Pov: Daniela
A primeira vez que eu subi a favela pra ir num baile funk eu não tinha a menor ideia do que estava fazendo. Não tinha a menor ideia de onde eu estava me metendo e no caos que causaria na minha vida uma decisão tão adrupta e maluca. A verdade é que era tudo culpa do meu pai, o governador do Rio de Janeiro, Eduardo Brandão, antigo coronel do Bope, claro antes dele casar com a minha mãe, uma das maiores herdeiras da cidade da indústria petrolífera.
Meu avô , quase teve um infarto quando descobriu que minha mãe, Clara Morreira Salles, estava se casando com um derrapado sem família rica, que não tinha aonde cair morto, que veio do BOPE, um mero mortal que não vinha de berço e fortuna milionária e que já havia uma filha de outro relacionamento. Um mero coronel da caveira. Meu pai era um homem ambicioso comprou sua escalada social ao se casar com um herdeira e minha mãe perdidamente apaixonada casou com ele escondido da família fugindo de casa de madrugada e despertando a fúria de meu avó que quase a desertou da herança da família. Ficaram por cinco anos sem ter contato nenhum com a família da minha mãe, Clara trabalhando de babá e meu pai de coronel do Bopé, um posição alta e que oferia uma vida confortável pros dois, entretanto, para meu avó era uma ofensa a boa reputação da família. Desde de pequena cresci ouvindo que mulheres da família tem a tendência a gostar de vagabundos, de pobretões e quem não presta, como se fosse uma maldição que carregássemos na genética. E mal sabia eu que não iria escapar deste destino. Muito menos minha irmã.
Quando meu avó descobriu câncer de pulmão se sentiu obrigado a perdoar minha mãe por tanta desobediência e por ter perdido a oportunidade de ter se casado com alguém de seu nível social e que não rebaixasse o status da família, ainda achava um absurdo uma outra filha a tratando como bastarda que nem no século 13. Minha irmã, mesmo não sendo filha da minha mãe, mesmo não sendo da família que circulava a maldição de vagabundo, como diziam as más vozes e cochichos da família. Ela engravidara aos 17 anos de um traficante e fora expulsa de casa, Laura foi jogada no olho da rua sem nem uma mala ou muda de roupa pra levar. Nem telefone, sem contatos, sem ninguém para a ajudar. Sem mais nem menos perdeu tudo o que tinha na vida, eu era pequena na época, tinha apenas 12, não a vi sendo enxotada e muito menos sem um real na conta. A única coisa que eu sabia era que o pai era um traficante de algum morro, que provavelmente ela iria atrás dele e depois entraria em contato comigo. Ela nunca entrou em contato comigo, nunca deu sinal de vida, nunca mais tive notícias da minha irmã. Meu pai nem mencionava o nome dela, era como se ela realmente não existisse, nunca fiquei sabendo o que realmente aconteceu com ela. Eu sabia que ela estava provalvelmente ela havia ido até a casa do traficante, um cara comum do movimento, ponta baixa e pedido seu apoio, tido o bebe e arrumado um emprego em um supermercado, restaurante ou estava fazendo faxina na casa de alguém. Ou talvez o marmanjo a tenha mandado embora sem querer saber da gravidez e ela ficou completamente sozinha e sem norte pra se apoiar com um bebê tão nova na barriga. A partir daí comecei a busca incessante pela minha irmã, comecei a espalhar cartazes pela cidade, a procurar seu paradeiro com todos os conhecidos e amigos dela, entretanto, a verdade é que todos que éramos próximos fecharam a mão pra ela. Ela não era mais rica, não era mais influente, não era mais da alta sociedade, estava gravida e sozinha e foi assim que aprendi que entre os ricos não há quem se possa confiar, o interrese predomina. Os que ainda tiveram a decência de me responder diziam que não sabiam absolutamente nada dela e ainda contavam a desculpa que meu pai usará para seu sumiço, estaca fazendo faculdade de relações internacionais na Nova Zelandia.
Assim que me formei entrei na faculdade de artes cênicas pela manhã e fazia publicidade e propaganda a noite , já sabia que minha mãe me colocaria assim que formasse na diretoria das empresas dela, eu gostava do curso. Não tinha problemas com eles, pelo contrário, mas passar a minha vida trabalhando nisso era tedioso demais e eu insistira pra fazer artes cênicas. Eu queria atuar, interpretar vilas e mocinhas, fazer peças de teatro, escrever e montar roteiros. Eu queria algo pra chamar de meu, que eu não ganhasse de mão beijada, algo que meus pais não pudessem me tirar como tiraram de Laura. Algo que comprasse a minha liberdade para que eu não fosse marionetes nas mãos deles, se a carreira artística não funcionasse eu ainda poderia trabalhar com Marketing e explorar este lado criativo.
