SUFOCAR

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Após aquela cena intensa e emocionalmente carregada, encontrei-me em um estado de completa confusão. Minhas emoções, já emaranhadas pelo papel que representava e os sentimentos que nutria por Buiar, pareciam agora indistinguíveis. Sabia que precisava de espaço, de algum tipo de distância que me permitisse separar o que era real do que era ficção.

Nos dias seguintes, fiz o possível para manter uma distância profissional. Durante as gravações, limitava minha interação com Buiar ao estritamente necessário. Cada vez que nossos olhos se encontravam, um calafrio percorria minha espinha, lembrando-me do quanto tinha sido difícil reprimir os sentimentos durante as cenas.

— Você está diferente, Reis, — Natalie comentou um dia, enquanto ajustávamos os detalhes de posicionamento. — Tudo bem com você?

— Estou bem, só um pouco cansada, — respondi, desviando o olhar para não encarar sua expressão perscrutadora. Era parcialmente verdade; o cansaço era real, mas vinha mais do esforço emocional do que físico.

Natalie me observou com uma expressão de preocupação, mas pareceu aceitar minha resposta.

Após a gravação daquele dia, evitei o habitual encontro com o elenco para revisar as cenas. Em vez disso, retornei ao meu quarto, fechando a porta com um suspiro de alívio. Sozinha, permiti que minha fachada cuidadosamente construída desmoronasse um pouco, encarando meu reflexo no espelho.

— O que você está fazendo? — murmurei para mim mesma. A imagem que me devolvia o olhar estava pálida, os olhos um pouco mais tristes. Era uma atriz perdendo-se no papel ou uma mulher afogando-se em um amor não correspondido?

No restante daquela semana, mantive firme a minha resolução de me afastar. Fora do set, evitava os lugares que sabia que Buiar gostava, e nos momentos em que nossa presença era inevitável, cercava-me de outros colegas, utilizando-os como uma barreira invisível entre meus sentimentos e a realidade.

Um dia, após uma cena particularmente difícil, Buiar se aproximou de mim com um olhar preocupado.

— Reis, você foi incrível hoje.

— Obrigada, — respondi rapidamente, oferecendo-lhe um sorriso que esperava ser convincente.

Ela parecia hesitar, como se quisesse dizer mais alguma coisa. Mas eu não deixei.

— Eu vou... hm. Preciso ir ao banheiro — disse e me retirei.

Ao fechar a porta com um clique suave, apoiei-me contra ela, fechando os olhos enquanto tentava acalmar o tumulto em meu peito. O afastamento estava me custando mais do que esperava; cada interação com Buiar deixava um vazio que partia minha alma ao meio.



Naquela noite, enquanto todos comemoravam o fim de mais uma semana de gravações, isolei-me novamente em meu quarto, ponderando sobre minhas escolhas.

O afastamento era necessário, dizia a mim mesma, essencial para manter minha sanidade. Mas enquanto a lua lançava sua luz suave através da janela, permitindo-me uma rara quietude, questionava também se o preço a pagar não seria alto demais.

Nada disso parecia certo. Meus sentimentos não deveriam me dominar dessa maneira. Eu sou uma profissional, uma boa atriz. Não posso permitir que minhas emoções interfiram agora, especialmente quando esta é a oportunidade que eu tanto preciso.

— Reis? — reconheci a voz de Natalie. — Podemos falar?

— Claro, meu bem — enxuguei as minhas lágrimas.

Ela deve ter notado a minha apatia.

— Você está se sentindo bem? Quer que eu chame um médico?

"Não. Eu não estou bem. Estou desfalecendo. Em febre. Amando alguém que não me ama. E as células do meu corpo se recusam a fazer o que precisam para me deixar viva."

Se eu tivesse sido sincera, seriam essas palavras que sairiam da minha boca. Mas eu inventei alguma outra desculpa qualquer para ficar sozinha e longe dos olhos de Buiar.

— Descansa, tá bem? Eu vou ajustar a agenda de amanhã para ninguém te incomodar.

Natalie foi bondosa. Ela antecipou algumas cenas em que eu não participava para me dar folga no dia seguinte.

Aquela mansão onde estávamos foi alugada para a locação e abrigava quinze pessoas da produção durante o tempo das filmagens. Vivíamos como uma grande família, sorrindo, brincando, dançando e cantando também.

Já passava um pouco das 2 horas da madrugada quando eu finalmente decidi comer alguma coisa. Não iria conseguir adormecer de todo jeito e achava que todos já estavam dormindo.

Desci pelas escadas e fui até a cozinha. Comecei esquentando a panela para preparar uma omelete. Quebrei os ovos, adicionei os ingredientes e fiz a receita que meu pai havia me ensinado há tantos anos. Na consistência certa, desliguei o fogão e servi minha primeira refeição do dia em um prato.

— Sem sono?

Eu me assustei. Era a voz. Os olhos. O sorriso lindo que só ela era capaz de me oferecer.

— Não comi nada até agora, você acredita? — Eu sorri pequeno. Baixei meu olhar porque nessa disputa eu sempre perdia.

— Você precisa se alimentar direito, Reis — Buiar foi até a geladeira e pegou uma garrafa de água.

— Eu sei, Bubu. Hoje foi difícil...

— Estava fugindo de mim, certo?

— Quê? Como você—

— Eu estou brincando — ela sorriu com o meu desconcerto. — Não te vi desde a última cena.

— Eu estava indisposta.

— Você fez falta no meu dia.

Sorriso. Olhar. Novamente eu baixei meu semblante. Silêncio.

— Reis, — começou ela novamente, quebrando o silêncio com uma suavidade que me fez levantar os olhos. — Você quer me falar alguma coisa?

Aqueles olhos certamente sabiam da verdade.

— Eu não tenho nada a dizer, Valentina.

— Buiar.

— Hãn?

— Meu nome. Você me chamou de Valentina.

Eu fiquei quieta por um momento, sentindo o peso das palavras não ditas. A verdade estava ali, suspensa entre nós, mas eu hesitei.

INFINITIVO PARTICULAR | VALU • STUPID WIFEOnde histórias criam vida. Descubra agora