[ ROBERTO NASCIMENTO ]
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⠀⠀Já estava mais que óbvio que ela não queria falar comigo, ou ao menos olhar na minha cara. Estava a caminho do seu apartamento enquanto a nossa conversa do chat permanecia aberta no meu colo.
Visualizada a 15 minutos atrás.
Ela pode ter pegado no sono. - penso
A pista do Rio durante a madrugada era como uma pista de corrida relativamente vazia e lisa, isso liberava a minha entrada fazendo com que chegasse no seu apartamento mais rápido. Passando por Jorge - que já me conhecia há anos - dou apenas um pequeno cumprimento, subindo para o andar da mesma. Caminho até a porta desejada, retiro o celular do bolso mandando outro SMS.
Vizualizada e respondida. Ela não estava dormindo.Eramos velhos demais para joguinhos como esse. Sempre fui sincero e direto ao ponto quando se tratava dela, quando se tratava de nós. Não conseguiamos manter distância durante tanto tempo, sempre havia algo que nos puxava para perto novamente. Como uma ligação, conexão...Seja lá o que for seja nesse quesito de destino.
Todas as noites me pego pensando de como a nossa relação mudou de antes para agora. Os tempos de qualidade agora eram diferentes e difíceis de comprometer, os beijos só se davam durante o sexo, e a paixão...Nunca foi embora do meu corpo, da minha mente, do meu coração.
Meus olhos tinham o mesmo brilho quando se tratava daquela mulher de vestido azul no bar de Botafogo. A mulher que caiu nos meus braços na roda de samba. A mulher que me beijou de modo prazeroso e satisfeito, como se precisasse disso para sobreviver. E o sentimento era completamente mútuo quando se aconchegava em meus braços toda noite.Minha cabeça estava um turbilhão, gerando até dores na lateral dela. Encosto um dos braços na porta sustentando o meu próprio corpo, enquanto permanecia com a feição baixa. Deixo uma linha fina se formarem em meus lábios, passando a mão pelo topo do cabelo como modo de frustração. E eu estava frustrado.
A sensação de briga era desgastante, e não tinha um dia sequer nessas brigas que eu não pensava em como me desculpar, em como faze-la me perdoar. No batalhão, meus pensamentos iriam até a ela mesmo estando tão distante ou no meio do morro. A razão pelo qual eu queria voltar vivo era para poder ve-la de novo, como a primeira vez.Olhando diretamente para o relógio no braço que estava apoiado, já haviam se passado 7 minutos desde que estava ali feito uma maldita planta, e ela não abrirá a porta de jeito nenhum. Passo as mãos pelo meu cabelo de novo, dessa vez dando uma pequena bagunça nos fios, logo virando as costas sem olhar para o número do seu apartamento.
Do elevador ao carro, me imaginei o que estaria acontecendo se eu não tivesse dito aquelas palavras por mensagem. O arrependimento sempre vinha até mim, e era como um puta soco no estômago.Na manhã seguinte, a primeira coisa que penso em arriscar quando acordo é lhe mandar um SMS. Minutos depois, ainda estava vestindo a farda enquanto nossa conversa permanecia aberta, tendo coragem para dizer algo. Quando me dei conta, estava encarando o telefone por tanto tempo que não ouço o barulho da buzina da viatura de André no meu quintal.
Estando dentro da viatura, André dizia sobre coisas que aconteceram no batalhão noite passada, mas meus ouvidos não estavam escutando. Eu não estava prestando atenção em nada do que ele tentara dizer no veículo.
O vento dava beijos no meu rosto estando próximo da janela, e mesmo assim, não aliviava a tensão sobre mim. Ainda pensava sobre ela e o quanto aquela situação me deixava puto. Isso fazia me dar grandes suspiros longos e inquietação durante a breve viagem.
Próximo a esquina do batalhão do BOPE, André para em um sinal para comprar uma garrafa de água. O clima hoje no estado matava qualquer um pelas ruas, me sentia completamente sufocado usando essa farda preta em dias como esse. Meu corpo inteiro se encontrava quente, sentia gotas de suor escorrer pelas minhas costas e testa. Não sabia discernir se era pelo calor ou pela raiva me consumindo aos poucos sobre situação passada.
Com os olhos nas ruas de pedra e sujas, meus olhos passeam por todos os rostos desconhecidos daquele calçadão, analisando cada movimento por puro tédio. Até perceber algo extremamente reconhecível. Ou melhor, alguém.
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SOB SUAS ALGEMAS | CAPITÃO NASCIMENTO
RomanceUm capitão do BOPE, uma advogada trabalhista e uma relação antiga. O passado sempre lhe puxa para o presente novamente. Seja uma relação conturbada, obscura..Ou com o homem que sempre foi o amor da sua vida em todos os quesitos. Correr o risco às ve...