Meus pais acabaram concordando contato que eu fizesse outro curso que fosse compatível com as empresas que um dia eu teria que trabalhar, as empresas deles. Meu pai enriqueceu tanto, mas tanto que dinheiro e nome, já não eram mais o suficiente. Ele queria mais, muito mais e o poder começou o rondar. Ele sentia falta de mandar e desmandar que nem nos tempos de Bope e o respeito que isso lhe atribuia, foi quando teve a brilhante ideia de se candidatar a prefeito do Rio de Janeiro. Perdeu feio na primeira candidatura. Até que na segunda vez se aliou com um novo partido, usou o nome a carreira que construiu nos dez anos que trabalhou na caveira para conquistar o público, respeito e votos.
Estava eu me arrumando com mais quatro amigos para mais uma sexta-feira à noite após a última aula do curso para subir o morro para um novo baile de favela, eu tinha esperança que em um destes bailes eu esbarrase com Laura. Para os outros riquinhos que estudavam comigo subir morro era um ato de rebeldia, perigo e um êxtase do caralho. Para mim era quase que uma chance de reencontrar com minha irmã e a rever, eu sabia que ela tinha que estar em uma favela. Sabia muito bem que era um traficante que a havia engravidado e ela estava caidinha pelo cara, eu sabia que ela subia o morro para o ver. Sabia como havia se conhecido, ela havia o conhecido quando havia a começado a fumar maconha. Os meninos subiam o morro pra comprar droga, ou os traficantes os enviavam por moto a droga e ela passou a fumava constantemente em casa, na escola escondido, nas atividades extracurriculares como vôlei e hipismo. O Rio de Janeiro tinha 763 favelas segundo o último IBGE, ou seja, eu tinha que procurar em muitos lugares e ela era simplesmente irrastreavel na internet, contas com seu nome ou rastro. Era como se ela tivesse desaparecido do planeta Terra e eu sabia muito bem que ela não sairia da cidade. Então eu aproveitava os bailes funks para a procurar e quanto mais íamos de comunidade em comunidade mais difícil parecia a encontrá-la. Foi numa dessas que a merda explodiu. A maldição me alcançou no meio dessas andanças e o BOPE não perdoa mulher de bandido....
A música tocava estourando nossos ouvidos no Morro da Babilônia, dominado pela Terceiro Comando Puro, fomos de Uber até a praia na metade do Leme, fomos caminhando animados e para a noite, segurando nossos energéticos e bebidas. Fomos subindo e estava lotado, fui procurando os os olhos as pessoas procurando qualquer rosto que se assemelhasse com minha irmã e com as horas passando acabei desistindo, talvez não fosse para ser hoje mesmo. O baile estava completamente agitado, diversos carros com som estourando no talo do batidão do mandelão tocavam a todo volume estacionados na rua, a festa acontecia entre ruas apertadas e becos tudo muito junto e diversos copão de 700 ml de dose de whisky, energético e um gelo com sabor de coco, maracujá eram vendidos a rodo. Bebida era derramada e recebíamos banhos de bebida a cada batidão da música, a fezta estava fervendo, galera dancando loucamente e nas pontas ficavam os traficantes dos morros com suas armas enormes apontadas pra cima dançando e vigiando qualquer movimentação suspeita. As vezes estouravam algumas brigas e tinhamos que nos afastar, até que eu conheci um cara. Pedro. Mais conhecido como Dinho. Começamos a ficar, quanto mais ficávamos mais próximos fomos ficando e ficando. Estar com o cara era estar com divertido, ele era animado, sabia conversar e um doce. Nos estávamos mos ficando em todos os bailes da Babilônia e estar com ele nos dava uma segurança a mais, comecamos q entrosar com os crias do morro e ele estava me ajudando conversando com amigos de outros morros na procura da minha irmã. Ele tinha uma apelido dentro do morro, era chamado Zé dinho, eu não entendia muito bem, porque, mas eu apenas ignorava. A cultura da galera do morro era muito nova para eu entender a fundo e eu estava focada em encontrar a minha irmã e curtir o paredão dos bailes. Eu havia ficado conhecida no morro como a princesinha do zé dinho, com apenas uma semana saindo com o cara. Como eu e minha amiga não éramos da região juntamente com todos os outros turistas e chavamos atenção e como estávamos marcando presença praticamente de quinta a domingo todos os dias nos bailes ficamos conhecidas. Mas eu não tinha passado a noite ainda na casa do Dinho, foi na primeira noite dormindo lá que as coisas desandaram absurdamente....
