[ ROBERTO NASCIMENTO ]
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Podia sentir sua respiração quente próximo a minha boca, suspirando nervosa. Seus olhos estavam diante dos meus, não se desviando por nada, por alguns segundos ficaram ali procurando alguma coisa.
Ela não diria ou faria nada, e eu não queria correr o risco também.
Solto um suspiro perto do seu rosto, fazendo com que um mecha de cabelo se movimentasse levemente. Pisco diversas vezes para voltar ao meu eixo, virando o corpo exatamente onde estavam os pratos e talheres para começar o nosso jantar. Com as luvas em suas mãos, ela pega a panelas grandes avermelhadas - estando saindo fumaça de tão quente - pondo logo acima do balcão. Começo a montar ambos pratos com a quantidade mínima para nós dois, o silêncio na cozinha se estabelecia e apenas o sussurro do vento cantava ao nosso redor.
Pela movimentação do seu corpo e a forma como tentara arrumar o cômodo, dava para notar a tensão dos ombros e seu corpo rígido. Dou-lhe apenas um espaço, sentando de frente pro balcão no banco de metal, a mesma senta a minha frente soltando um suspiro de satisfação.–– Espero que o gosto esteja melhor que o cheiro. – Ela arqueia uma das sobrancelhas olhando discretamente para mim.
–– Se tem uma coisa que eu me garanto é na cozinha... – Digo pegando o garfo a minha esquerda, começando a enrolar o macarrão molhado aos poucos. –– E na cama também.
O copo de suco que estava em mãos se afasta da sua boca repentinamente, as pequenas gotas de suco cairam de seus lábios deslizando pelo seu vestido. Uma tosse surpresa é invadida, ela lança a mão ao peito para tentar aliviar o "susto".
–– Tudo bem?
Meu corpo fica rígido, prestes a sair daquele banco desconfortável e fazer uma pequena massagem nas suas costas. Parecia que havia uma barreira de espaço entre nós, em que não poderiamos nos encostar em nenhum centímetro. E queria poder toca-la de qualquer maneira.
–– Está sim. Só... – pigarreia – Me engasguei sem querer.
Acinto com a cabeça voltando a atenção ao prato de macarronada na minha frente. A arrumação estava de brilhar os olhos. O molho espalhado na massa fina, junto ao canto do prato alguns pedaços de frango temperado, as folhas de manjericão por cima do molho avermelhado...
Uma pequena fumaça saia do prato, enrolo um pedaço mínimo de macarrão no garfo de prata logo assoprando levemente, como se fosse um assobio baixo.
Os olhos de Caroline estavam na minha direção, guiando a minha movimentação do objeto em mãos até a ponta dos meus lábios. Ela faz o mesmo, enrolando uma quantidade pouca de macarrão, assopra por alguns segundos e leva a boca suavemente.
Um gemido é solto no ambiente quieto. Um gemido de satisfação.
Ela leva o punho fechado até a boca, deduzindo de que iria falar algo em seguida de boca cheia.–– Puta merda, isso tá uma delícia.
A mesma mastiga dando uma pausa para se deliciar com a comida esperada. Meus lábios repuxavam para o canto querendo sorrir com a sua reação inesperada, solto um ar pelo nariz tentando me conter.
–– Superei suas expectativas? – Pergunto mastigando devagar olhando para o seu rosto genuíno
–– Pode se dizer que sim.
Meus olhos sorriem, e como retribuição, seu sorriso aparece diante de mim. Pequeno, sem mostrar os dentes.
Senti meus olhos sendo hipnotizados por aquele sorriso, nada ali poderia me tirar daquela hipnose. Eu estava perdido na minha própria cabeça, lembrando de coisas passadas sobre nós. Acho que essa é a pior parte de estar brigado, de querer voltar no tempo para se concertar e fazer tudo de novo de maneira correta.
Quando me dei conta o sorriso tinha desaparecido e o ambiente ficou silencioso de novo para nós dois.
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SOB SUAS ALGEMAS | CAPITÃO NASCIMENTO
RomanceUm capitão do BOPE, uma advogada trabalhista e uma relação antiga. O passado sempre lhe puxa para o presente novamente. Seja uma relação conturbada, obscura..Ou com o homem que sempre foi o amor da sua vida em todos os quesitos. Correr o risco às ve...