INFINITIVO PARTICULAR | VALU • STUPID WIFE

DESPEDIR

A festa de lançamento da terceira temporada de Stupid Wife estava a pleno vapor. O salão reservado no Copacabana Palace, repleto de rostos familiares, evidenciava a importância daquele momento para todos que participaram da criação dessa obra que estava mudando tantas vidas. Eu me senti feliz e confiante.

Elenco, equipe de produção, amigos, imprensa, influenciadores e patrocinadores — parecia que todo o Rio de Janeiro estava ali.

Eu havia deixado a serra e retornado à cidade carioca há dois meses. Passei as semanas seguintes na casa da minha mãe e compartilhei longas noites com minha irmã, desfrutando do conforto familiar que sempre foi o meu verdadeiro refúgio.

Desde o término das gravações, a comunicação com Buiar tinha sido a mínima possível. Participamos de algumas lives e entrevistas, mas a conexão íntima que compartilhávamos antes parecia ter desaparecido. Não havia mais aqueles olhares silenciosos, toques discretos ou a proximidade confortável de antes.

Esperei que Buiar me procurasse. Esperei uma conversa, uma explicação, qualquer tipo de fechamento que nunca veio. Então, decidi seguir com a minha vida. Fechei alguns contratos e aceitei uma participação em uma minissérie na Globo.

Ironicamente, a primeira pessoa para quem eu queria contar todas essas novidades era exatamente ela. Buiar foi uma parte tão importante da minha vida, nossa cumplicidade era tão verdadeira... a ideia de não tê-la mais em minha vida me deixava furiosa.

Cheguei ao salão de festas às 22h, acompanhada por Pâmela, minha irmã e amiga. Caminhamos pelo tapete vermelho, parando para algumas fotos. Eu estava deslumbrante, era totalmente verdade. Usava um vestido branco-prateado com um belo decote, a maquiagem marcante e os lábios vermelhos, quase como uma noiva sexy — achei que faria sentido para a noite.

Ao entrar, o ambiente estava fracamente iluminado e a música alta pulsava no ar. Havia pessoas dançando na pista e, ao redor, mesas redondas estavam espalhadas por tablado central, onde uma tela projetaria o primeiro episódio da série.

— Reis, que bom que você chegou. Seu lugar está reservado na mesa principal. Vem comigo — era Maya, assistente de produção.

Segui até o lugar indicado. Quando cheguei, nossos olhares se encontraram. Descrever sua aura parece redundância, mas, sim, Priscila Buiar estava maravilhosa. Ela vestia preto, um terno bem cortado com um decote desleal. O cabelo estava preso, deixando o pescoço livre para quem pudesse beijá-lo. Sorri lembrando do estilo de Valentina na faculdade.

Cumprimentei os presentes à mesa e sentei ao lado de Natalie, Pâmela me seguiu. Eu estava animada para celebrar o sucesso do nosso trabalho, queria saber de todas as novidades, todos os processos e aluguei um pouco a atenção da minha antiga diretora.

Mesmo me esforçando para ignorar, senti o olhar de Buiar sobre mim, ardente e confiante. Quase como se me desafiasse a olhá-la.

— Amiga, a Buiar perguntou por você a noite inteira — sussurrou Natalie, percebendo a tensão entre nós.

— Nat, a gente mal se falou durante esse tempo todo...

— Servida? — Um garçom apareceu com uma taça de vinho, que aceitei com desesperada gratidão.

Tomei um longo gole, tentando me manter confiante, quando meus olhos me pregaram uma peça. Foram atraídos pelo brilho cinzento dos de Buiar. Ela não desviava. Eu sorri e ela devolveu o sorriso.

Eu não me lembro como finalizei a segunda taça de vinho. Pâmela pediu para eu ir devagar. Mas como eu poderia fazer isso se a todo momento eu queria dizer algumas várias palavras bem desaforadas à Buiar?