Acordei assustada em uma casa que parecia mais um galpão do que qualquer coisa, um quarto escuro com paredes verdes musgos onde só havia a cama. Acordei ainda enjoada sem entender como havia parado ali, não me recordava de ter ido pra casa de ninguém e Joaquim, amigo de Dinho, abriu a porta do quarto entrando e falando:
" É nois, Danizinha. Tomar um boró agora 0800 para rebater essa ressaca sua ai. "
Ele me entregou uma cerveja e um misto quente e deu um longo gole na dele e eu perguntei o que havia acontecido ontem e como eu havia parado ali.
"Poucas ideia o fim do baile ontem, aqueles menó não seguraram a barra com PM lá em baixo. Pm querendo entrar em morro com baile é ramelar demais, querendo morrer. Você não lembra, não?"
Eu assenti sem entender nada e percebi que estava apenas de calcinha e sutiã e automaticamente me escondi com o lençol e ele riu da minha cara:
" Tava tendo o baile lá e começou a brigaida né, os Pm veio subi junto com a barca, os cara já tirou a peça né. Ai começou a correria."
" Ahhh sim.... "
"Começou a disparar um monte de tiro e começou a correria e as pessoas escorregando e caindo no chão e quase sendo pisoteada na confusão e todo mundo começou a tirar as facas do bolso."
Eu fiquei em silêncio chocada tentando recordar por alguns instantes.
" É, Danizinha. Aposto que no Leblon não tem esse entreterimento pra você, não, hein."
O Dinho desceu sem camisa, fiquei pensando se finalmente havia rolado e me deu um beijo demorado, pegou a minha cerveja da minha mão e perguntou virando a latinha inteira:
" Vai beber mais, moça? Você fraga que a gente teve que te trazer para cá de tão bebada que você ficou, né? Enquanto vocês gritava desesperada sobre aonde estava sua amiga entre as balas e os policia tentando prender alguém sem levar uma. Chega de copão pra você, deselegante o rolê todo ,hein"
Ele deu uma larga risada e eu o acompanhei fingindo custume e fiquei procurando minhas coisas, meu celular, minha bolsa, meu carregador, meus documentos e carteira. Cade até as minhas roupas? Virei pro lado meio em pânico, eu tinha aula, tinha aula teórica de Cenografia e provavelmente estava mais do que atrasada.
" São quantas horas? Nós encontramos a Luiza na confusão toda? Meu Deus, ela tá bem?"
Joaquim tirou o celular do bolso e olhou enquanto enfiava o sanduíche guela a baixo e murmurou cuspindo algumas migalhas sem querer:
" Umas nove da manhã. Sei lá, não sei quem é essa."
" Tá suave, Dani. O Manuel catou ela e levou ela pra casa dela depois que a barra limpou, tava muito assustada, depois acalmou. Esses trem aqui no morro é direto, não sei como ninguém ensinou vocês duas como dar fuga que vai dar merda."
Puta merda. Nove horas eu já tinha perfid a aula de cenografia e ainda não chegaria a tempo da próxima aula começar, Expressão Corporal e Sonora da professora carrasca que não deixava entrar atrasada em sua disciplina.
" Ok, eu e o Joaquim temos que resolver umas parada lá em cima com uns aliado, aqui tem banheiro se for tomar banho e tem toalha debaixo do armário da pia e tudo o que você precisar." Ele me puxou para um beijo, me fazendo ficar arrepiada e avisou cochichando no meu ouvido" Volta a dormir mais um pouco, na humildade ,se eu voltar aqui e você não estiver mais sem roupa, vai ter briga. "
" As ordens, Dinho. Nem compensa mesmo ir para aula, vou dormir mais um pouco."
Ele assentiu e enquanto se levantava e ia em direção a porta o rapaz disse fazendo voz de mistério:
" Pega a visão, tenho noticias da sua irmã viu, um parça meu descobriu, encontrou ela"
" O que?"
" A sua irmã..."
" Aonde ela tá? Como ele conseguiu?"
