CAROLINA MARIA
— Relaxa, Maria. Estou brincando, não estou aqui porque quero sua ajuda. Vim conhecer o seu lugar.
Me arrependo instantaneamente em dizer qual era a minha sala, por isso que dizem que pessoas com fome não pensam. Roberto, sempre foi muito respeitador perante a mim, mas não posso negar que a sua presença vem me incomodando desde da última vez que o vi. Não sei o que responder, e por impulso apenas desvio a minha atenção da dele e abaixo para colocar a minha lancheira dentro do meu armário. Consigo sentir o seu olhar me queimar por trás, respiro fundo antes de me virar novamente.
Não nos vemos alguns anos e ao menos temos mais intimidade para sermos tratados comigo amigos. O que nunca fomos. Queria o convidar pedir para sair da sala, não aceito nem mesmo que a minha família venha me visitar ao meu trabalho, imagina alguém que já foi sexo casual.
Sua postura diante de mim mostra alguém que ele tornou, alguém que eu não reconheço mais.
— Sabe, tudo o que penso agora sobre você, é tudo o que já esperava — Roberto diz sincero. — Olha só, uma profissional e tanto.
Não sei o que dizer, além de um agradecimento, apesar de que gosto de surpreender as pessoas.
— Obrigada. Tem dias que são bem complicados por aqui, mas nada que chegue aos pés da sua profissão — Atenuo aquela tensão que se transformava, talvez seja apenas coisa da minha cabeça, já que ele se mostrava muito confortável na minha cadeira. — Como está a preparação para ser coronel?
— Sinceridade? — Assinto. — Duvido muito que o seu pai vai deixar o cargo tão cedo. Não me incomoda, tenho muito o que aprender com ele ainda.
— É verdade, ele não vai deixar tão cedo mesmo. Quando chegar a sua vez e vai chegar, pelo menos para a felicidade da minha mãe — Roberto rir. — Você vai precisar trocar aquela cadeira, a pobre com certeza não vai aguentar mais alguém por quarenta anos.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, minha porta se abre e revela o juiz Marcelo. Seu rosto tem um semblante sério, mas quem conhece, sabe a pessoa brincalhona e divertida que ele é. Conheci Marcelo em uma das suas participações em congressos quando eu ainda era caloura e vim visitar o Rio, ele foi muito educado comigo e com o grupo de pessoas que estavam ali para o recepcionar. Alguns anos depois, o reencontrei em uma audiência e comentei que o já tinha conhecido; agora estamos aqui, trabalhando no mesmo tribunal.
— Opa! Não sabia que tinha outra pessoa aqui — Marcelo diz, mas mesmo assim não faz questão de fechar a porta. — Volto outra hora?
— Não, tudo bem — Olho para Beto que tem uma expressão séria, ele não continua mais sentado na cadeira e sua postura está rígida. Agora em pé e passando a mão pelo cabelo, ele caminha até mim e me dar um beijo na bochecha.
O que foi que acabou de acontecer? Não consigo esbanjar nenhuma reação e nem percebo quando ele sai da minha sala. Marcelo entra e por um breve momento, parece analisar o local.
— Namorado? — Sugeri o juiz.
— Que?! Não. Ele é um conhecido da minha família — Respondo ainda imersa no que acabou de acontecer.
— Entendi. Mesmo que ele fosse, eu não iria te expor por aí ou condenar você.
— Nossa, fico muito grata mesmo se o senhor não me condenar — Será que esse é um bom momento para piada? Não sei, mas o homem na minha frente solta uma risada abafada. — O que trás a honras?
— Tenho um novo caso, algo especial — Sua postura muda rapidamente. — Queria conversar com você sobre ele e ia te chamar para almoçar, mas não te encontrei.
Estranho sua atitude mas guardo para mim, tento não me expressar diante a sua fala. Não sou acostumada com pessoas, superiores principalmente, me convidando para almoçar. Parece que existia uma hierarquia que você só se mantém prestativa e sorridente, nada além disso.
