42. Seus fortes laços

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Fayeda convidou Wania para visitá-la. Ela também precisava de consolo. Ela não teve pais amorosos, não conhecia o amor de uma mãe. De certa forma, a perda de Yokel ressoava a lembrança em seu coração.

__Oi Wania, você veio rápido, entre!

__Faye minha flor como você se sente?

__Sozinha? - sorria com tristeza no olhar.

__Sozinha meu bem, e cadê Yokel? Não me diga que brigaram de novo.

__Não brigamos, mas aconteceram tantas coisas, temo que estamos nos afastando.

Ambas foram para o sofá para iniciar uma longa conversa. Fayeda contava animada que as duas já estavam namorando, lhe confidenciou que fizeram amor, que brigaram por causa da ex, que ela conheceu a mãe de Yokel e até de sua morte.

Wania também tinha uma montanha russa de sentimentos à sua frente. Ela acompanhava a instabilidade emocional do relacionamento das duas e queria ajudar.

__Fay, se lembra daquele dia que conversei com você? Te propus buscar ajuda espiritual para entender e melhorar seu relacionamento. Você não tem culpa do repentino afastamento de Yokel, na verdade ela se culpa pela perda da mãe e de outra perda que está marcada em sua alma.

__Eu encontrei um cartão de visitas de terapia espiritual, não sabia que era seu. Se eu puder ter paz e ser feliz com Yokel, farei tudo ao meu alcance. Mas como você sabe de todas essas coisas?

__Eu mergulhei no meu interior, havia muito de mim perdido no passado. Tudo que fiz foi resgatar minha alma e trazer para o agora, perdoando tudo que me machucou um dia para seguir em frente. Você se beneficiaria muito disso, suas dores emocionais seriam curadas.

__Por onde eu começo?

__Vou chamar minha amiga médium, a Marizete. Ela é quem conduz a terapia de regressão a vidas passadas. Se ela estiver disponível faremos hoje ainda.

Não demorou muito para a convidada chegar, era 15h da tarde enquanto preparavam um quarto para a terapia. Fayeda se deitou, fechou os olhos e deixou ser conduzida pelas palavras de Marizete, Wania começara sua oração silenciosa.

Fayeda voltava às imagens dela vestida como um soldado, dessa vez ela estava consciente de navegar em seu passado e todo seu corpo se arrepiava ao perceber que seus sonhos com Yokel um dia já foram uma vida. Ao seu lado um ser lhe acompanhava explicando detalhes. Era seu mentor espiritual, e Fayeda tinha obtido permissão para saber da verdade.

Ela reviveu o fatídico dia de sua morte, mas dessa vez não sofreu, os rostos que antes estavam embaçados se tornavam claros. O beijo de despedida que deu em sua mãe, o rosto triste sabendo que sua filha perderia a vida. Sua mãe naquela vida era Wania, o que fez com que lágrimas escorressem dos seus olhos. Ela pediu a espiritualidade para vir como amiga de Fayeda, já que não pode ajudar a filha naquela vida.

Depois ela partia em direção ao castelo, ao adentrar às portas reconheceu o príncipe Folke próximo da princesa Letpraset. Folke era Philar, mãe de Yokel. Agora ela entendia porque sua mãe desaprovava o relacionamento das duas, como mãe ela deveria amar Yokel sem posse, mas ainda não tinha aprendido, então ela foi levada pela espiritualidade para renascer de novo e ter uma nova chance de aprendizado. A princesa Letpraset era Yokel, tinha a mesma idade de Yokel na vida atual, era o momento certo de se encontrarem, do amor florescer novamente para curarem suas dores.

A princesa Letpraset tinha uma irmã mais nova, ela era sua amiga confidente, sabia de sua relação com a soldado e acobertava a irmã durante seus passeios amorosos. Sua irmã lhe amava verdadeiramente e queria sua felicidade. Nessa vida, ela poderia voltar a conviver com Yokel na figura de sua amiga Izes, que a apoiaria novamente.

Ao se deparar com o rei, sua feição a incomodou. Um sentimento de repulsa lhe doía por dentro. Era Pienfa. Ela ordenara sua morte na época. Nessa vida tiveram um relacionamento para que Pienfa deixasse de odiar Fayeda, mas a continuava machucando. Seu ódio atravessava o tempo e não podia ver Fayeda feliz com Yokel. Ela teve seu ego ferido, foi humilhada diante de todo reino e jurou vingança.

Revivendo a cena prestes a encontrar a morte, visualizou a face de seu açoitador. Era o rosto duro de seu pai. Ele nunca conseguiu se aproximar de Fayeda pela culpa, se deixou vencer pela bebida para lidar com a dor que sentia. Como o açoitador lhe tirara a vida, ele deveria dar a vida novamente a Fayeda para compensar.

Suas crises de despersonalização eram uma forma de lutar contra a dor do abandono. Depois de pedir que a princesa ficasse com ela e fugissem, ela não conseguiu suportar a rejeição e caminhou para a autodestruição. A princesa havia lhe pedido para esquecer tudo. Fayeda assinou sua própria morte quando decidiu naquela noite que confrontaria o rei.

As crises de pânico de Yokel era uma culpa não resolvida no passado. Ela recusou o amor de Fayeda quando às circunstâncias se fizeram difíceis. Ela não teve responsabilidade com os sentimentos de Fayeda e maturidade para se afirmar diante de seus pares, a deixando à própria sorte. Se culpava pela morte de sua amada, dando fim à sua vida com uma lâmina em seu peito.

Todos que estavam envolvidos na época estavam cientes que reencarnariam dessa forma. Foi um planejamento cuidadosamente acompanhado pela espiritualidade. Alguns se esqueceram de seus compromissos, outros poderiam ajudar uns aos outros a reescrever a história.

Seu mentor emitiu uma luz em direção ao seu peito e se foi. Fayeda voltava ao presente ainda impactada com tudo que viu. Ela suava frio e não pode conter suas lágrimas.

Wania foi ao seu lado e segurou sua mão. Fayeda a encarou com amor, tocou seu rosto e sorriu. Ela era a mãe carinhosa que Fayeda não teve a oportunidade de conhecer em vida. Agora sabia de onde vinham seus fortes laços.

Fayeda agradeceu a médium e se despediu dela. Pediu para que Wania ficasse lá aquela noite. Afinal, um novo mundo tinha sido apresentado a ela e ainda tinha muitas perguntas.

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