Um cara que eu nunca havia visto desceu, um cara extremamente magro, absurdamente magro e cheio de correntes douradas desceu e falou puto da vida:
" Salve quebrada, Joaquim e Dinho ,puta que pariu, sobe logo caralho, tão querendo tirar uns dias? Tão de sacanegem, rala"
E os dois subiram sem dizer mais nada apagando a luz e só me restou voltar a dormir esperando empolgadamente notícias da minha irmã.
Acordei novamente, o meu cérebro deveria ter calculado uma hora e dez minutos depois. Acordei ao som de tiros e mais tiros, coisas se estilhando em mil pedaços e gritos de terror nas ruas e no andar de cima. Não havia pra onde correr, só havia um banheiro, um corredor que levava a escada e a escada em espiral que levava para cima. Pensei se conseguiria trancar a porta do banheiro quando me toquei que facilmente podia se arrombar a porta e os tiros passariam direto pela porta. Fechei os olhos enquanto os disparos não cessavam e escondi debaixo do lençol torcendo para acabar de uma vez e por um milagre, eles não conseguissem descer.
Depois de uns dez minutos de fuzilamento e mais quebrarias, escuto passos apressados e ensurdecedores descendo com toda velocidade a escada. Seis soldados vestidos de preto descem e escuto um cara mais perto de mim sendo perseguido por eles. Ele entra com uma pistola de 9 centimetros sangrando bastante cheia de ferimentos dos cacos de vidro e eu entro em desespero. Eu não sabia quem era aquele homem e porque as pessoas que estavam lá em cima estavam atrás dele e se ele as tinha matado ou se eu iria morrer junto. Eu me recusava a morrer tão perto de reencontrar minha irmã, logo, quando o Dinho havia descoberto aonde ela estava. Droga, o Dinho, o Dinho estava lá em cima, será que ele estava vivo? Será que ele tinha sido ferido? Joaquim? Será que ele estava morto?
O homem fedido se aproxima e ao me ver solta um sorriso amarelo e demonstra os dentes esburacados, apodrecidos e uns cheios de ouro e dá um sorriso ordinário que me arrepia inteira, eu corro para o mais distante possível com o lençol que ao voar não cobriu muito do meu corpo:
" Parece que a princesinha do Dinho perdeu a coroa, agora tá sozinha, princesa. Eu vou morrer, mas antes eu vou aproveitar também um pouco disso tudo...."
O sujeito desdentado pega a pistola de nove centímetros e vem com tudo em minha direção me puxando pelos cabelos tentando me arrastar para o banheiro e vai descendo a mão pela minha coxa, ele tenta tirar o cinto e ele se apressa ao ver os homens lá em cima atirrando se apressando e ele diz:
" Você vai vim comigo e não tem ninguém aqui para te proteger, seus amiguinhos estão todos mortos. "
Um tiro vem voando e decai sobre a cama passando há 18 centímetros de nós dois enquanto ele me arrasta aproveito o susto e me solto o dando uma cotovelada. O cara nojento perde o equilíbrio e cambaleia para trás e começa a atirar descontroladamente em direção a escada em vão, a escada em espiral faz as balas baterem e voltarem no corredor e corro para a debaixo da cama na tentativa inutil de me proteger. O vão entre a cama e o chão não é grande o suficiente para eu conseguir entrar, então me resta ficar abaixada aguardando. Escuto mais gritos e passos enquanto os tiros intensificam:
" Cade ele, porra? Eu quero desmembrado esse filho da puta. Esses PM vagabundo não dá conta de nada mesmo, vem fazer festinha em baile funk achando que tem moral e nós temos que mandar esses filho da puta pro cemitério."
O cara nojento tem um surto e percebe que sua munição está acabando e tenta procurar mais no banheiro e continua atirando, os homens de preto invadem o quarto e mais vozes ecoam pelo cômodo e escuto ordens para os caras avançarem e vasculharem tudo:
" Cade aquele filho de uma puta? Vamo meter bala nesse filhos de uma puta, mete bala mesmo."
Rapidamente os homens de preto baleiam o homem sem dentes, que cai ainda tentando resistir e invadem o quarto berrando procurando por mais alguém:
" Mãos pra o alto, mãos pros alto aonde eu posso ver, filhos da puta. Tá querendo morrer, tá pedindo pra morrer? "
Um deles puxa o homem pelo pescoço, o arremessa no chão e mete o soco:
" Cade o chefe??? Cadê aquele filho de uma puta? Aonde ele está?"
