Falar, ou quase...

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E eu gelei.
Quando vi ele parado na minha frente todo o discurso que eu tinha feito para convencê-lo a ser meu por livre e espontânea pressão foi esquecido.

Branco, pani no sistema, bug, paralisia, derrame, infarto....
Tudo junto.

Aqueles malditos, não, benditos olhos castanhos estavam me encarando confusos e ainda assim eram tão belos e tão complicado que, eu poderia agarrar ele aqui mesmo e...

Tenho me beliscar pra conter todos os pensamentos intrusivos que estavam prestes a me vencer

- E então, o que você queria falar?- ele parece tenso e olhando ao redor, mas com certeza não é por eu ter arrastado ele pra escada isolada do primeiro andar, a sós.

Como as meninas se declaram?
Eu sempre vi essas cenas em filmes. A menina se declara e dá uma caixa de biscoitos que ela mesmo fez, as vezes com uma carta também, e depois vai embora correndo, com vergonha e vermelha.

Talvez eu devesse usar o "hey cara, eu gosto de você, vamos sair" da Day.

Planejava fazer algo parecido, mas vendo ele aqui na minha frente, quero seguir o roteiro, mas também quero fazer algo desrespeitoso com aquela boca que por sinal está bem hidratada, e ao mesmo tempo desaprendi a falar.

- Moça, você está bem?- ele inclina um pouco a cabeça para conferir se eu não estou trezentas vezes mais pálida

- Quero me inscrever para participar do comitê estudantil!- disse no automático, sem pensar.

- Ah...o comitê? Eu posso falar com os outros membros sobre isso mas...porque?

Porque você está lá

- Porque acho que...vai ser bom para nós, digo meu aprendizado, e responsabilidade.- Entrego o sorriso menos suado que tenho na hora

- Sim...é um grande aprendizado...mas precisávamos falar disso aqui em cima? É um pouco quente...
E ele corou

Dessa vez eu fui com Deus.
Não fui não, se desmaiar vou fazer papel de idiota. Mas quase fui.

- Se sente desconfortável senhor Dilan? Por estarmos a sós?...- digo dando um passo a frente, o encarando mais de perto e dando um ar de inocentemente confusa.

Sinto a Meyle mesma querendo agir.
(Querendo encurralar ele na parede, só pra ver qual seria a reação)

- Ah não, não foi isso que quis dizer.- ele balança as mãos de forma defensiva e nervosa- É que aqui é realmente quente por causa do armazenamento ao lado-
Ele apontou com o dedo em direção a um monte de tralha velha dentro de um quarto.

- Eh...estou vendo- falo, desapontada.

- Bem, iremos ter uma reunião para discutir os assuntos sobre o comitê. Porque você não aparece? Seria bom pra entender as questões importantes e blá blá blá blá blá...- ele continua explicando sorridente sobre as coisas desse tal comitê.

Querido, eu não estou nem um pouco interessada nesse negócio.
Eu só tenho interesse em você.
Não dá pra ver?

- ...E então? Você vai poder ir?

- Ahn? Ah sim. Quer dizer, não. Mas você não poderia me dizer o que falarem lá?
(Adoraria ouvir sua voz de anjo narrando todas as coisas chatas que aconteceram nessa reunião desinteressante)

- Você é bem abusada não é?- ele dá um sorriso brincalhão e acho que está jogando comigo

- Oi? Abusada? Que audácia!

Eu ouvi a risada dele
E é oficialmente o meu novo som favorito

- Me dê sua mão- ele estende o braço e tira uma caneta do bolso.

Eu obedeço instantâneamente, chocada demais por esse mínimo gesto de interação, tentando não ficar de boca aberta

- Aqui meu número- ele termina de desenhar e guarda a caneta, soltando a minha mão - Posso te enviar um resumo e os formulários de inscrição por aí. Satisfeita, Meyle?

Ele disse meu nome. E esse nome fica bem na boca dele.

Talvez seja uma queda de pressão por não ter tomado café da manhã, mas sinto que vou desmaiar

- O que? Sim... não, quer dizer muito obrigada pela sua disponibilidade...e atenção...- E começou a gagueira.

Ele vai embora mas para no meio da escada para falar:

- Ei, quando quiser falar comigo de novo não precisa me chamar pra um lugar tão escondido. Basta apenas falar, certo?

Okay, vou te chamar muitas vezes então.

- Certo...

E ele foi-se, me deixando atordoada, quente, e preocupada.
Com que tipos de problema eu vou acabar me metendo por causa desse garoto?

E eu nem consegui dizer nada do que planejei.

Mas olha, eu tenho o número dele
Já vale a pena.
E eu ouvi a risada dele
Já vale completamente a pena.

Saio saltitando mais alto que uma cabra, feliz por saber que nossos filhos vão ser lindos se puxarem os olhos do pai.

Mas paro no meio do corredor em direção a minha sala ao ver ele de novo, mas dessa vez rodeado de três garotas que parecem animadas demais pro meu gosto.
E obviamente me escondo, porque não dá pra falar duas vezes com ele sem um heart attack.

Cochichos, risadinhas...porque elas ficam dando risadinhas? E porque ele ainda perde tempo com a baboseira delas?
Idiotas.

Ele finalmente vai embora e elas entram na sala. Agora posso entrar também.
Mas o rosto delas estão marcados.

Faço questão que recebam o convite para o nosso casamento, no banco da frente, e talvez eu até passe o buquê na cara delas...

Nada disso importa agora, pois parando pra pensar...
Porque eu fui me inscrever para o COMITÊ DO GRÊMIO DA ESCOLA?

Eu espero que o sistema pare e eu não consiga passar, que o avaliador pegue gripe e não veja a minha inscrição, ou que talvez...um milagre aconteça.

Eu já rejeitei as milhares de propostas para ser a representante da classe, e agora estou metida com o grêmio?
Esse garoto...

Não que eu não seja boa, mas há uma diferença entre tirar notas excelentes ou apresentar trabalhos a conseguir lidar com pessoas, responsabilidades e representar a escola.
Eu sou péssima nisso, e isso vai me deixar ansiosa.
Eu já estou.

Tudo culpa daquele garoto.

ShamelessOnde histórias criam vida. Descubra agora