Beijo flagrado

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- Eu amo você.
Aquele sussurro foi tão chocante ao ponto de me fazer perder a audição momentaneamente. Eu poderia muito bem estar delirando.

- Repita.- disse com olhos arregalados, incapaz de acreditar na pequena frase.

Ele se afastou do meu rosto para dar um pequeno sorriso e me envolver em um abraço gelado, já que ambos continuavamos encharcados.

- Eu falei que não iria repetir!- diz deixando de sussurar, sorrindo com água escorrendo por todo o rosto.

- Dilan, repita!- berro tentando sair do abraço apertado, tirando minha cabeça do seu peito aconchegante.

- Não posso, sou tímido mey...- disse corando com a cara mais sem vergonha já vista.

Me solto bruscamente do abraço dele e o encaro com o meu olhar mais assustador, que parece mais com o de um gato emburrado.

Ele olha para o céu respirando fundo, e cora até as orelhas.

- Tá...- ele serra os punhos e olha para mim- te amo.

As palavras saem um pouco engasgadas, mas aí pude acreditar que era real.
Ver ele corado, com um bico de uma criança birrenta que foi obrigada a dizer algo constrangedor contra sua vontade, a minha única reação foi rir.
De felicidade.

Rimos juntos da nossa cringisse romântica.
Quem se declara assim em pleno século 21?

Paramos por um momento e nos olhamos. Diferente, dessa vez um sentimento mais quente, tão quente ao ponto de dissipar o frio da minha pele.

Me aproximo um pouco, e mais um pouco, até ficar a centímetros do seu rosto.
Ele é lindo, muito lindo. De perto chega ser tentador.
Cada detalhe é perfeito, desde seu cabelo rebelde agora molhado, suas sombrancelhas finas, seus olhos castanhos que com certeza são minha parte favorita, seus cílios longos, seu nariz redondo e fofo, suas bochechas, suas pintinhas, suas marcas, sua boca...

Paro nesta última e vejo o quão macia e convidativa parece ser. Sinto como se a própria gravidade me empurasse para ali.

Coro violentamente, e, talvez alucinada pela febre, fecho os olhos e avanço sem aviso em sua boca fria.

Colo os nossos lábios sem saber ao certo o que fazer, e com medo de que Dilan se afaste de mim agarro aqueles fios negros encharcados.
Ele realmente fica chocado e consigo sentir isso pela sua respiração acelerada, mas ao invés de me afastar, ele leva uma mão a minha cintura, e a outra vira meu rosto, encaixando nosso beijo como algo perfeito.

Lento, com sabor de chuva e cena de filme. Assim foi o meu primeiro beijo.
Mas o mais importante, com Dilan.

Aproveito o momento, cada sensação e sentimento, para poder escrever em meu diário e contar aos nossos futuros filhos em detalhes como aconteceu.

Pareceu horas de tempo parado, o que é impossível, então ele relutantemente se afasta pois eu estava começando a ficar sem ar.

Abro os olhos, e vejo-o fazer o mesmo.
Pretendia dizer algo romântico ou engraçado para eternizar o acontecimento, mas um flash de celular atrai a minha atenção.

A infeliz ainda estava lá. Eu tinha esquecido completamente dela.
Apontando um celular para nós e tapando seu choque com a mão na boca, ela olha diretamente nos meus olhos e vejo um sorrisinho diabólico se formar em seu rosto.

- Dilan...- não precisa de muito para ele entender e olhar para a direção dela, vendo a mesma cena.

Ele parece ainda mais surpreso do que eu, que também parece ter esquecido da existência insignificante da garota que nem me dei o trabalho de saber o nome.

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⏰ Última atualização: Oct 06 ⏰

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