Capítulo 8

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Desperto com uma dor aguda no braço esquerdo e levo exatos dois minutos para perceber o motivo. Marcus dorme serenamente em cima do meu braço. Olho para ele por alguns instantes.

Marcus é o primeiro homem a estar dentro de mim desde que terminei meu relacionamento com Dante. E à primeira boca diferente nos últimos cinco anos que beijo. E preciso confessar que foi um dos melhores beijos que tive. O sexo não foi de outro mundo, mas ainda assim repetiria esta noite, pois já tinha começado a esquecer o quão bom é termos alguém dentro de nós. Não acredito que algum outro homem chegará aos pés de Dante, o que nós tínhamos era profundo demais, nunca jamais terei uma ligação tão marcante com alguém.

Puxo lentamente meu braço que ampara sua cabeça. Levanto-me sorrateiramente, recolho minhas roupas do chão e visto-as em um segundo. Saio do apartamento antes que ele dê pela minha falta e entro no meu.

Suspiro.

Ele não vai deixar-me em paz depois desta noite. De certa forma alimentei a esperança que havia nele. Ele me quer mais do que uma simples noite de sexo casual, eu sei disso pela forma como ele descansa seus olhos em mim e em como sente-se a vontade para deixar sair seus demônios.

Olho para o relógio na parede.

— Puta merda.

Corro em direção ao banheiro e num único segundo minhas roupas estão no chão e estou dentro do chuveiro. A água gelada desperta-me de várias maneiras. É uma sensação boa.

Perdi a virgindade aos dezessete.

Lembro até hoje do cheiro a cigarro e a sêmen da velha picape de Chase. Infelizmente, quando estamos apaixonadas não conseguimos perceber quando o cara é legal ou quando ele só é legal porque quer sexo. A maioria das meninas aprende isso da pior maneira. Eu aprendi da pior forma que o que as pessoas falam sobre perder a virgindade, é pura ilusão. Não houve tudo o que assistimos em comédias românticas ou lemos em livros. Não houve beijos ternos ou adormecer abraçados.

A maioria das pessoas coloca à perda da virgindade em um pedestal, como se tivéssemos passado por um ritual de ascensão. Inconscientemente, às minhas expectativas sempre estiveram presentes. E não, não senti nenhuma mudança, continuava a ser a mesma pessoa quebrada.

Visto-me em uma calça social preta, uma camisa branca e um sobretudo preto. Prendo o cabelo no alto e passo um pouco de óleo labial. Saio de casa com a bolsa em uma das mãos e as chaves do carro na outra.

— Bom dia, Luke.— sorrio para ele, que devolve o cumprimento com a mesma energia.

Gosto de Luke. Ele não é do tipo que tenta puxar assunto, ele mantém-se nas formalidades. Aprecio quem não sente à necessidade de falar. Estar em silêncio é uma obra de arte, poucas pessoas conseguem aprecia-lo.

— How you pick me up, pull me down, turn me 'round, oh, it just makes sense
How you talk so sweet when you're doin' bad things, that's bed (bed) chem (chem)
How you're lookin' at me, yeah, I know what that means and I'm obsessed
Are you free next week? I'd bet we'd have really good.— batuco o volante ao som de Sabrina Carpenter.

Não consigo precisar com exatidão o momento em que simplesmente parei de falar, quando a introspecção atingiu os meus ossos. Eu sei que não nasci introspectiva, a vida silenciou-me e ensinou-me a sobreviver através da solitude.

Foi gradual, ninguém prestava atenção enquanto eu falava, minha mãe nunca olhava os desenhos que eu fazia para ela, sempre que tentasse dar uma sugestão, era cortada. Então as pessoas começaram a afastar-se e cochichar coisas sobre mim nos corredores ou no refeitório. Quando somos crianças, esperamos que nossos pais estejam cem por cento disponíveis para nós. Esperamos que eles abracem nossos medos, escutem nossos pensamentos e entendam nossas dores. Quando não recebemos a atenção que devíamos, achamos que talvez a nossa opinião não seja tão importante assim. Que estar calado é melhor que nos expressarmos. E então nos tornamos um pouco mais velhos e percebemos o enorme estrago que foi cometido.

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