Capítulo 08

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Sunghoon é meio um simplório. Não que ele contaria isso a alguém, ou que fizesse isso de forma excessiva. É mais uma característica subjacente que raramente, ocasionalmente, aparece para lembrá-lo de sua existência. Considere isso, por exemplo. Jaeyun está sentado no sofá, com as pernas cruzadas e com um notebook em seu colo enquanto se concentra em digitar seu ensaio sobre a Vilanização de Personagens Queer na Literatura Vitoriana (sim, parabéns ao Sunghoon por lembrar disso). Os óculos descansando no nariz estão a um centímetro de cair e, por mais que Sunghoon queira ir lá e consertar, ele também acha isso meio fofo. Então, ele fica a alguns metros do balcão da cozinha, lavando a louça silenciosamente enquanto observa um Jaeyun amassado, absorvido em sua pequena bolha acadêmica.

É louco como Jaeyun não mudou nada. Sunghoon só precisa olhar para ele uma vez para ser lembrado do menino de sete anos que ele acidentalmente atingiu com sua bicicleta. Enquanto qualquer outra pessoa em sã consciência teria o xingado, esse retriever dourado humano tinha intenções bem diferentes. Jaeyun lembra aquela tarde de outono depois que uma chuva lavou a umidade do verão, quando o cheiro da grama molhada ajuda você a adormecer em um sono sem sonhos. Sunghoon desesperadamente busca o conforto que Jaeyun lhe traz e, ainda assim, é ele quem o afasta. Ele chama isso de paradoxo obsessivo.

Embora ele espere não estragar tudo, as coisas têm melhorado nas últimas duas semanas. Desde que pediu desculpas a Jaeyun (e bem, implorou para que ele não abandonasse seu eu lamentável), eles estão passando mais tempo juntos, seja em ensaios de dança ou sessões de skate ou apenas curtindo o dormitório para maratonar k-dramas inúteis. Está tranquilo e fácil. Nunca é difícil estar com Jaeyun.

— O que foi, Sr. Arma Acadêmica? Você veio aqui só para me arrastar para um complexo de inferioridade?— Sunghoon comenta enquanto se joga no sofá. Os óculos finalmente caem do nariz de Jaeyun e caem sobre o laptop com um barulho alto. Ele passa a mão cansada pelo rosto, suspirando nas palmas.

— Esse projeto parece interminável. Quero me matar — ele olha para Sunghoon com uma expressão de desânimo, ao qual o outro apenas resmunga.

— Você diz isso toda vez e acaba arrasando, então cale a boca — Jaeyun faz uma careta com isso — Ei, quer desabafar sobre isso? Talvez ajude.

— Não me faça testar sua paciência. Por que se dar ao trabalho de ouvir-me repetir as mesmas besteiras toda vez que enfrento um problema remotamente desafiador? Tenho certeza de que você tem coisas melhores para fazer.

— Pare de machucar meus sentimentos, Sim Jake. Você não tem me incomodado com sua estupidez desde o ensino médio? É tarde demais para desistir agora. Vamos, encare isso e fale. Estou ouvindo.

— Bem, essa é uma maneira de colocar isso — Jaeyun revirou os olhos, mas não consegue parar de sorrir, — Sim, então o ponto é...os textos que preciso considerar são...

No meio disso, Sunghoon se desconcentra. Mas não é como se sua atenção estivesse desviada. Não, seu foco permanece em Jaeyun, apenas um pouco fora do que ele está dizendo.

— ...Então, eu me perguntei por que não posso escolher Dorian Gray em vez disso...

Ele nota como as sobrancelhas de Jaeyun estão extremamente franzidas a ponto de parecerem grudadas.

— ...Porque Wilde estava fora do armário...

Ele nota como Jaeyun agita os braços de maneira descontrolada para expressar fisicamente sua exasperação descontrolada.

— ...É idiota, para ser honesto...

Ele nota como Jaeyun alterna entre duas vozes para imitar as declarações de seu professor.

𝗘𝗻𝗶𝗴𝗺𝗮 | 𝗝𝗮𝗸𝗲𝗵𝗼𝗼𝗻Onde histórias criam vida. Descubra agora