Mais uma leva de socos e voltam a perguntar aonde estava o chefe e eu permaneço petrificada no meu lugar e com o coração na boca. Um dos rapazes de farda preta foi de preocupado para alarmado, exaltado e agitado a mil por hora em questões de segundo. Era como se uma descarga de adrenalina tivesse atingindo seu corpo e ele não parava de ficar mais e mais sobressaltado ainda e meteu mais porrada no cara fazendo seu rosto ficar vermelho sangue e eu não conseguir definir aonde tinha saído tanto sangue consigo ler seu uniforme estava escrito Neto e ele berra:
" Cadê o dinho? Tá pedindo para morrer? Quer ir para o saco? "
" Eu não sei. Eu não sei. "
O ar era cortante, não conseguia respirar direito, tinha tanto vidro do espelho e capsulas de bala no chão, confiro meu corpo e apenas meus pés estavam feridos e sangrando. Minhas veias ferviam de exaltação, o sangue parecia se perder em meu corpo e parar de circular, eu pudia sentir meu coração gritar dentro do meu peito assistindo tanta violência em tão pouco tempo quando antes tudo estava uma calmaria.
" Eu não vou perguntar de novo, vou arrancar a sua orelha na faca."
Outro policial de farda preta aparece e percebo uma caveira em seu uniforme, homens do Bope, aqueles eram soldados do Bope.
" Capitão, os corpos lá em cima, como procedemos?"
" Bota na conta do Papa, Andre. Esse monte de filho da puta tem que agradecer que eu não enfiei o canivete neles e tirei pedaços, apenas meti o fuzil. "
O cara insiste em não responder e ele berra apontando para mim encolhida na canto da sala, a qual antes eles haviam ignorado minha presença:
" Ela sabe. A menina sabe."
Todos os olhares da sala me fuzilam e automaticamente dou um passo para frente ainda agarrada no lençol cobrindo meu corpo. Um cara do fundo da sala, alto, bonito, forte, abre espaço entre os outros do batalhão e me analisa de cima para baixo inspecionando ou querendo detectar qualquer ameaça debochando:
" Essa menininha ai de vinte anos, vai saber alguma coisa, filho da puta? Não fode. Leva ele para saco."
" Sim, senhor capitão."
" Mãos para o alto, menina, larga essa porcaria ai. Armas no chão se você souber segurar uma."
O homem nojento berra e grita enquanto é arrastado e tem sua cabeça engolida por uma sacola plástica:
" Ela sabe...... Ela é.....gen...te grande.... Sabe aon..de el....Ela sab..." Sua voz é tomada pelo desespero e seu corpo se debatendo tentando vencer a falta de ar e eu não movo um dedo. O capitão berra gritando de novo e fala:
" Tá maluca, garota? Tá maluca? Mãos pro alto?"
Olho para baixo e vejo mais uma vez que estou só de sutiã e calcinha rosa choque, a roupa íntima mais cavada e aberta possível diante de sete homens desconhecidos sabe se lá onde. E não me mexo mais uma vez, eu não queria largar o lençol e que todos aqueles homens me vissem seminua.
" Larga, menina. Tá querendo ir para vala, também?"
Eles tiram a sacola plástica da cabeça do desdentado e ele berra tentando a todo custo tomar folego:
" Eu já disse que eu não sei, eles sairam daqui há algum tempo.... Eu não sei para onde foram."
O Andre pega a cabeça do rapaz e arrasta até o banheiro e o afoga contra a privada por alguns minutos e o faz falar de novo, quando o vagabundo solta:
" Ela é a putinha dele.... Ela deve saber... ela com certeza sabe."
" Capitão Nascimento, ela é a mulher dele."
E o capitão explode gritando:
" Se ela é a porra da mulher do chefe do morro, ele deixa a porra da mulher dele para trás? Nem fudendo. Nem vagabundo é tão burro. Tira essa porra de lençol agora."
O capitão Nascimento veio em minha direção com fúria e ódio arrancando o lençol do meu corpo em uma puxada, seu rosto estava a quatro centímetros de distância do meu com uma expressão faminta pela vitória no jogo psicológico, a tensão estava no ar.
Eu pudia sentir a fúria do olhar dele sobre o meu, podia sentir a enorme pressão e tensão do corpo dele se encontrando esbarrando no meu. Seu rosto a há pequenos três centímetros do meus e o soldado perguntando nervoso sem tirar os olhos do meu corpo por um instante:
" Você então é a cachorra dele, então?"