— Então, vamos se sentar — Ele caminha até a cadeira que fica de frente para a minha mesa e eu sento na minha, que agora, não parece tanto me pertencer assim. — O que eu deva saber?
— Peço desculpas, sei que você essa não é sua função. Só que da última vez que conversamos, gostei tanto do seu posicionamento que eu resolvi vim aqui pessoalmente. Devo abordar, que estamos falando sobre latrocínio, porém se tratando de um governante local bem popular.
— O senhor já tem uma opinião?
— Tenho, mas preciso manter em sigilo. O caso está sendo mantido em sigilo também, mas vai vim a público a qualquer momento — Marcelo cruza os braços na frente do peitoral. — Comentei com a assistência, mas quero saber o que você acha.
— Sobre vir a público? Que venha! Esse ano é de política, as pessoas precisam conhecer os seus candidatos. Só que se o senhor não quer o nome envolvido, passa para outra pessoa.
O homem diante de mim parece pensativo. — O cara tem um bom linguajar, e se eu te dizer que ele ofereceu dinheiro para uma pessoa?
Meu Deus! Agora estou assustada. Bom, isso é algo que acontece o tempo todo. Só que com o juiz do caso falando tão abertamente sobre, ainda mais se confessando para mim. Prendo a minha respiração sem saber o que dizer.
— Obviamente o lugar dele é na cadeia, mas os juris dele vem com bons argumentos — Infelizmente é assim, as pessoas que devem pagar por seus crimes se mantém do lado de fora, e nesse caso estamos falando de alguém que trata de representar os cidadão. — Mesmo que a palavra final seja minha, não é tão fácil deter esses caras.
Pude sentir medo na sua voz, mas resolvo dizer mais nada. Conversamos mais um pouco sobre outros assuntos referente aos casos, logo após ele se retirou porquê tinha uma audiência on-line.
Atendi mais duas pessoas durante o dia e foquei em alguns casos que chegaram on-line também para mim. A pandemia nos trouxe boas coisas, principalmente para quem não consegue ou não pode sair de casa. Uma pena que nem todos tem uma internet de qualidade e quando a ligação cai, a pessoa volta constrangida pedindo desculpas. Meu expediente acaba e arrumo as minhas coisas, saio da minha sala e vou me despedindo das pessoas da recepção e caminho para garagem, entro no meu carro e coloco as coisas no banco ao meu lado.
Meu celular conecta automaticamente na mídia do carro e escuto algum Podcast aleatório. Faço um retorno com o carro entrando no Aterro do Flamengo, e mesmo que eu passe aqui todas as vezes, fico encantada com a natureza. Com o verde que só o Rio pode proporcionar, e ao mesmo tempo o particularismo da arquitetura que carrega anos de história.
Aperto o controle que abre o portão automático do meu prédio e desço para a garagem, uso todas as minhas aulas da autoescola nesse momento, tenho pavor de bater na pilastra ou no carro de alguém. Meu prédio por si é comum e esteticamente igual a qualquer outro do bairro, com o seu único diferencial de ser cinco minutos longe da praia.
Entro na minha casa e tiro o sapato na porta dando alívio para os meus pés. Guardo as coisas na minha espécie de escritório e corro para o banheiro para tomar banho, encharco meu cabelo de óleo fazendo uma trança em seguida. Após o banho, troco de roupa por uma de academia, desço voltando para a área comercial e cumprimento o porteiro. Sinto a brisa do mar enquanto caminho para a academia que fica em outro bairro, não muito longe de casa. Não existe mais nada que me faz ordenar os meus pensamentos quanto malhar, mas hoje especial, por um desfavorecido beijo, consigo sentir a minha pele pinicar no mesmo local.
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MY KIND OF LOVE | capitão nascimento
FanfictionCarolina Maria, a filha do Coronel do BOPE se ver perdidamente apaixonada pelo novo soldado do seu pai, mas Roberto Nascimento pareceu prestar atenção na menina. Até que em um momento, após alguns anos, Carolina começa sua graduação em direito em S...