Foco, Meyle!

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Sento na minha carteira derrotada, suada, triste e com fome.
Hoje tinha de ser segunda feira.

Ainda estou em choque pela mensagem de ontem, e venho evitando o pessoal do grêmio que insistem em me perseguir por aí.

Estava curtindo minha depressão, até ser atingida por um tapa na nuca e pela intensidade sei exatamente quem é.

- Bryan...você é idiota?- encaro ele, meu melhor amigo e mais irritante ser desse continente com os olhos fumegantes de raiva. Hoje não é um bom dia para as suas gracinhas.

- Haha, não me diga que é a tpm de novo!- ele se aproxima invadindo meu espaço pessoal e bagunçando minha mesa, assim como meu cabelo.

- Cara, eu só não te mato porque hoje eu estou sem forças- realmente não sei por quanto tempo vou conseguir fugir.

- Ih, o que foi?- sinto o tom irritante dar lugar a sua preocupação genuína, e nessas raras horas lembro do quanto gosto dele.

Não quero falar do grêmio, porque eu vou dar um jeito de sair. Quer dizer, de não entrar.

- Na verdade...não comi panquecas hoje. -Mostro a língua fazendo caretas pra ele.

- Ahrg, você é tão irritante menina. Poderia te enjoar a aula toda só de raiva - ele desfaz o ar preocupado e volta a ser o moleque de sempre.

- Realmente, você é o mestre em tirar alguém do sério

- Sou o mestre em te tirar do sério

- Eu te odeio

- Sei que me ama- a piscadinha irritável o faz ficar ainda mais irritante, tenho vontade de xinga-lo.
Mas pensando bem...

Viro a carteira para encara-lo de frente.

- Você está certo, eu realmente te amo muitão!- tento seduzi-lo com meus olhos piscantes e voz amendoada, fazendo um coração na esperança de que funcione

- Que merda é isso Meyle - ele me encara horrorizado com minha linda atuação

- Me empresta dinheiro?- finalizo o golpe.

- HA-HA-HA, eu não vou nem te responder

- Ah vai, não vai ser muito.- pisco trinta vezes por segundo, vai que isso amoleça ele

- Você me deve cinquenta da semana passada, se eu não contar os juros. E pelo amor de Deus para de piscar, parece que você tá tendo um derrame.

- Você não sabe mesmo como tratar uma garota, por isso não tem namorada. Quando uma menina pisca ela está fazendo código morse para tentar conquistar seus objetivos

- Não tenho namorada porque não quero, e em você parece derrame

- Eu vou te matar seu quadrúpede imbecil- pego meu estilete decidida a descontar minha raiva.

Corro furiosa atrás dele pela sala, e esbarro em alguns estudantes que ainda estão ali.
Ele corre para o outro lado de uma mesa, com a expressão mais irritantemente sapeca de sempre, mas para pra desferir afrontas

- Não era a mesma que estava me pedindo dinheiro nestante? Já desistiu?- ele cruza os braços, com um argumento muito convincente.

Abaixo minha arma, pois nem tudo na vida se baseia em orgulho.
Há coisas mais importantes.

- Pra que quer o dinheiro?

- Se eu disser, vai me dar?- já sabendo a resposta desisto e volto para o meu lugar, arrumo as coisas para tirar um cochilo. Ele vem logo atrás de mim.

- Não, mas quero saber.

- Vou comprar uma passagem para a Arábia Saudita, quem sabe vender camelos me faça rica.- tiro minha mini almofada da mochila decidida a tirar uma soneca de 45 horas até a próxima aula.

- Suas piadas são sempre tão idiotas.
É sério, pra que quer o dinheiro?

Antes de responder ouço sussurros vindos de fora, olho pela janela e avisto ele.

Seria um bela visão, se Dilan não estivesse acompanhando de Raiane kanner, líder do grêmio, da escola, e talvez até da cidade.

"É normal", repito a mim mesma.
Eles são do grêmio e devem ter assuntos a tratar.
Mas se fosse só isso, porque ela está ajeitando o cabelo dele?
Porque ambos estão rindo juntos?

Jogo minha almofada e não percebo que acerta em Brino, pois o meu foco está na terrível visão da janela.

Bendita Kanner.
Acho que demorei demais. Se eu tivesse falado naquela hora, talvez...

- Ei garota!- recebo um peteleco na cabeça, tinha esquecido que o poste continua aqui. - Ainda sou mais velho, não pode me tratar desse jeito.

- Quero algo muito melhor que dinheiro - sussurro sem perceber enquanto continuo encarando a cena que me dá azia.

- O que? Está tão pobre que tá alucinado?

- Hã?..Ah...eu quero comprar...um presente.

Um presente que tem olhos castanhos e que aparentemente estão querendo me roubar.

- Ah tá, achei que era algo importante. Bem eu vou indo...mas vou levar isso aqui - Ele pega meu saquinho de jujubas favoritos e sai correndo. Mas ele vai me pagar!

Me preparo para a aula, e me sinto motivada.

Eu vou entrar nesse grêmio.
A melhor maneira de conhecer o inimigo é ir no território dele.

Os problemas quase me fizeram esquecer, mas ver o vento balançando seus cabelos e sua risada tão doce me lembram o quanto eu quero ele.
E sempre há um preço certo?

Kanner bendita, me aguarde.

Vou atrás daquele garoto.

ShamelessOnde histórias criam vida. Descubra agora