Um Braço de Amor

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Escrito por MandrakeSafadin

Daniel estava sentado no banco do parque, observando as crianças brincarem no playground. Era um dos poucos momentos de paz que ele conseguia encontrar no dia. O som das risadas infantis misturado ao canto dos pássaros sempre o acalmava. Ele acariciava distraidamente o espaço vazio onde seu braço esquerdo costumava estar, um hábito que ele não conseguia evitar desde o acidente.

Perder o braço havia mudado muitas coisas na vida de Daniel. Ele precisou reaprender a fazer coisas simples, a lidar com a dor fantasma, e, o mais difícil de tudo, aceitar seu novo eu. Ainda que seus amigos e família o apoiassem, ele se sentia incompleto e vulnerável.

Foi nesse contexto que ele conheceu Rafael. Rafael era o novo fisioterapeuta na clínica onde Daniel fazia reabilitação. Com um sorriso caloroso e um olhar penetrante, Rafael irradiava uma energia positiva que era quase contagiante.

— Bom dia, Daniel! Pronto para a sessão de hoje? — perguntou Rafael, entrando na sala com sua prancheta.

— Pronto, como sempre — respondeu Daniel, tentando ignorar a aceleração súbita do seu coração.

As sessões com Rafael se tornaram algo que Daniel ansiava. Não era apenas pela competência profissional de Rafael, mas pela forma como ele fazia Daniel se sentir: valorizado, visto. A maneira como Rafael o olhava, como o encorajava, fez com que Daniel começasse a acreditar que ele poderia ser amado e desejado mesmo com sua deficiência.

Um dia, após uma sessão particularmente intensa, Rafael sugeriu que eles fossem tomar um café. Daniel aceitou, embora estivesse nervoso. Eles caminharam até uma cafeteria próxima, conversando sobre trivialidades. A certa altura, Rafael olhou para Daniel e disse:

— Sabe, Daniel, eu admiro muito sua força. Você tem passado por tantas coisas, mas continua firme.

Daniel ficou surpreso e um pouco embaraçado.

— Obrigado, Rafael. Acho que não tenho outra escolha, né?

— Mas você tem sim. Muitos desistiriam, se entregariam à dor e à frustração. Mas você continua lutando, e isso é inspirador.

Daniel sentiu um calor se espalhar por seu peito. Ele olhou para Rafael e, pela primeira vez, percebeu algo além da amizade e do profissionalismo. Havia uma faísca ali, algo que ele não tinha notado antes — ou talvez não quisesse notar.

O tempo passou e a amizade entre Daniel e Rafael se fortaleceu. Eles passaram a se encontrar fora da clínica, para caminhar no parque ou assistir a um filme. Rafael sempre estava lá para apoiar Daniel, mas também para mostrar a ele que a vida não tinha acabado.

Uma noite, após uma longa caminhada, eles se sentaram no banco do parque onde Daniel costumava refletir. O silêncio entre eles era confortável, mas carregado de emoções não ditas. Rafael se virou para Daniel, seus olhos brilhando à luz dos postes.

— Daniel, eu preciso te dizer uma coisa — começou Rafael, a voz baixa e hesitante. — Eu não sei exatamente quando aconteceu, mas... eu me apaixonei por você.

Daniel sentiu o ar escapar de seus pulmões. Seu coração martelava tão forte que ele tinha certeza de que Rafael podia ouvi-lo. Ele nunca tinha imaginado que alguém poderia se apaixonar por ele depois do acidente.

— Rafael... eu... — Daniel começou, mas as palavras falharam.

Rafael pegou a mão de Daniel e a segurou com firmeza.

— Eu sei que é muita coisa para processar, mas eu não podia continuar escondendo isso. Eu quero estar com você, Daniel. Eu quero te mostrar que você é incrível do jeito que é, que você merece ser amado.

Lágrimas encheram os olhos de Daniel. Ele nunca havia se sentido tão vulnerável, mas ao mesmo tempo, tão esperançoso. Com um gesto tímido, ele apertou a mão de Rafael.

— Eu também sinto algo por você, Rafael. Mas eu tenho medo. Medo de não ser suficiente, de não conseguir ser o que você precisa.

Rafael sorriu e se aproximou, tocando delicadamente o rosto de Daniel.

— Você já é mais do que suficiente, Daniel. Nós vamos enfrentar qualquer coisa juntos, um dia de cada vez.

E assim, sob a luz suave do parque, Daniel e Rafael se beijaram pela primeira vez. Foi um beijo doce e cheio de promessas. Promessas de um amor que não se importava com as imperfeições, que via além das cicatrizes físicas e emocionais.

Daniel sabia que haveria desafios pela frente, mas com Rafael ao seu lado, ele sentia que poderia enfrentar qualquer coisa. Pela primeira vez desde o acidente, ele acreditou que poderia ser feliz novamente, que ele merecia ser amado e que tinha encontrado alguém que o amaria completamente.

Os dias que se seguiram foram preenchidos de risos, cumplicidade e amor. Cada toque, cada olhar, cada palavra trocada fortalecia o vínculo entre eles. Rafael ensinou a Daniel que o amor verdadeiro não via limitações, apenas possibilidades. E, com o tempo, Daniel começou a ver a si mesmo através dos olhos de Rafael: completo, capaz, digno de todo o amor que recebia.

A jornada de Daniel para a aceitação e amor próprio foi longa e difícil, mas com Rafael ao seu lado, ele encontrou não apenas um parceiro, mas um verdadeiro companheiro de vida. E assim, o parque onde tudo começou se tornou um símbolo de renascimento e esperança para Daniel, um lugar onde ele redescobriu a alegria de viver e amar.

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