1 | 𝐀𝐑𝐈𝐀

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Eu estava sentada em meu beliche no Chalé 6, a luz suave do final da tarde filtrando-se pelas janelas altas e iluminando o lugar. Era possível ouvir as vozes dos outros campistas do lado de fora. Eu segurava nas mãos o livro que havia ganho de meu pai durante as férias, um presente precioso que eu devorava a cada momento livre que eu tinha.

As férias foram incríveis. Annabeth e eu passamos dias ensolarados em Miami com nosso pai, aproveitando uma oportunidade rara e abençoada pelos deuses: sem nossa madrasta nem nossos meio-irmãos, apenas nós três. Caminhamos descalças pelas areias quentes, deixando as ondas molharem nossos pés enquanto o sol dourava nossas peles. As noites eram preenchidas por risos e histórias compartilhadas à uma fogueira à beira-mar, o som das ondas como som de fundo para nossas conversas. Foram dias simples porém que me traziam boa memória. Agora, eu voltava à rotina do Acampamento Meio-Sangue.

Enquanto lia, senti meus cabelos castanhos caindo sobre o rosto e atrapalhando minha visão. Fechei o livro e coloquei-o ao meu lado no beliche. Levantei-me devagar e caminhei pelo chalé até chegar ao espelho pendurado na parede perto da porta. Peguei um elástico de cabelo da prateleira ao lado e comecei a prender meus cabelos em um coque. Quando olhei para o espelho, vi as mechas brancas que apareceram nos anos passados. Ainda não tinha me acostumado com elas.

As mechas brancas eram uma cicatriz do peso de segurar o céu. Sim, você leu certo. Alguns anos atrás, Annabeth foi sequestrada por Atlas e teve que segurar o céu. Nesse meio tempo, Artemis também desapareceu, e alguns semideuses e caçadoras foram enviados em uma missão para encontrá-la. Percy, namorado de Annabeth, e eu decidimos nos infiltrar na missão, pois não podíamos ficar parados enquanto ela estava desaparecida.

Percy e eu planejamos tudo com cuidado. Sabíamos que seria perigoso, mas estávamos determinados a salvar Annabeth. Nos juntamos ao grupo de semideuses e caçadoras sem que ninguém percebesse. Viajamos por lugares estranhos e enfrentamos muitos perigos, mas nada disso importava. A única coisa em nossas mentes era encontrar Annabeth e trazê-la de volta.

Quando finalmente chegamos ao lugar onde Annabeth estava, vimos uma cena horrível. Ela estava de joelhos, segurando o céu em suas costas, com uma expressão de dor profunda. O peso do céu era esmagador, e ela estava exausta. Sem pensar duas vezes, corri até ela e me ofereci para tomar seu lugar. Ela tentou protestar, mas eu insisti.

A dor foi imediata e intensa. Era como se, literalmente, todo o peso do mundo estivesse pressionando meus ombros. Cada segundo parecia uma eternidade. Mas, ao ver o alívio no rosto de Annabeth, soube que fiz a coisa certa. Ficamos lá até que conseguimos enganar Atlas e libertar Artemis. Quando finalmente nos livramos do céu, minhas pernas tremiam e meu corpo estava exausto.

Desde então, as mechas brancas apareceram no meu cabelo, lembrando-me constantemente daquela época. Mesmo pintando, elas nunca desaparecem. Mas, ao olhar para elas, lembro-me do que fiz para salvar Annabeth e não me arrependo.

Essa foi a única missão em que participei, e ainda como uma intrusa. Eu queria participar de outras missões também. Não que segurar o peso do céu e ver minha irmã quase morrendo de exaustão fosse algo que eu gostasse de repetir, mas eu queria ajudar, ser importante.

Ver os outros semideuses saindo em missões, enfrentando perigos e voltando com histórias incríveis me deixava com inveja. Eu queria fazer parte disso, provar meu valor e mostrar que podia contribuir. Não queria ser apenas a irmã de Annabeth, queria ser reconhecida pelas minhas próprias habilidades e coragem.

Annabeth voltava de uma missão todos os anos. Ela era vangloriada cada vez que retornava, e todos a amavam no acampamento. Eu ficava impressionada por ela não ser a conselheira do chalé. Ao invés disso, eu tinha esse papel. Talvez fosse porque eu sempre estava ali, sem ter nada para fazer além de ler um livro e participar das aulas de esgrima, que fui escolhida.

𝐀𝐄𝐆𝐈𝐒 | 𝐿𝑒𝑜 𝑉𝑎𝑙𝑑𝑒𝑧Onde histórias criam vida. Descubra agora