talvez me trazer para a realidade
Mas até o momento, o que era realidade ali, afinal era um jogo apenas isso. Será que foi baseado em algo que já existia, ou talvez algum trote da minha amiga, mas ela pouco sabia que estava jogando tal coisa.
_Desculpe, me chamou do que ? Perguntei deixando a moça um pouco preocupada
_Senhorita Angel, a senhorita está bem? Quer que peço para que o doutor venha vê-la?
_Não, acho que não! Eu acho que sonhei, desculpe! Falei voltando para a beira da cama e sentando para estabilizar um pouco estava meio tonta
_A senhorita me dê licença, irá se juntar aos outros no café ou prefere comer no quarto?
_Irei descer, obrigada! Respondi
_Chamarei alguém para ajudar a se vestir, falou se retirando
Não demorou muito para que voltasse, e pouco pude olhar pela janela, mas consegui notar que tinha um jardim digno dos de filmes, pessoas trajadas com roupas elegantes iguais aos livros que lia empolgada. E havia carruagens, com cavalos lindos e jovens robustos que pareciam nobres.
_Venha senhorita, vamos te deixar linda para o café!
_Conto com isso, sorri amigavelmente e ambas se olharam
_Não disse que ela estava estranha, cochichou
_O que poderá estar tramando, questionou a outra
'Será possível que não percebam que ouvi tudo?'
Mas realmente no fim, estava igual uma princesa. Fui guiada por elas até a sala de jantar onde estava aparentemente o restante da minha família. Com uma mesa realmente farta, jamais em toda minha existência havia visto algo assim.
_Bom dia, falei em tom que todos pudessem escutar
_Decidiu descer? Perguntou aparentemente a matriarca da família
_Está um dia lindo demais para ficar presa no quarto, comentei antes de me sentar
_Desaforada como sempre! Levantou furiosa
_Não quis ser indelicada, só comentei um fato.
Tudo era como os livros, todos elegantes como se sempre houvesse festas, mordomos servindo e puxando cadeiras para todos como se fôssemos incapazes de tal coisa. Tentei comer algo e não parecer inexperiente por ter tantos talheres disponíveis. Me sentia um polvo para haver tantos, e imagine lavar a louça desse simples café, ou daqueles dias que acontecem as festas de luxo.
_O que fará durante o dia? Perguntou o chefe da casa
_Ainda não sei, pensei em passar na biblioteca.
_Ok, não se esqueça que seu noivo vem hoje para jantar, esteja apresentável.
'Noivo? Ah, o Joseph que me trocará em breve por Liz...'
_Te ajudarei a escolher um lindo vestido, minha irmã! Falou a mesma saindo dos meus pensamentos para a fala
_Claro, aprecio o gesto! Respondi _Se me dão licença, falei me retirando
Caminhei por aquele longo salão e me senti em um grande labirinto. Mas por ser uma boa jogadora, sabia onde ficava cada cômodo até aqueles ditos como secretos. Era uma vantagem saber da história e o que aconteceria nos próximos capítulos.
Pedi para uma carruagem me levar até a biblioteca onde só sairia até achar alguma informação que me levasse até o meu mundo, pois não queria acabar como a vilã. Sem contar que os dias voam e logo seria segunda-feira novamente, tenho meu emprego, minha casa, meu sonho.
Cheguei na biblioteca e não pude deixar de notar como era imensa, como era uma obra de arte feita nos mínimos detalhes por alguém realmente eficaz.
_Senhorita? Falou o possível cocheiro do qual estendia sua mão para que eu descesse
_Ah, sim! Muito obrigada!
_Claro, madame! Respondeu se curvando levemente
Entrei cuidando para não me perder, nunca tinha entrado na biblioteca antes, afinal Liz não era do tipo que lia, e como nunca joguei com outra a não ser ela, nunca havia notado algo tão surpreendente nesse lugar.
_Posso ajudar, senhorita? Perguntou uma jovem dama
_Claro, eu procuro registro e tudo que tiver sobre Artelya!
_Claro, por aqui! Disse me guiando em meio a tantas estantes
Como era possível um mundo irreal ter tantos livros, ter tanta coisa para falar. Era de encher os olhos tantos livros bem organizados e mesas à disposição para ler ali mesmo se preferirem. Era realmente lindo, se não fosse pelo jardim, diria que esse era o meu lugar favorito.
