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ʟɪʟɪᴛʜ ᴘᴀᴠʟᴏᴠᴀ

Eu poderia afirmar que foi tudo muito rápido, que eu não tive tempo de pensar ou reagir, mas eu estaria mentindo. Nesse tipo de situação, a pior coisa que você pode fazer, é não fazer nada, você se sente inútil e culpada, por coisas que você não poderia mudar.

A glock apontada para a minha cabeça, meus pais amarrados, aquele homem discutindo com os invasores pelo celular. Tudo isso acontecendo, e eu estática, sem mover um músculo, sem fazer nenhum barulhinho. Espancaram os meus pais, e me obrigaram a assistir enquanto eles eram ameaçados e humilhados. Aquilo não era pessoal, eles não se conheciam, mas havia desprezo, ódio e ressentimento nos olhos daqueles homens durante toda aquela invasão, mas estranhamente a única coisa que me submeteram a fazer foi olhar, assistir meus pais morrerem. 

─── ⋆⋅Três horas antes⋅⋆ ──

— Desliga isso.- Revirei os olhos pegando o controle, desligando a TV.- Não faz bem para você assistir essas besteiras…- O homem disse, se sentando ao meu lado no sofá, com um jornal em mãos.
— Era só um filme…- Ele estreitou os olhos, um sinal claro de que eu deveria apenas obedecer calada.- Pai, quando a mamãe vai chegar?- Ele suspirou largando o jornal em cima das próprias pernas.
— Daqui três minutos no máximo, por que? Precisa de algo?- Neguei imediatamente, me levantando do sofá, me afastando da figura irritada.- Sua mãe me disse que está dormindo com a janela aberta e as luzes acesas, o que nós conversamos sobre isso?- Me virei novamente para o encarar.
— Eu estava tendo pesadelos, não me sinto bem em lugares fechados…- Ele revirou os olhos e deixou o jornal de lado.
— Querida, nós já conversamos sobre isso, tem vários quartos na casa, quartos maiores onde você vai se sentir melhor, mas insiste em ficar naquele cubículo! Então, só te peço que siga as malditas regras, deveríamos ter te colocado em um quarto nos fundos…- Ele dizia, olhando pro fogo aceso da lareira.- Essa sua teimosia me mata, ou você segue as regras, ou serei obrigado a te tirar daquele quarto a força.- Suspirei concordando, indo em direção a cozinha, vou preparar o jantar, fazer o prato que a mamãe gosta, dois adultos irritados é quase a mesma coisa que o inferno, sem exagerar.

Trabalhoso, sem dúvidas. Espero ser recompensada por isso, faço de tudo pela aprovação desses dois, e ainda assim a única coisa que recebo em troca, são sorrisos. Eu me mato de estudar, e nem posso sequer ter amigos ou conversar com outras pessoas a não ser meus pais, e seus tediosos amigos. Desde de que me entendo por gente, nunca tive a permissão de pôr os pés para fora de casa, solidão me rodeava. Sempre que tínhamos que nos mudar, era na calada da noite, e só vi o mundo lá de fora pelas janelas dos aviões e dos carros. Mas isso não significa que não sei sobre ele, é a minha maior obsessão, estudei muito sobre o mundo fora dessas paredes, e há várias coisas que eu quero conhecer e experimentar, até por que, a comida também é muito sem graça, só ganho doces ou outras coisas do tipo em meu aniversário. Ficar trancada em casa sabendo que o mundo atrás dessa porta é tão grande, me deixa totalmente frustrada e ansiosa. Os amigos do meu pai, foram os únicos homens que eu já tive contato na vida, meu pai sempre diz, que se eu já tenho ele, não preciso de mais nenhum. O que eu acho ridículo, já que a mamãe tinha um pai, e agora tem o meu pai! Por que eu não posso ter um marido, ou um namorado também? Papai fica irritado só de pensar nisso, eu evito dizer que mesmo nunca tendo a oportunidade de ter amigos, sinto falta de ter.

Já faz mais de cinco anos que luto contra a depressão por causa de tudo isso, sou monitorada por meus pais, vinte e quatro horas, e se eu tentar algo contra a minha vida, para fugir dessa casa entediante, eu teria que viver em meu quarto, eu provavelmente seria algemada ou algo do tipo. Eu abusava dos antidepressivos, me faziam esquecer de tudo por um tempo, mas até isso eles tiraram de mim. Mesmo vivendo essa vida miserável e tediosa, eu amo os meus pais, já os questionei sobre o porquê de tudo isso, e a resposta foi mais do que convincente, com provas e tudo mais. Eu não quero ser morta antes de conhecer e experimentar tudo o que eu quero, então sigo as regras e obedeço os meus pais.

— Mathias, também recebeu isso?- Mamãe mostrou a tela do celular para ele, assim que entrou em casa. Ela estava linda, mas o corte na boca e o olho roxo, não passou despercebido por meus olhos atentos, nem a maquiagem pesada que ela usava conseguiu esconder.- Devo me preocupar?- Papai, balançou a cabeça negativamente, e ela deu de ombros se sentando ao nosso lado na mesa de jantar.- Que cheiro maravilhoso, bom trabalho filha!- Ela sorriu para mim, orgulho estampado em sua face.
— Como sabe que fui eu? Talvez tenha sido o papai…- A mulher gargalhou enquanto se servia, meu pai revirou os olhos.
— Esse homem?- Apontou para ele.- Ele não tem essa capacidade. Cozinhar, não é um dos talentos do seu pai, todos nós sabemos bem disso.- Ela ainda ria, o homem fingiu estar ofendido colocando a mão no peito, e eu dei risada da cena.
— Conversei com ela sobre a janela e as luzes, e deixei bem claro que não quero mais ouvir sobre isso, não é bonequinha?- Ele sorriu, levando um pedaço de frango do garfo até a boca. 
— Lily, se você se sente desconfortável naquele quarto, vá dormir em outro querida, irritar os seu pai com essa baboseira é ridículo…- Apenas concordei, em silêncio. Esse assunto já estava encerrado, mas eles gostam de reforçar tudo o que me dizem. Terminei minha refeição em silêncio, junto dos dois. Mamãe estava se empanturrando de comida, ela só faz isso quando gosta de verdade, ela não deve ter se alimentado bem hoje, então presume, que nenhum dos dois iria sair daquela mesa tão cedo.

— Vou pra cama!- Eu estava claramente cabisbaixa, e mamãe percebeu.
— Espera, eu tenho uma coisa para você!- Ela disse animada, pegando uma caixa rosa de uma das milhares de sacolas que ela tinha trago da rua.- Aproveite, pois não verá outro tão cedo.- Imediatamente me animei, pela cara de desaprovação do papai, deve ser doce. Peguei a caixa de sua mão, e me despedi, subindo as escadas indo em direção ao meu quarto.

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