Entre Corações e Demônios

Capítulo 23

A casa de Uzui estava em festa, e a alegria pela notícia do bebê havia contagiado a todos. Risos, conversas animadas e celebrações enchiam o ambiente, criando uma atmosfera calorosa e acolhedora. Após algumas horas de comemoração, Misaki sentiu a necessidade de falar com um amigo que acabara de chegar de uma missão: Giyu Tomioka.

Ela procurou Giyu pela casa e o encontrou no jardim, um pouco afastado do tumulto da festa. Ele estava observando o céu, perdido em seus pensamentos, mas se virou ao ouvir os passos de Misaki se aproximando.

"Giyu," chamou ela suavemente, "posso falar com você um instante?"

Giyu assentiu, dando um passo para mais perto dela. "Claro, Misaki. O que houve?"

Misaki respirou fundo, sentindo a mistura de emoções que ainda borbulhavam dentro dela. "Eu precisava conversar com alguém, e você sempre foi um bom ouvinte. Hoje foi um dia cheio de surpresas e sentimentos."

Giyu inclinou a cabeça, um sinal silencioso de que estava ouvindo atentamente. "Estou aqui para ouvir, Misaki. O que aconteceu?"

Ela explicou a Giyu sobre a notícia de Uzui ser pai e como isso a havia afetado. Contou sobre a homenagem que Uzui e suas esposas planejaram fazer ao nomear o bebê em homenagem a ela e a Rengoku. Enquanto falava, as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto novamente, mas ela não tentou escondê-las desta vez.

"É muita coisa para processar," disse ela, enxugando os olhos. "Eu sinto tanta falta do Rengoku, e ouvir que Uzui vai estar mais ausente também é difícil. Mas ao mesmo tempo, saber que eles me consideram parte da família... isso significa muito para mim."

Giyu observou Misaki com seus olhos calmos e compassivos. "Você é forte, Misaki. Mais forte do que pensa. E é natural sentir-se sobrecarregada por tudo isso. O que Uzui fez é uma prova do quanto você é importante para todos nós."

Misaki sorriu um pouco, sentindo-se confortada pelas palavras de Giyu. "Obrigada, Giyu. Eu sei que preciso ser forte, mas às vezes é difícil. Ainda estou tentando encontrar meu caminho."

"Não precisa encontrar todas as respostas agora," respondeu Giyu. "Apenas dê um passo de cada vez. E lembre-se, você não está sozinha. Estamos todos aqui para você."

Aquelas palavras tocaram profundamente Misaki. Ela sabia que Giyu raramente falava sobre seus sentimentos, mas quando o fazia, era sempre sincero e significativo. "Obrigada, Giyu. Realmente, obrigada por estar aqui."

Giyu assentiu novamente, um leve sorriso no rosto. "Sempre, Misaki. Sempre."

Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas apreciando a companhia um do outro. A festa continuava dentro da casa, mas ali fora, no jardim, Misaki encontrou um pouco de paz e clareza. Com amigos como Giyu ao seu lado, ela sabia que poderia enfrentar qualquer desafio que o futuro trouxesse.

Após a revelação de Uzui, Misaki começou a passar mais tempo com Giyu Tomioka. Sua presença calma e solidária ajudava Misaki a encontrar um equilíbrio e uma sensação de conforto que ela tanto precisava. Eles treinavam juntos, compartilhavam refeições e frequentemente conversavam sobre suas missões e sentimentos. Porém, essa proximidade não passou despercebida por Sanemi, que começava a sentir um ciúme crescente, embora nunca admitisse isso abertamente.

Conforme as semanas passavam, o ciúme de Sanemi se transformava em raiva. Ele observava a amizade florescente entre Misaki e Giyu com um misto de frustração e ressentimento. Isso culminou em um incidente explosivo durante uma refeição compartilhada por todos os Hashiras.

Era um jantar tranquilo, com todos aproveitando a comida e a companhia uns dos outros. Misaki e Giyu estavam sentados juntos, rindo de uma piada que ele havia contado. Sanemi, sentado do outro lado da mesa, não conseguia mais conter sua irritação. Ele bateu a mão na mesa, fazendo todos olharem em sua direção.

"Será que dá pra parar com essa melação toda?" ele gritou, o rosto contorcido de raiva. "É irritante!"

Todos ficaram em silêncio, chocados com a explosão repentina de Sanemi. Misaki, surpresa e ofendida, levantou-se, encarando-o com firmeza. "Qual é o seu problema, Sanemi? Nós estamos apenas conversando!"

"Meu problema é essa sua necessidade patética de atenção," retrucou Sanemi, seu tom cheio de desdém. "Você é tão triste que precisa ficar grudada no Giyu pra não acabar se matando?"

As palavras cruéis de Sanemi atingiram Misaki como um golpe. Ela sentiu uma onda de dor e raiva subir dentro dela. "Como você ousa dizer uma coisa dessas?" gritou ela, os olhos cheios de lágrimas. "Você não sabe nada sobre o que eu estou passando!"

"Não sei?" Sanemi deu uma risada amarga. "Eu vejo você se arrastando por aí, tentando chamar atenção. É patético."

Giyu, que até então tinha permanecido calmo, levantou-se e colocou-se entre os dois, a expressão séria. "Sanemi, isso passou dos limites. Você não tem o direito de falar com Misaki assim."

"Ah, claro, o Giyu sempre tem que ser o herói, não é?" zombou Sanemi. "Por que você não admite logo que está desesperada e precisa de alguém como ele pra segurar sua mão?"

Misaki sentiu as lágrimas escorrendo pelo rosto, mas não se deixou abater. "E o que você sabe sobre estar sozinho e precisar de apoio? Você se afasta de todo mundo, empurra as pessoas pra longe! Eu pelo menos estou tentando não deixar a dor me consumir!"

Sanemi ficou em silêncio, suas palavras se dissipando no ar. A tensão na sala era palpável, e todos os presentes sentiam o peso da discussão. Finalmente, Sanemi virou-se abruptamente e saiu da sala, deixando Misaki e Giyu para trás, com os outros Hashiras observando em silêncio.

Misaki afundou-se na cadeira, sentindo-se esgotada e magoada. Giyu colocou uma mão reconfortante em seu ombro. "Vamos sair daqui," sugeriu ele suavemente. "Você precisa de um tempo longe disso tudo."

Ela assentiu, levantando-se com a ajuda de Giyu. Os dois saíram juntos, deixando a tensão e a dor da discussão para trás, pelo menos por enquanto. Misaki sabia que teria que lidar com seus sentimentos por Sanemi e a complexidade da situação, mas por agora, ela precisava de um momento de paz para se recompor.