Surgit •Chanlix

IV. Amigos?

Felix achava que aquele moleque era meio sem neuronios, porém, o Bang tinha até mesmo deixado uma barraca naquele lugar, escondidinha no canto onde não pegava tanto vento.

A vista da cidade lá de cima era absurdamente linda, por mais triste que fosse a situação de ambos.

E enquanto estavam sentados em silêncio, no meio de um monte de balas e garrafas de cervejas praticamente vazias, se sentia à vontade.

-Você tinha familia, Chris?- O Lee questionou, vendo o outro dar de ombros.

-Nunca fui muito próximo deles... Minha familia é extremamente... Ãh... Bom, eles seguem o conceito de cada um por si.- O Bang suspirou. -Depois que me mudei pra cá, não tive muito contato com eles. E você?

-Eu morava com a minha.- Felix sussurrou. -Até que nós nos davamos bem... Minha mãe era costureira, e meu pai tinha uma loja.

Chris assentiu, achava que aquele assunto poderia tomar um rumo meio deprimente, então, o melhor seria trocar aquilo, mas... Como?

Tomou mais um gole da cerveja quente, fazendo uma pequena careta, e então voltou à encarar o menino. Felix parecia ter uma personalidade bem diferente da dele.

-Tem alguma coisa que você gostaria de fazer?- Chris questionou.

-Como assim?- Lix o encarou.

-Sei lá... Temos o mundo inteiro. Literalmente.- Riu. -Alguma coisa que você nunca fez.

-Eu sempre quis ir ao planetário.- Deu de ombros. -E você?

-Nunca fui ao planetário.- O Bang disse. -'Tá decidido.

-O que?

-Vamos ao planetário qualquer dia.

Felix concordou, embora achasse aquele garoto totalmente sem noção. Tipo, quem era aquele cara? Por que ele parecia estar sendo tão legal sem motivo algum?

-Christopher.

-Sim?- O Bang se virou devagar para o encarar.

-Por que você está sendo tão legal?- Questionou. -Quer dizer... Acabamos de nos conhecer.

-Por que você pode ser a última pessoa que eu vou poder conviver.- Disse com total sinceridade. -Quero que sejamos amigos, afinal... Digamos que é minha forma de tentar fazer amizade.

Talvez Lix não fosse o melhor para opinar sobre aquilo, afinal, nunca foi muito bom em fazer amizades... Era o tipo de cara quieto que ficava na dele e apenas falava o necessário.

-Seria legal se fossemos à praia.- Chris comentou.

-A praia mais próxima deve ficar à quase uma cidade de distancia.- Felix riu baixinho. -É loucura.

-Eu sei dirigir e fazer ligação direta.- O Bang comentou. -Aposto que algum desses carros na rua deve ter combustivel.

-Marginal.- Felix riu baixinho, e Chris se sentiu orgulhoso de arrancar um minimo sorriso que fosse do menino.

Felix parecia tão absurdamente triste, e bom, Chris sempre foi muito sozinho, não entenderia de forma alguma o sentimento daquele ruivo.

Mesmo que nos primeiros meses tivesse se sentido assim, havia aceitado aquela merda de condição em que estavam.

Mas, Felix não parecia ter superado.

Não que achasse que algo daquele genero poderia ser superado com facilidade, de forma alguma, era foda imaginar tudo que podia ter acontecido, mas, fazia parte de sua nova realidade.

-Sabe...- Felix começou. -Quando eu era mais novo, geralmente depois de brigar com a minha familia por algum bobagem, eu desejava com todas as minhas forças que eles sumissem...

-Quando somos novos, falamos esse tipo de coisa sem pensar.- Chris disse imediatamente. -Eu também já desejei isso uma cota de vezes... É idiotice pensar nisso agora.

-'Tá me chamando de idiota?- Felix fechou a expressão.

-Não...!- Chris arregalou os olhos, assustado com a reação imediata do menino, mas, quando Felix começou à rir, entendeu que estava sendo tirado pra otário.

-'Tô só brincando.- O mais novo riu. -Não resisti, foi mal.

Chris suavizou a expressão de panico, por fim sorrindo com aquilo. Não imaginou que o ruivinho faria uma brincadeira daquele genero... Mas, estava de certa forma, aliviado.

Felix se ergueu, se esticando todo e caminhando até a barraquinha, se deitando em um dos colchonetes. Quanto tempo será que o Bang havia levado pra arrumar aquilo tudo?

-Não vai mesmo me matar enquanto eu durmo, né?- Felix riu baixinho.

-Juro que não.

E naquela noite, foi a primeira noite que Felix dormiu fora de casa, sem medo do escuro ou pesadelos, desde que todo mundo tinha sumido.

Podia parecer estranho, mas, já estava começando a considerar o Bang como um amigo.

Talvez o último que poderia fazer em sua vida.