Ao longe

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Eu preciso resolver, eu preciso resolver. Tudo que preciso é uma solução ter.

Mergulhe

Se joga

Pensa

Raciocina

Imagina

Invente

Calcule

Resolva

Agora

Pra ontem

Mas uma solução terá que ter...

E em meio a um quarto silencioso e escuro, em meio ao tempo vagaroso e cruel, nada lhe restava a não ser pensar, e pensar doía como uma espada que lhe atravessa bem devagar. O corpo exausto do dia intenso não encontrava descanso em meio ao silêncio. Silêncio externo, todos dormiam, a casa descansava, mas a sua alma estava em gritaria. Resposta era tudo que queria.

Pensa, pensa, resolva isso agora, não importa a hora. Não importa o corpo, não importa o cansaço, não importa a mente. O que importa é resolver. Se desespere se preciso, mas uma hora terá que ter resolvido.

O corpo pesa, a mente viaja, e tudo que lhe resta é o nada. A sensação de nada. A sensação de ausência, a sensação de ter se desprendido.

Peraí, o que é isso? Como é isso?

Ainda estando presente no quarto silencioso e escuro, ainda que estivesse lá, por alguns instantes se sentia para cá. Distante, ao longe, como se não pertencesse a tal corpo. Não dá para explicar, apenas dolorosamente vivenciar. Movia um dedo para ter certeza que ainda era o mesmo. O fluxo continuava, mas a ausência se intensificava.

Socorro, vou me desprender! Com certeza, eu vou enlouquecer.

O corpo lhe doía, a alma se encolhia, e a noite parecia que não chegava ao fim. Quem dera pudesse descrever o que é se ver sobre a mente enfurecida. És tu não sendo, é você se desconhecendo, é o familiar sendo estranho. É a voz já perdida. A voz ao longe e distante, e sempre sofrida. Se volta quando não se sabe, mas se volta sem entender o que se passou tão tarde.

O rompimento tão amargo é o lembrete do perigo de mergulhar no risco de resolver o que não é possível.

VozesOnde histórias criam vida. Descubra agora