Capítulo 2

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[ ROBERTO NASCIMENTO ]

A movimentação naquela sala chamava a minha atenção. A barulheira de telefones tocando, conversas fúteis fluindo e das teclas dos computadores me deixavam angustiado. Eu precisava de um descanso.
Depois de ter passado metade da noite em claro e com os olhos abertos por pura cafeína dessa madrugada, eu precisava de descanso.
Melhor, de um substituto, pelo menos por um tempo.
Pisco diversas vezes para aliviar a ardência nos meus olhos, que provavelmente estariam vermelhos ao canto. A enxaqueca por conta do jejum começava a me invadir repentinamente.

– Capitão? – O sargento bate na porta para que eu autorize sua entrada, logo acinto. – Está tendo uma reunião sobre a denúncia na última sala.

– Beleza. Obrigado por avisar.

O sargento apenas dá um aceno de cabeça fechando a porta em seguida. Jogo minha cabeça para trás da cadeira confortável e de couro em que eu estava jogado, suspirando fundo até sentir meu peito estufar totalmente.
Pensando quando essa merda toda iria chegar ao fim, quando os cidadãos dessa cidade ingrata iriam ter o mínimo de respeito com o BOPE. Nunca espero menos que respeito sobre meu batalhão, mas as coisas vem ficando mais complicadas da noite pro dia.
Levantando-me para a última sala, olho para a janela de vidro descoberta enxergando meus homens com seus corpos apoiados sobre a grande mesa de madeira, analisando um documento nas mãos de Neto.
Tinha alguém ali no meio. O porte de Neto não me deixava destinguir quem estara ali, mas se minha suposição estiver certa...
Sem pensar diretamente, abro a porta em um só empurrão, fazendo com que todos olhem para mim no mesmo instante.
Inclusive ela.
Porra, ela mexia com os meus sentidos cada vez mais, todos os dias, estando longe ou perto.
Sua feição era de espanto. Porém seus olhos brilhavam para mim mesmo estando levemente arregalados. Assim como eu não esperava a sua visita no batalhão, ela não esperava a minha.
A voz de Neto ecoa na sala logo ecoando na minha cabeça junto. Isso faz com que eu perca minha concentração no seu rosto angelical e sério, possivelmente fiquei alguns segundos encarando a mesma. E foram os melhores segundos que já admirei, mesmo não sendo suficientes.

– Não sabia que estava aqui no batalhão, doutora. – Ainda escorado na porta de aço, mantenho a voz firme, cruzando os braços para manter a postura ereta.

– Já estou de saída, capitão. Só trouxe isso para que o Neto assinasse.

Sua justificativa não era convencional, pelo menos não pra mim. Depois de passarmos a noite juntos, ainda sentia saudades?
Seus movimentos demonstravam nervosismo para sair dali, o efeito que causo nessa mulher me deixa impressionado em certas situações. Mas nesse exato momento eu a queria ali, naquela sala. Não queria que ela fosse embora por nada. Se eles não estivessem aqui dentro e agora, eu poderia puxa-la e beija-la.

– Capitão.

A voz da mesma sai de modo leve, quase como um sussurro. Um arrepio percorre em meus braços antes de dar a ela um pequeno espaço para sair.
Nossos corpos se tocam, sua proximidade faz com que eu sinta o seu hálito por pouco. A distância era mínima e com certeza ela estaria me xingando por dentro por conta disso. Óbvio, foi proposital.
Perdendo a garota do campo de visão, posso deixar meu corpo relaxado dando total atenção ao meus homens, perguntando primeiramente quando isso iria acabar.
Ter e ver Caroline quase todos os dias no meu batalhão era castigo, tortura, e eu não sei o quanto mais eu terei que me controlar em relação a isso.
André falava sem parar sobre a próxima operação e o quanto devemos ser cuidadosos para subir na favela da Maré. Enquanto sua voz se dirigia a ordens para os terceiros, pego meu celular no bolso abrindo rapidamente na conversa.

- Não pude deixar de te encarar dentro da sala.

- Quero te ver hoje. Os segundos que lhe encarei não foram suficientes.

Minutos se passam e não obtenho uma resposta, apenas a visualização. Caroline deixava claro o quanto nossa relação era insana, e eu deixava claro que a queria.
As chances de dar certo eram poucas, e diversas vezes demos muito errado. Mas sentir a adrenalina em minhas veias e nas veias dela, era pura diversão.

SOB SUAS ALGEMAS | CAPITÃO NASCIMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora