Capítulo 3

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“Pai? Pai? Sou eu, a Moon. Eu, ah... Conheci um cara. Ele me disse que as vezes os soldados não voltam pra casa porque estão presos em um programa de proteção a testemunha. Disse que eles mudam de nome para não serem encontrados, porque estão jurados de morte. Eu achei um cara chamado Shawn Devil na lista telefônica e eu pensei em deixar esse recado, porque pensei que era você. Eu sei que não pode atender uma ligação, porque eles vão te achar se ouvirem a sua voz, mas... Eu... Eu te amo. Sinto saudades de você. Se... Se você não for o meu pai, me desculpa. Mas responde, ta bom? Por favor.”





Shawn

A voz dela não saía da minha cabeça. Aquele recado. Aquele recado que eu ouvi tantas vezes. Quando batia a saudade dela, eu ouvia de novo e de novo. Até que minha esposa apagou todas as mensagens da secretária eletrônica. Mas aquilo tinha ficado gravado na minha mente. Pra sempre.

Me confortava ficar repetindo. Como se fosse uma música. Era loucura, mas assim sentia que ela estava perto. Já que não tinha nenhuma foto pra olhar. Moon era tudo que eu tinha agora. Havia acabado de perder meu pai. Talvez ainda tivesse minhas irmãs, mas acho que só a minha filha me amava de verdade. Isso se ela não tiver morrido assim como...

Fechei os olhos com força. Não posso chorar. Estou caminhando sozinho. No meio da floresta, com uma única arma e uma mera lanterna. Lágrimas vão atrapalhar a minha visão. E eu já chorei muito por ela.

Estranhamente, a cena de Hershel morrendo mais cedo foi dolorida, mas não doía tanto quanto a primeira vez em que perdi alguém que eu amava mais do que a mim mesmo. Eu nem sequer tive a chance de me despedir. Lhe abraçar uma última vez. Brincar com ela. Assistir um filme da Barbie.

Ri fraco por me lembrar daquilo, mas a vontade de chorar veio mais forte. Dez anos atrás eu ganhei uma segunda chance, e falhei novamente. Quando eu reencontrei a Moon, e fui perdoado, parecia que eu era um novo homem. Incompleto, mas novo. Mas cada vez que eu a perdia, sentia que eu era um completo inútil. Não merecia a filha que eu tinha. Não merecia aquele perdão. Eu não podia mantê-la a salvo. Nem ela, nem ninguém.

Sorte minha ela ter aquele palhaço velho e feio que ela chama de namorado. Sorte minha Carol ter ido embora sem que eu precisasse dar um fim naquilo que nunca nem deveria ter começado. Eu não posso me aproximar de mulher nenhuma. Todas morrem no fim. E eu só tenho que assistir. Sentir. Uma por uma. Todas que foram importantes pra mim indo embora. Como uma maldição.

Apesar de sentir raiva de Carol pelo que ela supostamente teria ou não feito a minha filha, eu não queria que isso acontecesse com ela também. Ou com a Sophia. Era esse o fim que eu merecia. Sozinho. De novo. Procurando alguém que nunca vou achar. Mas dessa vez, graças a Deus ou infelizmente, eu não tinha mais uma filha que estava me esperando voltar. Isto é, se ela estivesse viva. Mas ela já não tinha mais dúvida nenhuma do que pode ter acontecido comigo. Eu estou morto se não aparecer. Ponto final. Sem papo de prisioneiro de guerra, sequestro, programa de proteção a testemunha ou qualquer uma dessas merdas. Ela tinha alguém que a amava, não era mais uma criança, e não precisava de mim. Ninguém precisava.

Pai?

E a voz dela surgia de novo. Como se ecoasse por aquela mata.

Pai? Sou eu, a Moon.

Minha cabeça doía com aquela voz de adolescente dela. Estava tão diferente agora.

Achei um cara chamado Shawn.

E era eu mesmo. O cara mais mentiroso do planeta. Jogado numa casa de merda em uma cidade mais merda ainda. Tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe dela. Queria poder responder. Queria poder explicar tudo. Mas o sistema era falho e eu tinha que esperar. Invés disso fui tentar me reerguer. Infelizmente escondendo tudo que construí sem ela.

Runaway II - A New Frontier | Daryl Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora