Engolido

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Eu estava simplesmente sentado, fazendo nada. O que seria fazer nada?! É simplesmente o que eu estava fazendo, oras. Será que não posso mais fazer nada? Se bem que foi no nada que o primeiro surgiu, não sei de onde. Apenas surgiu!

Corria de um lado para outro.

Corria em volta de mim.

Corria sem cansar.

Eu tentava apenas acompanhar, mas era bem inútil. E veio então um companheiro. Se eu lhe desse um nome com certeza seria ligeiro. Mais rápido que o anterior, passando desesperado por tudo que era lado. O primeiro, indignado, apressou logo os seus passos. Virou uma corrida e quem sabe até onde ia?!

Então de repente, também estava sentado ao meu lado. Um dos mesmos? Não, era outro sendo o mesmo. Mas, esse ficou sentado. Na verdade ficou grudado. Eu tentei tirar com as minhas mãos, mas ficou cada vez mais grudado e antes de qualquer desespero, veio o quarto.

Tive até que respirar porque o negócio parecia que iria ficar feio. Esse era confusão. Pesado e sem estilo, querendo quebrar tudo que havia no caminho. Seu peso não permitia mover-se livremente, mas também não impedia de se colocar sempre à frente. Dava medo, dava calafrio, mas eu ainda estava tentando tirar aquele grudado a mim.

E ainda assim veio outro.

Cabisbaixo e murmurando, mas nenhuma palavra se pôde ouvir. Ele era muito pequenininho e só o percebi porque ele veio até a mim. Com seus olhos tão raivosos, estagnado ficou ali. Eu tive a impressão que quando pisquei o olho, ele cresceu um pouquinho, mas acho que era só impressão minha e eu não tinha tempo de me preocupar com o pequenininho porque o próximo que chegou parecia até mesmo adiantado e talvez bolou um plano muito bem arquitetado.

Não era nada rápido como os primeiros, nem tão pesado como aquele outro. Grudado não estava a mim e seu tamanho não impressionava, mas eu sentia que algo ele preparava. Astuto andava, calculando cada passo e por onde pisava, um buraco era formado. Por fim eu percebi, que um círculo foi formado à minha volta.

E de repente, os primeiros estavam mais ligeiros, o pesado ainda mais pesado, o grudado ainda mais grudado e o pequenininho... ah, o pequenininho...

Ele já não mais existia...

Não que ele tenha sumido, na verdade foi o oposto. Seu tamanho estava quase o dobro do meu e a sala já parecia apertada. E se antes eu estava preocupado, agora estava desesperado. Pelo seu tamanho? Não, antes fosse, mas pela multidão...

Que multidão? A que saia dos buracos. Eram tantos, de todos os tamanhos, de todas as formas, de todos os jeitos, de todos os desesperos. Não dava mais pra caber mais algum ali, e o pequeno que era grande não tinha mais olhos raivosos, mas uma boca encharcada.

Uma boca, simplesmente.

E foi essa boca que voltou-se contra mim. Em meio a tanto desespero, engolido eu fui por inteiro, carregado com todos ali.

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