_Aqui senhorita, esses são todos os registros e anotações sobre nossa gloriosa cidade!
_Agradeço! Respondi me acomodando em uma cadeira e a mesma se retirou me deixando sozinha com tantas informações
Li cada um e senti que minha cabeça iria explodir em qualquer momento. Era muita coisa, e ainda tinha mais para ler. Suspirei e me deu por vencida aquela tarde, afinal logo seria noite e teria um jantar para comparecer.
Levantei mas senti minhas pernas cederem, como se não tivesse controle sobre elas, como se não fosse mais minhas.
_Cuidado, alguém me acudiu
_Ah, obrigada! E desculpe, fiquei um pouco zonza... Falei com um tom de fraqueza
Ler e não comer só me deixou exausta, era como se tivesse limpado aquela mansão inteira e não tivesse nada no estômago e com isso minhas forças tivessem acabado.
_Não tem problema, precisa de alguma ajuda? Perguntou o jovem puxando a cadeira e me ajudando a sentar
_Se puder dizer para meu cocheiro vir me buscar aqui, seria ótimo!
_Também posso levá-la! Não confia em mim?
_Não é isso, mas não quero incomoda-lo ou tirá-lo dos seus afazeres.
_Não será nenhum incômodo, afinal já li tanto quanto a senhorita, respondeu analisando minha pequena pilha de livros nada finos
_Obrigada, então! Falei pouco antes de me apoiar em suas mãos firmes e caminhar até o fim da escada onde fui recebida pelos meus funcionários
_Entregue, respondeu o jovem rapaz disponibilizando um belo sorriso
_Fará algo hoje a noite? Perguntei tendo uma pequena ideia
_Não tenho nada marcado, por quê?
_Gostaria de jantar comigo? Seria uma forma de agradecer pelo fez por mim agora, estaria no chão se não fosse o senhor.
_Senhor não, me chame de Antoni!
_Sou Angel, respondi me curvando levemente
_E sobre o jantar, acho que prefiro marcar em outra ocasião. Porém, posso escoltá-la se insiste!
_Eu adoraria, falei dando minha mão ao mesmo que a pegou sem pensar duas vezes e viajou juntamente ao meu lado
Conversamos incansavelmente, ele era alguém realmente gentil, porém tamanha gentileza não era vista no jogo, e muito menos sendo dada a mim. As pessoas eram gentis com Liz, minha irmã, da qual era protegida como um diamante. Acho que fiz meu primeiro amigo.
Consegui ver uma aglomeração me esperando por minha devida demora, sabia que iria acontecer e chegar acompanhada seria ótimo para tentar cancelar um casamento que teria seu fim em breve.
_Uma recepção calorosa, esperam ansiosamente por sua querida filha! Não podia esperar menos, comentou o jovem também notando às pessoas a minha espera entre eles, meu noivo.
_Alguns são realmente gentis, outros são cruéis por eu ser boa demais. Entre eles está o noivo, que estão tentando me forçar a casar.
_Sinto muito, senhorita.
_Tudo bem, obrigada pela companhia e pela boa conversa. Falei um pouco antes de sentir a carruagem parar
O cocheiro abriu a porta, disponibilizou sua mão para que eu descesse e assim eu fiz, calmamente.
_Onde esteve tanto tempo? Perguntou à mulher que devia me amar como filha e não me odiar como inimiga
_Na biblioteca como disse que iria, respondi abaixando minha cabeça
_Não acredito, deveria estar fazendo mal para todos como sempre faz
_Não é verdade, ela estava mesmo na biblioteca! Respondeu o meu defensor que saiu da carruagem para minha defesa
_E você? Estava traindo seu noivo? Questionou
_Angel? Perguntou se fazendo, de inocente como se não tivesse um romance com minha irmã mais nova
_Não é verdade, a senhorita não fez nada disso! Tentou
_Tudo bem, Antoni! Obrigada por tudo, outro dia nos falaremos melhor, respondi me despedindo e entrando para dentro
Escutei vozes me seguindo tentando falar comigo, tentando pedir algum tipo de explicação, mas evitei qualquer coisa, era boa nisso, estava acostumada com isso na vida real. Subi até meu quarto onde tranquei a porta e fiquei só, escutando as vozes ainda na minha porta, esperando sua desistência em algum momento.
Até que cessaram, e adormeci.

Angel  Onde histórias criam vida. Descubra agora