A tensão sexual entre nós naquele momento era gritante, alarmante, berrante, cortante e incrivelmente curiosa. Como se uma pequena faísca fosse detonar em um imenso Boom a qualquer instante. Ele fuzilava meus peitos, meus quadrils como se tivesse me vendo completamente nua, como se ele pudesse ver por dentro das minhas roupas e fosse me devorar ali mesmo. Seus olhos passeavam pelo meu corpo com urgência. Ele se aproximou mais ainda e cravou os olhos com fúria nos meus perguntando apontando pro meu rosto novamente se eu era a mulher do chefe do morro e aonde caralhos Dinho estava e e sustentei o olhar com intensidade, eletricidade, o desafio correndo nas veias, magnetividade e uma fúria reprimida dentro do meu peito e disse cinicamente:
" Eu não sei , capitão. Como você mesmo disse ele não deixaria a mulher dele aqui e fugiria pro Bope acabar com ela. Muito menos esse nojento ai no chão que tentou me agarrar antes de morrer na mão de vocês ."
Ele deu uma rizada larga e tentou manter o foco longe do meu corpo um pouco:
" Tá de sacanegem? Você veio fazer o que aqui? Veio tomar uma água na casa de traficante? Veio pedir uma xícara de açúcar na casa de vagabundo no meio do morro?Essa ligerie ai sua tá bem cara para uma menininha aqui da favela, tá querendo enganar quem?"
" O capitão está entendendo muito de ligerie pro meu gosto, que curioso, gosta de moda por um acaso." Eu debochei tentando ganhar tempo, ai se meu pai descobrisse dessa confusão que eu me meti e se ele sonhasse que eu estava atrás da minha irmã em baike de favela.
" Entender de moda, não, cachorra. Mas já comi e tirei muita roupa de mulher. Tá achando que somos palhaços? Tava desfilando essa sua cintura pequena para traficante?"
" Eu vim para o baile funk com a minha amiga."
Uma salva de gargalhadas invadiu o cômodo e todos os soldados riam enquanto o desdentado estava desmaiado no chão por conta da falta de ar:
" Até que você é bem gostosa para ser a mulher do chefe do morro mesmo. Gostosa para caralho,não é não batalhão? Tá de parabéns, que corpo, mas vai precisar mais do que isso para livrar a sua fussa do Bope."
Minha paciência ferveu, e instintivamente levantei a mão e certei um tapão na cara do Capitão daquele batalhão do Bope e disse completamente fora de mim mesma:
" Cala a sua boca para falar de mim, tenha
respeito e respeita a farda que você usa. Você tem o que o dobro da minha idade, tá velho demais para isso não?"
O silêncio dominou a sala e ele não se mexeu e vejo o sangue escorrer de seu nariz e ele colocar a mão no rosto vendo o sangue sair, ele fica em choque, eu estou em choque, os soldados estão em choque. Ninguém se mexe, todos estavam perplexos, eu simplesmente batera na pior situação possível no capitão do Bope. Uns instantes depois um rapaz sai lá de trás já com o murro pronto e vem avançando com toda velocidade, dou alguns passos para trás em resposta já morrendo de medo das consequências e o Capitão começa a rir murmurando chegando cada vez mais perto do meu rosto ficando novamente há cinco centímetros de distância de mim e consigo até sentir seu alito fresco:
" Você é marrenta e abusada, hein, menina. Tem medo do perigo, não?"
O cara que estava vindo murmura: "eu vou quebrar a sua cara, vadia" e vem avançando, o capitão pega a mão dele no ar sem a menor dificuldade e ordena sem tirar os olhos dos meus olhos:
" Se encostar um dedo nessa mulher vai assinar a lapide do teu caixão, Fábio, vo te achar até no inferno. Reviro essa porra de rio de janeiro atrás de vagabundo morto que nem você. Leva ela para delegacia."
" Tá maluco, capitão, a vadia te bateu. Ninguém nunca bate num capitão do Bope e sobrevive para contar história."
" É verdade, capitão. Ninguém nunca teria coragem de bater no senhor."
" Está tudo bem, é que eu gosto de apanhar de mulher bonita."
Ele se vira dando um sorriso vitorioso e todos caem na gargalhada e engulo em seco, o filho da puta abriu a boca para falar de mim de novo ....
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Sua cachorra
RomanceCapitão Nascimento achava que já havia enlouquecido dentro do BOPE até se apaixonar pela namorada do dono do morro, a filha do governador, Daniela também conhecida como a maior encrenca que o capitão já aguentou.