Capítulo 22

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Moon

Quando anoiteceu nós achamos uma espécie de biblioteca para passar a noite. Parecia que alguém já tinha usado aquele lugar de abrigo antes, pois a janelas estavam tampadas com jornal e papelão e não haviam zumbis ou sangue. Tara pegou o máximo de água da caixa de uma privada para que pudéssemos ferver e eventualmente beber. Nojento, mas melhor que a morte. Maggie ficou responsável por rasgar alguns livros e jogar as folhas em uma lixeira, enquanto Eugene fazia fogo de um jeito muito engenhoso. Ele era inteligente, admito, mas ainda assim muito estranho. Eu procurei alguns cobertores ou travesseiros, não achando muita coisa, afinal, era uma biblioteca. Glenn, Abraham e Rosita estavam empurrando as estantes de livros para fazer pequenos "quartos" pra nós. Aquele ruivo safado ainda achou uma poltrona e empurrou pra dentro do seu compartimento. Eu nem quis perguntar como ele e Rosita iriam caber ali, pois sabia que não era pra dormir, e sim pra trepar. Ninguém merece ficar ouvindo os gemidos desses dois.

Pra minha sorte, Abraham foi vigiar um tempo e pude aproveitar pra tentar dormir antes de eles começarem os trabalhos. Sentei no meu humilde cobertor enquanto estava cercada por duas sessões de livros de romance, e uma de aventura. Peguei uma lanterna que achei mais cedo e passei em volta, procurando um bom título pra ler, mas antes que pudesse escolher, ouvi batidas na estante da frente.

– Entra. – eu falei como se estivesse mesmo em um quarto ou escritório e vi Rosita empurrar a estante somente o suficiente pra poder entrar ali.

– Oi. – ela disse meio tímida, se aproximando.

– Oi. – falei meio desconfiada, vendo ela sentar no chão a minha frente.

– Não tivemos tempo de conversar. – ela deu uma olhada na minha perna e eu me senti meio nervosa com o que viria. – Quer que eu troque seu curativo?

– Não. Eu to bem. – neguei tentando não soar rude.

– Você ainda me odeia? – perguntou meio triste.

– Um pouco. – admiti.

– Você sabe que eu... – já sabia que ela ia dizer que se arrependia, como disse quase dois anos atrás, então a cortei.

– Eu sei. To feliz que deu certo com o Abraham. – concordei com a cabeça. – Nunca imaginei que você gostava de ruivos.

Eu disse a última parte mais divertida.
– E eu não imaginei que você gostava de loiros caipiras. – ela retrucou no mesmo tom e nós demos risada. – Como conheceu ele?

– Nós nos conhecemos no dia em que eu estava trazendo o Lee pra cadeia. Acabamos parando umas cidades antes de Atlanta por causa disso tudo e nos encontramos. Depois conhecemos o Glenn. – resumi bastante e cortei a parte da Clementine, pois ninguém mais precisava ficar sabendo da merda que eu fiz.

– E aí você deixou o Lee? – ela perguntou um tanto triste.

– Foi. – concordei em meio a um suspiro. – Quando eu fui pro Fort Benning, tive medo de alguém querer se vingar dele. Então disse pra ele ficar que eu o acharia depois, o levaria a um lugar seguro ou o mundo voltaria ao normal, sei lá. – dei de ombros e em seguida neguei com a cabeça me sentindo uma idiota. – Eu pensei que eu era inteligente como o Eugene. Achei que ia curar tudo. – ri fraco, ironicamente. – Deu tudo errado no Fort. Saí de lá e fui até a fazenda do meu avô. Coincidentemente o Daryl tava lá com o resto do grupo. Achei o Lee zumbi uns dias depois.

– Sinto muito. – ela disse apenas, no mesmo tom de antes.

– Tudo bem. Eu to com o Daryl agora. – dei de ombros outra vez e sorri de leve.

– E ela? – Rosita perguntou do nada e eu franzi a testa.

– Ela quem?

– Sua filha. – ela falou mais baixo e senti meu coração acelerar. – Você abortou mesmo?

Runaway II - A New Frontier | Daryl Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora