Capítulo 01

70 5 0
                                    

Um sinal de 'fechado' é colocado na frente do balcão de ingressos. O relógio parece implacável. As estradas ficam menos movimentadas, os postes de luz aos poucos se apagam; uma sombra melancólica se projeta sobre o garoto de camisa branca, parado na entrada do teatro, segurando dois ingressos de cinema amassados em sua palma. Ele se apoia contra uma coluna. O cansaço quase o faz cair no chão. Ele está tão cansado que não se importa com o que os outros pensariam.

Não que haja alguém aqui para se importar comigo de qualquer forma, ele pragueja amargamente.

Falando objetivamente, ele deveria ter previsto isso. Como alguém pode ser tão estúpido quanto ele? Quantas vezes isso já aconteceu antes? Quantas vezes seu suposto melhor amigo o deixou na mão por planos melhores? Quantas vezes? Ele perdeu a conta. Isso vem acontecendo há anos. Mas algo é igualmente patético e devastador desta vez.

— Vamos lá, Hoon! Não nos encontramos há tanto tempo. Aposto que você também quer assistir! 

Como você desejar, capitão. Estarei lá. Última sessão na sexta-feira, certo?

E sim, foi a última sessão. O último dia até. O filme sairá do cinema amanhã. Ele estava querendo assistir desde que foi lançado, mas não sozinho, nunca sozinho. Era coisa deles. Eles sempre iam juntos ao cinema. Mas agora, ele falha em lembrar quando foi a última vez que estiveram juntos em um. Faz semanas? Meses? Anos? Novamente, ele perdeu a conta.

Um arrepio de impotência escapa dele. Ele se sente tonto. Talvez seja porque ele pulou o jantar. Ele quer correr para casa e se enterrar sob as camadas de humilhação que sobem pela sua pele. Os funcionários do balcão de ingressos o olham com pena e ele meio que quer abraçá-los e dar um tapa ao mesmo tempo. Ele não precisa de pena! Ele só precisa de alguém em quem possa se apoiar.

—Jake! Jake!

Ele está alucinando. Não há como o mais novo aparecer tão tarde. Ele precisa dormir. Sim, ele vai para casa e dorme. Ele se afasta um pouco da coluna para começar a caminhar em direção ao ponto de ônibus quando uma mão agarra apressadamente seu ombro.

— Deus, Jaeyun–espere–porra — Sunghoon consegue dizer entre seus arfantes rápidos. O aperto solta do ombro de Jaeyun enquanto ele abaixa as mãos nos joelhos. Jaeyun se vira para olhá-lo com uma expressão indescritível. Em algum lugar ele está um pouco chocado, mas isso vai demorar para se instalar depois que a decepção passar.

— Você está — Jaeyun olha para o relógio — Atrasado — ele termina com um estalo de língua.

O rosto de Sunghoon se transforma em uma mistura de culpa e nojo. Nojo?

— Eu— ele tenta recuperar o fôlego — Eles–eu tinha que estar lá, desculpe, eles simplesmente...eu não consegui sair...Eu realmente queria, eu–eu sinto muito, Jaeyun-ah.

Jaeyun-ah. E é isso. Isso é tudo o que Sunghoon precisa para convencer Jaeyun até mesmo a encobrir um assassinato por ele. Ele venderá sua alma se for pedido. Uma vozinha em sua cabeça o cutuca novamente, diz-lhe repetidamente para não deixar isso passar, para não deixar Sunghoon sair tão facilmente porque esta não é a primeira vez que isso acontece e definitivamente não será a última vez que ele será abandonado, mas – mas como ele pode? Como ele pode suportar olhar nos olhos dele e ficar bravo?

Então, ele faz o que sempre fez. Ele ignora os alarmes de advertência, engole suas reclamações, pisa em sua autoestima e sorri; sorri para o garoto ainda agachado diante dele.

— Está tudo bem — ele estende a mão — Pelo menos você apareceu.

Sunghoon estende a mão para ele e se levanta com mais culpa nublando suas feições — Mas você perdeu o filme. Você queria assistir tanto. Por que esperou por mim? Quando eu não esperei por você, Hoon? — Você deveria ter entrado!— Não teria sido a mesma coisa sem você.

— Deixe pra lá. Você sabe que acho chato assistir filmes sozinho. — Jaeyun escolhe dar de ombros.

— Então por que você não foi para casa? Por que ficou aqui no frio—

— Cala a boca — ele o interrompe — Você comeu alguma coisa? Deveríamos verificar algumas barracas. Talvez tenham algo para nós se nos apressarmos.

Sunghoon murmura — Eu te devo tanto, Jake, tanto.

— Sim, você deve, e é exatamente por isso que o jantar de hoje à noite é por sua conta — Jaeyun afirma, cruzando os braços. Sunghoon responde com um sorriso.

E se o coração de Jaeyun disparar com isso, ele realmente não questionaria.

𝗘𝗻𝗶𝗴𝗺𝗮 | 𝗝𝗮𝗸𝗲𝗵𝗼𝗼𝗻Onde histórias criam vida. Descubra agora